31.12.19

A LISTA DAS LISTAS

Uma postagem simples só para registrar os livros lidos desde 2010 até o infinito, atualizarei essa postagem enquanto houver internet, uma coisa interessante é ver a mudança nas escolhas das leituras ao longo do ano, por exemplo com relação a mulheres e homens e autores negros e não-negros.



Lidos em 2010:

  1. A Metamorfose
  2. Dizem que os cães vêem coisas
  3. O Livro das Ingnorãças
  4. Todos os fogo o fogo
  5. Os contos de Beedle, O Bardo
  6. Paulo Leminsk - Antologia
  7. O Triste Fim Do Pequeno Menino Ostra
  8. Bertolt Brecht: Poems, 1913-1956
  9. Estranhos sinais de saturno
  10. O Gato Preto
  11. Luna Clara & Apolo Onze
  12. Fabulário Geral do Delírio Cotidiano
  13. Primeiro Amor by Samuel Beckett
  14. O livro das perguntas - Pablo Neruda
  15. Angústia - Graciliano Ramos
  16. Bodas de Sangue - Garcia Lorca
  17. Esperando Godot - Samuel Becket



Lidos em 2011

  1. Rum: Diário de um Jornalista Bêbado - Hunter S. Thompson
  2. The Dark Side of the Moon
  3. Espere a Primavera, Bandini - John Fante
  4. O Gato por Dentro - Burroughs
  5. Howl - Allen Ginsberg
  6. Noites Brancas - Fiódor Dostoiévski
  7. O Aleph - Jorge Luis Borges
  8. O Estrangeiro - Albert Camus
  9. O Mundo do Sexo - Henry Miller
  10. O caderno rosa de lory lamb - Hilda Hilst
  11. Morte e Vida Severina - João Cabral de Melo Neto
  12. A Obscena Senhora D - Hilda Hilst
  13. Antígona - Sofócles
  14. Poemas Escolhidos - Emily Dickinson
  15. Pergunte ao Pó - John Fante
  16. Henry e June - Anais Nin
  17. Tristessa - Jack Kerouac
  18. Madame Bovary - Gustav Flaubert
  19. O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde
  20. Folhas da Relva - Walt Whitman
  21. Som e Fúria - William Faulkner (li 100 páginas)
  22. The great gatsby - Scott Fitzgerald (li em português, mas eu acho feio "o grande gatsby")
  23. A Mãe - Bertolt Brecht
  24. A história do Olho - Georges Bataille (melhor livro que li)
  25. Pina bausch - Fabio Cypriano
  26. Felicidade e outro contos - Katherine Masnfield


Lidos em 2012

  1. Crônica de um amor Louco - Bukowski (Lendo)
  2. 1933 Foi Um Ano Ruim
  3. A Morte de Ivan Ilitch
  4. A Redoma de Vidro [Sylvia Plath] lendo
  5. Cartas a Um Jovem Poeta
  6. E os Hipopótamos Foram Cozidos em Seus Tanques
  7. Elogio da Sombra (Jorge Luis Borges)
  8. Felicidade Clandestina (Clarice Lispector
  9. Imagens (Bergman)
  10. Lolita - Vladmir Nabokov
  11. Memórias Póstumas de Brás Cubas
  12. On The Road - Jack Kerouac
  13. Os Melhores Poemas de Bocage
  14. Poemas Concebidos sem Pecado
  15. Pop Arte
  16. Trópico de Câncer (Henry Miller)
  17. Vidas Secas
  18. Crime na Flor - Ferreira Gullar


Lido em 2014

  1. Hamlet - Shakespeare
  2. Crônicas - Bob Dylan
  3. Mutações - Liv Ullmann
  4. A Abadia de Northanger - Jane Austen
  5. Poéticas - Ana Cristina Cesar
  6. Rútilos - Hilda Hilst
  7. Poemas Malditos, gozosos e Devotos - Hilda Hilst
  8. A importância de ser prudente - Oscar Wilde
  9. Virignia Woolf - Alexandra Lemasson
  10. O Rinoceronte - Ionesco
  11. A lição - Ionesco
  12. As cadeiras - Ionesco
  13. A cantora careca - Ionesco
  14. Ciclones - Roberto Piva
  15. Primeiro Amor - Turguêniev
  16. O Amor Natural - Drummond
  17. Ensaio sobre a cegueira - Saramago


Lido 2015

  1. Fim de Partida - Samuel Beckett
  2. Pride and Prejudice
  3. Os Reis - Júlio Cortázar
  4. O Cão de Baskervilles
  5. Cenas de uma vida - jm coetzee
  6. Lavoura Arcaica - Raduan Nassar 
  7. Lanterna Mágica - Ingmar Bergman 
  8. Anna Karenina ❤ 
  9. Gabriela, cravo e canela
  10. Vestido de Noiva - Nelson Rodrigues 
  11. 4.48 Psychosis - Sarah Kane
  12. Dom Casmurro - Machado de Assis
  13. As Metamorfoses - Murilo Mendes 
  14. Mundo Enigma - Murilo Mendes
  15. Sentimento do mundo (1940, Drummond)
  16. Cartas do yage (1953-1960, William Burroughs e Allen Ginsberg)
  17. Livro sobre Nada (1996, Manoel de Barros)
  18. Navalha na carne(Plínio Marcos, 1967)
  19. Diante da palavra (1999, novarina)
  20. Dois perdidos numa noite suja(Plínio Marcos, 1966)
  21. O abajur lilás (Plínio Marcos, 1969)
  22. Warhol 
  23. Dias Felizes - Samuel Beckett 
  24. Notas Sobre o Cinematógrafo - Robert Bresson 
  25. Carta aos atores e Para Louis de Funès - Valère Novarina
  26. libertinagem e estrela da manhã - Manuel Bandeira 
  27. O Processo - Franz Kafka 
  28. Por Elise - Grace Passô 
  29. Congresso Internacional do Medo - Grace Passô
  30. Magra de Ruim - Sirlanney 
  31. Carta À D. André Gorz 
  32. O Livro do Desassossego - Fernando Pessoa
  33. Os Famosos e os Duendes da Morte - Isamel Canappele
  34. A Paixão Segundo G.H. - Clarice Lispector
  35. Cartas a Théo - Van Gogh
  36. Duzentos Ladrões - Dalton Trevisan
  37. Dois em Um - Alice Ruiz
  38. Onde Estivestes de Noite - Clarice Lispector
  39. Mensagens enviadas enquanto você estava desconectado - Raísa Cristina
  40. As coisas - Arnaldo Antunes
  41. Nêgro em Versos - Vários Autores
  42. A Via Crucis do Corpo - Clarice Lispector
  43. Indústria Cultural - Theodor Adorno

Lidos em 2016

  1. Andira - Raquel de Queiroz
  2. A África, meu pequeno Chaka - Marie Sellier (DLLM)
  3. Vozes Literárias de Escritoras Negras - Ana rita santiago (DLLM)
  4. Azul é a cor mais quente, de Julie Maroh (pdf) (DLLM)
  5. O Iceberg Imginário e outros poemas - Elizabeth Bishop 
  6. Esculpir o Tempo - Andrie Tarkovski
  7. Indústria Cultural - Thodor Adorno
  8. Poemas - Wislawa Szymborska(DLLM)
  9. A lista - Jennifer Tremblay
  10. A Casa de Carlyle e Outros Esboços - Virginia Woolf
  11. Primeira Poesia - Jorge Luis Borges 
  12. Ode Sobre a Melancolia e Outros Poemas - John Keats  
  13. Casa Devastada - Thiago Mattos
  14. Preciosa - Sapphire  
  15. Baladas - Hilda Hilst
  16. Entrevistas (Processos)
  17. A Mulher Desiludida - Simone de Beauvoir 
  18. A casa de bonecas
  19. Bufólicas - Hilda hilst
  20. Profissões de Mulheres e outro artigos feministas - virginia woolf
  21. A vida Privada das Árvores - Alejandro Zimbra
  22. Sem Titulo - Uirá dos Reis
  23. Desenhos - Sylvia Plath
  24. A Cabeça do Santo - Socorro Acioli
  25. Sejamos Todos Feministas -Chimamanda Ngoze Adichie 
  26. é claro que você sabe do que estou falando - miranda july 
  27. Quarto - Emma Donoghue 
  28. Um Beijo de Colombina - Adriana Lisboa
  29. Inéditos e Dispersos - Ana Cristina Cesar - releitura
  30. A Casa - Natércia Campos 
  31. Branca - Flor e Outros Contos - Ana de Castro Osório 
  32. Noor em nós - Bartira Dias de Albuquerque 
  33. O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde, Stanislas Gros (HQ) 34
  34. Compêndio Para o Uso dos Pássaros - Manoel de Barros 35
  35. Pagu - Lia Zatz 36
  36. Alguém que anda por aí - Júlio Cortázar 37
  37. Amores Surdos - Grace Passô 38
  38. O Teatro e Seu Duplo - Antonin Artaud 40
  39. Do Desejo - Hilda hilst 
  40. O Sol e o Peixe - Virginia Woolf
  41. Poesia - Francisco Alvim
  42. O Discurso “Faça Boa Arte” - Neil Gaiman
  43. Laços de Família - Clarice Lispector
  44. Zé Celso Martinez Corrêa
  45. As pequenas virtudes
  46. Use, é lindo, eu garanto - Leonilson
  47. Antologia de contos LiteraturaBr
  48. Tristeza no Benfica - Maria Deviane Agostinho
  49. Hélio Oiticica "O que é o Parangolé" e outros escritos- Waly Salomão
  50. Vermelho Amargo - Bartolomeu Campos de Queirós
  51. Cartas para a Minha Mãe - Teresa Cardenas
  52. Os Subterrâneos - Jack Kerouac
  53. Azul Corvo
  54. As Lendas de Dandara
  55. A Garota da Banda
  56. Persepolis
  57. Jóquei
  58. Quarenta Dias
Lidos em 2017
  1. Uma Duas
  2. Ciranda de Pedra
  3. Pina Bausch e o Wuppertal Dança-teatro: Repetição e Transformação
  4. Quarto de Despejo
  5. Emília Galotti
  6. As Boas Mulheres da China
  7. Negra nua Crua
  8. Mulher, profissão Mulher, Marli Piva Monteiro
  9. O Rei da Vela
  10. Orlando (3 meses lendo)
  11. Afrodite
  12. Milk and honey
  13. Performance Como Linguagem (70%)
  14. Somos Todas Clandestinas
  15. Pilulas Azuis
  16. O Declínio do Egoísta Johan Fatzer, Bertold Brecht
  17. Só Garotos, Patti Smith
  18. Vozes de Tchernóbil, Svetlana Alekseivitch
  19. Gran Cabaret Demenzial, Verônica Stigger
  20. Desmundo, Ana Miranda
  21. Voltar Para Casa, toni morrison
  22. the handmaid's tale, Magaret atwood
  23. O que é Dialética
  24. Drama como método de ensino
  25. Bordados - Marjane Satapri
  26. A Fugitiva, anais nin
  27. O que é Questão de Moradia
  28. Valsa com Bashir
  29. A Vida que ninguém vê - Eliane Brum
  30. Antologia Poética - Alfonsina Storni
  31. Teatro com: materiais ressignificados na imagem teatral
  32. Sobre a tirania
  33. Pedagogia da Autonomia (Saberes Necessários à Prática Educativa) - Paulo Freire
  34. Olhos d'água
  35. Van Gogh, o suícida da sociedade - Antonin Artaud
  36. Sobre a Fotografia
  37. o negro no brasil
  38. Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima (poesia)
Lidos em 2018
  1. Todos os Contos - Clarice Lispector
  2. Devoção - Patti Smith
  3. Coral e outros poemas - Sophia de Mello Breyner Andresen
  4. Jazz - Toni Morrison
  5. O que é empoderamento - Joice Berth
  6. A Mãe - Berolt Brecht
  7. Um amor Feliz - WIslawa Szymborska
  8. Quem tem medo do feminismo negro? - Djamila Ribeiro
  9. Os fuzis da senhora Carrar - Bertolt Brecht
  10. A revolução das mulheres - várias autoras
  11. O caminho de casa - Yaa Gyasi
  12. Dia bonito para chover - Livia Natália
  13. Desconstruindo Una - Una
  14. Um teto todo seu - Virginia Woolf
  15. Joquei - Matilde Campilho
  16. A poética
  17. O que é lugar de fala - Djamila Ribeiro
  18. A guerra não tem rosto de mulher - Svetlana Aleksievitch
  19. Amiga - Malena Saito
  20. A Mãe - Gorki
  21. Farol - V.A
  22. O que é cultura
  23. MAUS
  24. O martelo - Adelaide Ivanova
  25. A gaivota - Tchekov
  26. Todos os meus (ex) heróis são machistas
  27. A festa de Babette - Karen Blixen
  28. Antologia - Adilia Lopes
  29. Copacabana Dreams - Natércia Pontes
  30. Holocausto Brasileiro - Daniela Harbex
  31. Turismo para cegos - Tércia Montenegro
  32. O livro das semelhanças - Ana Martins Marques
  33. A preparação do ator = Stanislavski
  34. Volto Semana que vem - Maria Pilla
  35. O coração é um caçador solitário - Carson Mccullers
  36. Sou dona da minha alma - Nadia Fusini
  37. O quinze - Raquel de Queiroz
  38. Tambores pra n'zinga - nina rizzi
  39. o amante - margueritte duras
Lidos 2019

  1. um coração simples
  2. o papel de parede amarelo
  3. frango com ameixas
  4. carta ao pai
  5. no seu pescoço
  6. os detetives selvagens
  7. alguns poemas pervertidos e outros indecorosos
  8. Blasted
  9. O amor de Fedra
  10. sobre o trabalho do ator
  11. cadernos Teatro Máquina
  12. mamãe & eu & mamãe
  13. Um copo de Cólera
  14. Cleansed (Purificado)
  15. calibã e a bruxa
  16. Crave (Ânsia)
  17. O beijo e outras histórias
  18. A Origem do Mundo
  19. Revolução Laura
  20. Psicose 4:48
  21. Histórias de Cronõpios e de famas
  22. As alegrias da Maternidade
  23. Reivindicações dos direitos da Mulher
  24. A Compra do Latão
  25. A árvore de Diana
  26. Breve História Ilustrada da Xilogravura
  27. Os trabalhos e as noites
  28. O Alienista
  29. Olympe de Gouges
  30. Use alicate agora
  31. adulta sim, madura nem sempre
  32. o que é comunismo
  33. a amiga genial
  34. estudos sobre teatro
  35. Arte e Psicanálise
  36. Boca de Cachorro Louco
  37. SaraL
  38. pequenos burgueses
  39. 13 nudes
  40. O Ponto Zero da Revolução
  41. Fahrenheit 451
  42. Teatro completo vol. 3 - Bertolt Brecht
  43. O segundo sexo
  44. Mulheres, raça e classe
  45. antologia poética - bertolt brecht
  46. um corpo negro
  47. Geografia dos Ossos
  48. Ensaios sobre Brecht
  49. Liames
  50. 1984
  51. Minha irmã, serial killer
  52. abril despedaçado
  53. Mulher, Estado e Revolução
  54. Linha M
  55. Pequeno Manual Antirracista
  56. Só as Mulheres sangram
  57. Garotas Mortas
  58. Zonas Abissais
  59. As Andorinhas
  60. the bluest eye

22.12.19

Atualização da Maratona de Dezembro (Desesperatona)

Como o previsto, acabei mudando minhas leituras da maratona, e diminui a meta para 8 livros. A mudança se deu porque comecei a ler O Olho mais Azul, romance de estreia da Nobel Toni Morrison e simplesmente não consegui parar!! O outro foi The Catcher in the Rye (O apanhador no campo de centeio), um clássico que venho adiando ler há muito tempo e havia pegado emprestado um exemplar em inglês que vou precisar devolver no começo de Janeiro, também estou gostando muito desta leitura, os dois livros eu estou lendo em inglês, porque esse é um hábito que quero melhor em 2020 e porque não começar já?

Então. ficamos assim:

semana de 01 - 08

1. Só as Mulheres Sangram  (comecei a ler em 24/11)
2. Garotas Mortas (comecei a ler em 26/11)
3. Zonas Abissais 

semana de 09 - 15

4. As Andorinhas

semana de 16 - 22
5. O Olho mais azul 
6. The Catcher in the rye (03/01)

semana de 23 - 31

7. Um Defeito de Cor (08/01)
8. Eu sei porque o pássaro canta na gaiola (05/01)


atualizado em 20/01: LI TODOS \o/ não em dezembro, mas terminei. 

17.12.19

Só as mulheres Sangram - Lia Vieira



Só as mulheres Sangram foi publicado em 2011 e reúne 10 contos que giram em torno do cotidiano da população negra brasileira em diversos contextos. O livro surge como urgência de existir, denunciar e rexistir. Lia Vieira dedica sua obra a "celebrar a mulher que dói a dor de ser", "para aquelas que proclamarão, a cada dia, o fim da exploração e da opressão e se moverão sobreviventes em direção à liberdade". 

A escrita de Lia se apresenta como prosa poética, alguns contos nem sempre seguem uma forma mais tradicional do gênero. As personagens são heróis dos morros, das vielas e as vítimas da violência policial, mas também são homenageados antepassados, como no conto Rosa da Farinha. "Operação Candelária" é um conto escrito como ficção científica, mas que faz referência à chacina da Candelária, um dos mais fortes. Para além das denúncias sociais, a importância do livro se dá pela representatividade de protagonistas negros e negras na ficção brasileira, há por exemplo um conto sobre um romance breve entre dois escritores negros num evento literário em Havana, num mundo em que todas as capas dos romances de Nicholas Sparks são com pessoas brancas, falar do amor entre pretos importa.  

Numa sociedade em que mais da metade da população é negra, mas não são os escritores negros os mais lidos, como podemos falar em conhecer literatura brasileira se o que é mais lido não representa essa parcela? 

Numa matéria do El País, a pesquisadora e professora Regina Dalcastagnè mostra dados sobre o assunto e afirma: "Talvez eles não sejam editados porque são sempre encarados como uma literatura de nicho. Por que a literatura de um homem branco, de classe média, é considerada universal e a de uma mulher negra não seria?”, comenta a pesquisadora.

Na matéria temos os dados "Entre 2004 e 2014, apenas 2,5% dos autores publicados não eram brancos. No mesmo recorte temporal, só 6,9% dos personagens retratados nos romances eram negros, sendo que só 4,5% eram protagonistas da história. E, entre 1990 e 2004, o top cinco de ocupações dos personagens negros era: bandido, empregado doméstico, escravo, profissional do sexo e dona de casa"

Autores negros por falarem de racismo ou escolherem escrever sobre sua cor, criarem protagonistas negros não são só para leitores negros, não são literatura de nicho, assim como nunca se questionou se só pessoas brancas devem ler escritoras brancos. Não podemos afirmar conhecer a literatura brasileira quando tão poucos escritores negros são referenciados. 

Lia Vieira é doutorada, tem mais duas obras individuais e participou de diversas antologias. 




16.12.19

Garotas Mortas



Quando criança, quase adolescente, a pequena Selva Almada ouviu no rádio uma notícia sobre o assassinato de uma mulher, ocorrido perto de onde ela morava, esta notícia, mesmo sem todo o raciocínio crítico de mais tarde, já impressionou a escritora, ao imaginar que: ela poderia ter sido a vítima.

Ao longo do livro, que é descrito como jornalismo literário, a escritora argentina escolhe 3 casos de feminicídio (palavra que ainda não é nem reconhecida em todos os dicionários) ocorridos nos anos 80 na Argentina para se questionar sobre as condições de violência que todas as mulheres estão expostas simplesmente por serem mulheres. Os casos relatados são de certa forma "aleatoriamente" escolhidos, poderia ser qualquer um, poderia ser ela mesma, é o que une cada leitora e a própria escritora de forma intima as vítimas desses assassinatos - todos sem resolução até hoje. 

Não há uma linearidade na narrativa, a autora entrelaça memórias pessoais, como quando pedia carona no caminho da escola, ou uma história de quando o pai tentou bater na mãe dela, também seus relatos ao decidir escrever o livro e a busca pelos familiares das vítimas ou informações que a fizessem juntar as peças dos casos, mesmo sem nenhuma intenção policial. Em algum momento percebi que ela procurou reviver essas histórias não na tentativa de solucionar algo, que já parecia perdido - ou que na verdade é mais do que encontrar um culpado - um culpado abstrato personificado nos assassinos: patriarcado.
Segundo Christine Delphy e, "Dicionário Crítico de Feminismo": 

“Patriarcado” é uma palavra muito antiga, que mudou de sentido por volta do fim do século XIX, com as primeiras teorias dos “estágios” da evolução das sociedades humanas, depois novamente no fi m do século XX, com a “segunda onda” do feminismo surgida nos anos 70 no Ocidente.

Nessa nova acepção feminista, o patriarcado designa uma formação social em que os homens detêm o poder, ou ainda, mais simplesmente, o poder é dos homens. Ele é, assim, quase sinônimo de “dominação masculina” ou de opressão das mulheres. Essas expressões, contemporâneas dos anos 70, referem-se ao mesmo objeto, designado na época precedente pelas expressões “subordinação” ou “sujeição” das mulheres, ou ainda “condição feminina”. (fonte: qg feminista)


É a partir dessa noção que Selva Almada vai mostrando que a violência feminina na sociedade patriarcal que vivemos - no mundo todo, em alguns lugares em níveis maiores que os outros - fazem parte do cotidiano de meninas e mulheres de forma extremamente naturalizada. É ao se dedicar a escrever sobre 3 casos já esquecidos e sem solução que a autora tenta resgatar a memória das vítimas e de tantas outras esquecidas pela ideia de que "nada podemos fazer" e dizer: nossas vidas importam!

Quando que meninas começam a ter essa noção de mundo? A ideia assustadora e quase paralisante de que podemos ser a próxima vítima? E não só de um assassinato, podemos ser a próxima vítima de um assédio sexual, de um "fiufiu", de uma coerção sexual, de manipulação psicológica, de estupro, de uma tentativa de estupro, de um soco, de um relacionamento abusivo, de uma sex tape vazada na internet, de uma nude vazada na internet, de uma mentira de cunho sexual que contam por aí, entre tantas outras violências.

Quando tomamos consciência que nascer menina é estar exposta a não pode existir livre? E o que fazer ao saber disso?

Selva Almada não dá nenhuma resposta para isso, e nem pretende. Em Garotas Mortas somos entregues a perguntas e a desolação de se perceber mulher num mundo em que homens querem te violentar na primeira oportunidade que tiverem. 

E não há quem ouse dizer que isso é exagero, é só dedicar 10 minutos a pesquisar que você poderá encontrar que hoje mesmo, uma mulher sofreu algum tipo de violência, é só perguntar a qualquer mulher próxima que você terá um relato de algum tipo de violência que ela tenha sofrido, seja sutil ou não. Mas homens também sofrem violência, alguns desonestos insistem em dizer, mas não sofrem por simplesmente nascerem homens. 

O ponto negativo que achei do livro é que pra mim, ela poderia ter se debruçado a uma análise mais profunda e crítica sobre o feminicídio e o machismo cotidiano. Como o livro acaba levando um tom muito subjetivo e até poético, a autora acaba deixando de se posicionar mais em alguns momentos, ela expões detalhes que imagina sobre os momentos da morte o que dá uma sensação apenas de "choque", é preciso em obras como esta, que são criadas como manifesto contra isso, que seja claro como vivemos numa sociedade totalmente contaminada pelo machismo e como isso que leva a morte de mulheres. 

O final também é bastante desolador, como já disse, Selva Almada conclui que só estamos vivas por pura sorte, o que não deixar de ter sua verdade, mas também precisamos nos apegar a esperança de que podemos lutar de alguma forma enquanto estamos vivas. Inclusive decidir escrever um livro sobre isso é uma forma de não estar viva apenas desejando não morrer na próxima esquina. 

Achei o livro importante, mas faço essas considerações, devemos ler Garotas Mortas como um manifesto contra o silêncio, estamos vivas e vamos fazer barulho. 



15.12.19

Livros para 2020



Pensar em livros para o ano que vem é quase um hábito comum para quem tem algum perfil literário a internet, esse momento aparece de diversas formas, por meio de desafios literários, clubes de leituras ou na escolha de um livro para ler por mês (12 livros no ano). 

Eu confesso que antes de ter um perfil no Instagram eu não fazia essas listas do que ler no próximo ano, mas selecionava mentalmente, porém, foi um hábito que gostei de manter, tem seus prós e contras, mas me agrada, essa é a minha escolha depois de avaliar ano após ano que fico empolgada por esse momento.

Os contras, é quando as pessoas encaram isso como uma obrigação desmedida e começam a sofrer caso não cumpram metas ou desafios, ou até quando se comparam a perfis "famosos" que se propõem a manter essas metas e se sentem menores por não fazer a mesma coisa. 

Existe algo que as pessoas na internet precisam se livrar DE VEZ em 2020 que é: parem com a padronização de comportamento!!!

Qual é a grande vantagem da internet se todo mundo falar igual, tirar foto igual, pensar igual, se comportar igual, ler tudo a mesma coisa? O fato de ser bacana encontrar pessoas com interesses em comum aos seus ou que ver uma dica ali ou acolá que seja interessante e você querer fazer ou o contrário, alguém que leu algo porque você comentou é bacana ATÉ CERTO PONTO. Isso não precisa acontecer toda hora e com tudo da sua vida! Vamos manter nossas individualidades, procurar coisas por nós mesmos, discordar de certos hypes, não ler todos os lançamentos - por exemplo - só porque 35 influencers estão falando dele - não precisamos participar de todo os desafios literários e principalmente, não precisamos ser igual a ninguém!! 

Vamos criar um filtro do que realmente combina com a gente, se encaixa na sua rotina e seja algo que vá realmente ser BOM pra sua vida, algo que vai te tornar mais feliz mesmo de alguma forma. 


Vocês já sabem a essa altura do campeonato que tudo na internet funciona justamente pra fazer nós queremos ser igual aos outros e dai, algumas pessoas recebem dinheiro pra fazer você acreditar que só pode ser feliz se for daquele jeito né? Então, como a gente continua por aqui sem cair nessa casa de banana? Como a gente mantém nossa essência, e usa a internet ao invés de ela usar a gente?

Primeiro passo é se conhecer, e com isso você vai saber o que é mesmo PRA você OU só algo que estão te convencendo que vai ser bom pra você. Depois é não usar a internet como válvula de escape para tristeza ou frustração: to triste e deprimido e perdido na vida vou na internet e vejo a vida de pessoas que parecem felizes, bem sucedidas e confiantes - o que meu cérebro pensa? eu preciso DAQUELA vida pra ser feliz.

Eu já passei por isso, parece ótimo ser bookgram ou booktuber e não precisar se preocupar em comprar nada porque você ganha tudo das editoras, dai você pensa: nossa, quero ser um produtor de conteúdo também, descobri a profissão da minha vida. De repente tá todo mundo se colocando como produtor de conteúdo e indo numa corrida maluca de competição e algoritmos. Foi aos poucos que fui percebendo que ter um perfil literário é um hobby e vai continuar sendo, que não é meu grande sonho de vida ter uma estabilidade financeira com isso, que meus sonhos são outros e o tempo que eu tenho que é pouco precisam ser voltados para isso, e aqui é um espaço para relaxar, compartilhar e ver coisas boas sobre esse mundo que eu amo: os livros. 

É um espaço que me trouxe mais consciência como leitora e da importância da literatura na minha vida, que me motiva a ler mais, mas que precisa ser de forma consciente e de acordo com o meu tempo para isso, que me trouxe conexões com pessoas do Brasil todo, mas que no fundo é uma parte pequena de mim e eu quero que continue sendo. 
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Já tive sim um pico consumista e de depressão com o Instagram por entrar nessa de me comparar, me sentia depende de likes e de aprovação dos outros, etc. Mas 2019 foi o ano da tomada de consciência de quem eu sou e de quem eu quero ser. 
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Foi importante estar aqui pra pensar em como me organizar melhor, parar de comprar tanto e ver estratégias para valorizar minha estante ao invés de querer sempre mais. E fazer listas do que vou ler em 2020 foi uma das estratégias, da melhor forma possível e não como competição ou obrigação. 
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Tenho sim vontade de comprar vários lançamentos, assinar clubes literários, mas se conhecer é importante pra saber que esse não é o momento agora e talvez nunca seja porque não é uma obrigação passar por isso. 
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Os livros devem ser sempre sempre sempre pontes, de você consigo mesmo, e com os outros, e jamais prisões, não vamos transformar esse universo lindo da literatura em um sistema que vai adoecer pessoas, para 2020 se conheça e nesse caminho admire pessoas como um alguém único que você sem precisa ser espelho de ninguém. 

9.12.19

Zonas Abissais - Lisiane Forte



Em 2019, 3 mulheres que vivem na minha cidade lançaram livros de poesias, entre tantas outras aqui que também devem ter lançado e pelo mundo. Destaquei as 3, pois os livros remetem nos títulos a elementos marítimos, são eles Sereia em Copo D'água de Nina Rizzi, ÁGUA, de Sara Síntique e Zonas Abissais, de Lisiane Forte, este que vou me deter a falar um pouco mais.

O mar, esse vasto tecido que banha Fortaleza e é fonte incansável de poesia no qual Lisiane Forte vai mergulhando até perder o fôlego e retoma ao lançar seu grito de socorro pelos poemas que temos em mão.

"e eis que entro na gruta mais interior e mais cavada" - anuncia Sophia de Mello Breyner Andressen, outra poeta que trouxe águas profundas para seus versos.

O livro pode se dividir em duas partes, se assim o leitor quiser interpretar, "Mulher-pássaro" e "Mulher-peixe". A autora dedica o livro a todas as mulheres e a seus dois filhos. O eu-lírico anuncia "ouço todos os suspiros / das mulheres incompreendidas". 

Talvez, por se fazer eco das vozes de mulheres incompreendidas, mesmo eu sendo mulher, senti algumas vezes grande dificuldade de nadar nas águas dos poemas de Lisiane e isso não deve ser interpretado como algo negativo. 

Tivemos nos últimos tempos um boom de poetas jovens que escrevem para a internet e aproximaram pela facilidade de compreender o sentimento que falavam leitores que não gostavam de poesia. Algo que penso ter suas vantagens, mas que por outro lado pode ter nos acostumados a uma poesia muito "simples" e a estranhar ao nos deparar com águas mais turvas ou achar que um livro "difícil" de ler é algo ruim. Não vou dizer que achei uma leitura fluída, pois não vou, mas nem tampouco vi isso como um problema.




Zonas Abissais é desses livros de águas misteriosas, em que precisei ler e reler algumas vezes, parar, respirar, tomar ar pra começar a enxergar por onde Lisiane queria me levar. Afinal, a escritora mesma avisa que é "este mar profundo que há em mim/e que em mar profundo me orienta". a voz diz  "ainda escuto vozes / e desperto feras". E ao longo da leitura você percebe que não é um canto de sereia que ouvimos, mas sim o uivo de uma monstra marítima, como bem afirma nina rizzi na apresentação do livro. 

Nessa poesia de profundis, Lisiane tira das chamas todas as mulheres acusadas de serem profundas demais, complicadas demais, sensíveis demais, demais demais. Sua poesia é sim demais, e é muito, e é imensa, poesia "da mulher que abocanha todos os sentidos,/e que nada sabia dos finitos". 

Em Zonas Abissais, Lisiane Forte rejeita o raso da alma, quer criar novas raízes: "de que formas se criam novas raízes?" foi uma pergunta que latejou em mim. Mesmo parecendo meio obtusa, com certeza algum verso ou vários, te tocam como caldas de águas vivas. Um dos que mais me tocou começa assim "o distante é um mundo abstrato, fundo / e cada vez mais escuro", eu, com minha melancolia presente, quantas vezes viro essa fera de olhos doces, que se esconde em camadas tentando cobrir minhas dores, afundo, fico distante, recuso palavra, e é na poesia que esses seres de zonas abissais podem existir incapturáveis talvez, mas inesquecíveis. 




Agora, relendo para escrever esse texto, entendo que Zonas Abissais fala muito de quantas vezes morremos e afundando no desconhecido dos nossos próprios lamentos, tentamos ser ouvida por alguém lá em cima, por pessoas que nadam no raso, enquanto como também disse Sylvia Plath "Conheço o fundo, ela diz. Conheço com minha própria raiz. / Você temia isso. / Eu não: já estive lá.". Fala pela voz de quem se debate em escamas, que se desfazem para criar novas peles sempre que necessário, fala para continuar a existir, a ser tudo que devemos ser. 

Lançado pela editora Aliás, o livro também contém ilustrações de Raísa Christina e fotografias de Bruna Sombra.




Lido em: 09/12/2019


7.12.19

Desesperatona - Colecionando Primaveras



Olá, resolvi participar de uma maratona nesse mês iniciada pelo blog Colecionando Primaveras, chamada desperatona. Lá no blog e o perfil do Insta ela criou algumas categorias e eu escolhi EU QUE LUTE em que vou tentar ler 9 livros em Dezembro. Com isso eu não quero incentivar nenhuma competição e nem vou entrar pilhada ou ficar frustrada se não conseguir, na verdade eu já tinha feito uma lista bem ousada com os livros que quero ler em Dezembro que divulguei na newsletter do dia 01 então quando vi a ideia da maratona entrei mais para participar da brincadeira. 

Então, vamos a minha TBR: 



semana de 01 - 08

1. Só as Mulheres Sangram  (comecei a ler em 24/11)
2. Garotas Mortas (comecei a ler em 26/11)
3. Zonas Abissais 

semana de 09 - 15

4. Mulher Mat(r)iz
5. As Andorinhas
Eu sei porque o pássaro canta na gaiola 


semana de 16 - 22
6. O que você está olhando 
7. Eu sei porque o pássaro canta na gaiola (finalizar)

semana de 23 - 31

8. Poesia Escolhidas - Gabriel Mistral
9. Chamadas Telefônicas


bônus*
10. Só para maiores de cem anos


Escolhi esses livros porque foram os que comprei em 2019 e não li, percebi que havia comprado o dobro de livros do que no ano passado, li cerca de 55 livros até agora e nem metade desses são meus, peguei muitos emprestado e fui lendo muita coisa aleatória esse ano, participando de desafios literários adoidado que eu não completava, e muitos clubes que eu não permanecia. Para 2020 uma coisa que quero ter é mais foco nas minhas leituras, vou ler o que tenho, sou muito tentada a pegar livros ao acaso na casa de amigos ou em passeios a bibliotecas e acabo deixando o que tenho de lado. Se eu conseguir completar essa maratona vai ser um incentivo para continuar assim no ano seguinte. 

Então é isso, até a próxima postagem!



1.12.19

Olá Dezembro!



Chegamos ao primeiro dia do resto das nossas vidas haha, é que quando chega Dezembro parece que já vem essa sensação de se preparar para um próximo ano buscando renovar votos, metas, esperança, etc. e 2019 especificadamente traz essa sensação mais forte por tudo que vivemos politicamente neste país, a vontade de se agarrar a alguma expectativa e tentar não desistir de tudo mesmo que as coisas estejam completamente turvas é grande. Foi assim que acordei nesse primeiro de dezembro, não queria esperar para mudar algo em Janeiro, eu queria já me renovar agora, como se o fim de novembro já tivesse me esgotado completamente, 11 meses e sinto minha bateria já ta no 1% por mim hoje já podia ser Janeiro trazendo todo esse sentimento de "ano novo", preciso. Mas vamos lá, ainda temos 30 dias para viver antes de brindarmos e fazermos a contagem regressiva para o que nem sabemos que virá, e... não é meio assim todo dia?

Seria bem incrível se conseguíssemos viver cada fim de noite como o dia 31 de dezembro e cada acordar como o primeiro de janeiro: abrir os olhos e contar 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, pular da cama e estar pronta, querer estar pronta, querer receber o que virá. 

isso claro, falando de um lugar muito privilegiado socialmente, de alguém que pode pensar em ter o luxo de agarrar a vida porque sim, a minha vida é bela, tenho dificuldades como muitos, mas é bela e tenho conquistas e sonhos e o que falta tantas vezes parece ser enxergar que onde estou agora mesmo não sendo ainda onde quer estar para sempre, é importante. 

Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...