30.8.16

Sem Título IV

eu só queria poder aguentar esse dia até o fim
queria poder segurar na mão desse dia e que ele segurasse na minha
mas ele me solta
ele se solta
ela te solta
só restou minha mão aberta trêmula no vazio passa um carro e a arranca
fica o braço ensanguentado
eu não grito
todos eles gritam
tu ainda me ama?
massa
eu queria poder levantar as oito e aguentar o dia dormir o sono dos justos as onze
mas eu não sou justa
não tenho sono
e prefiro escrever poemas
nesse momento alguém chora sozinho debaixo do céu estrelado do sertão
como irei te dizer?
invento mil formas de te d
izer
não consigo pegar uma fruta e comê-la
não consigo pegar a frase certa
escrevo então as frases erradas na hora errada para um alívio certo
don't judge me
eu te amo
existem cavernas dentro de mim
não sei se você vai gostar.






25.8.16

Sem Titulo III

Só respondo as pergunta que quero
e fico vendo os minutos passar
enquanto escrevo um poema
das conversas contigo
e não parece nada disso

23.8.16

Sem Título II

Penso nas músicas que me lembram você
o céu da boca é anil
estrelado encontro das línguas
elas dançam, elas dançam, todas elas dançam
olho no teu olho que olha o meu
mar e tempestade
o teu aberto, imenso - convida
um punhal
em que não morro
e revivo
de ter me afogado - lançado pelos ares
ou terra abaixo
nesse oceano ocular
no infinito celeste
das possibilidades




22.8.16

desvendando diferenças

El topo
Eu topo

eu sei como é isso
eu sei como é osso

voando até pousar
posando até voar.

o mar ao fundo
afundo & amo
amar afundo

17.8.16

Sem Título

"Esquece isso
Pensa naquele _________ que você gosta"
Você disse assim com tanta confiança
Eu tentava te mostrar uma música
e lia uma poeta fluminense que se jogou da janela
pelo telefone
"tai, eu fiz tudo"
não sei qual o número
da sua casa
se eu parar um motorista de táxi e ele perguntar
qual é o endereço senhorita
e seguiria pelo cheiro das memórias turvas
da volta sozinha
das tardes quentes
da voz que sumia
do zumbido das moscas
do lixo que apodrecia
ando distraída
mas nesses meses
eu não tropecei nenhuma vez
"Esquece isso
...
manda com o coração"
Você disse assim com tanta confiança
Que eu temi
we do it
all again
all again
para que céu eu poderei soltar esse pássaro
debatendo suas asas
querendo cantar



Sem Título

"Esquece isso
Pensa naquele _________ que você gosta"
Você disse assim com tanta confiança
Eu tentava te mostrar uma música
e lia uma poeta fluminense que se jogou da janela
pelo telefone
"tai, eu fiz tudo"
não sei qual o número
da sua casa
se eu parar um motorista de táxi e ele perguntar
qual é o endereço senhorita
e seguiria pelo cheiro das memórias turvas
da volta sozinha
das tardes quentes
da voz que sumia
do zumbido das moscas
do lixo que apodrecia
ando distraída
mas nesses meses
eu não tropecei nenhuma vez
"Esquece isso
...
manda com o coração"
Você disse assim com tanta confiança
Que eu temi
we do it
all again
all again
para que céu eu poderei soltar esse pássaro
debatendo suas asas
querendo cantar



Quarta-feira 17

As horas passam e eu sinto que não fiz nada, não posso pegar o tempo, não posso domá-lo, ele me domina. Já começo logo em seguida então a pensar que não sou capaz de aproveitar o ócio, como os antigos poetas, fico em frente a uma tela de computador, abrindo abas, fechando outras, numa velocidade que faz com que toda a informação que tive se esvaia. Penso depois que estou sendo consumida pela lógica capitalista de tempo, de ter que produzir, de ter que ser útil, não me dou ao prazer de ser, apenas ser, respirar e existir, isso parece vazio. Mas não é isso, eu preciso criar, eu preciso dizer, eu fiz isso; e não será então isso só o desejo do material? Às vezes é insuportável estar em minha mente.

Foto: Jamille Queiroz

3.8.16

[leituras] Zé Celso Martinez Corrêa - Primeiro Ato - Cadernos, Depoimentos, Entrevistas (1958 - 1974)



"Teatro é um bordel? O bordel vive da hipocrisia. Roda viva é assim o antiborde; é a denúncia do bordel. Mostra esse bordel de mundo. [...] Arte teatral pela sensibilização de uma ação. A libertação através de sua reconciliação com a razão. A vinculação da arte ao princípio do prazer. Não é a ética e a moral, mas a realização do instinto orgânico, do sentido da felicidade, abrindo para a libido. [...] O estado de consciência em si mesmo não é nem determinativo nem negativo do caráter da obra de arte. Uma consciência presa por uma aberração sexual, conseguindo se exprimir em obra, sabendo criar um sujeito novo, será válida como as de Goya, Van Gogh, Antonio dias etc. Não é "o" mal se ela excita sexualmente, porque ela visa além disso: além de excitar, ela subverte
Agredir o mundo pacato do cidadão aparentemente bem satisfeito e revelar o que se quer esconder. [...] E o quanto a obra pornográfica não tem ajudado na compreensão da realidade, principalmente com Sade?
Nós recusamos tudo o que impede a realização da nossa personalidade e nos contentamos na esfera dos sonhos... a poesia da transgressão escandalosa é uma forma de conhecimento: mostrar coisas por outros ignoradas
[...]
Roda Viva é pornográfica? Não. Se fosse eu diria. E não teria problema. A pornografia pode ser uma forma de conhecimento. E, portanto, de arte. O que é a pornografia? É o que é feito com a função explícita de provocar a excitação sexual. [...] Roda Viva abre o jogo e mostra o sexo como uma coisa saudável  divertida, que está na raiz de muitas coisas. A pitada de sexo para despertar. Seu objetivo é mostrar tudo que os meios de comunicação de massa utilizam, numa sociedade repressiva para manter o cidadão distraído.
Roda viva não é "para ganhar dinheiro". Nem é falta de honestidade.

(Zé Celso, Notas sobre a campanha da deputa Conceição da Costa Neves contra Roda Vida, junho de 1968)

Tchecov é um cogumelo


Essas transições de um tempo para o outro são as transições da própria vida. Na vida tudo mexe, sempre, sempre, sempre. Tudo está se movimentando em permanência e todos esses movimentos fazem parte da vida. Se a pessoa se põe a favor deles, ela vive, ela capta o que está acontecendo. As coias vão e vem, vem e vão.
[...]
Na realidade tudo é sagrado: a profanação é sagrada também. Não existe uma verdade, um deus, uma religião. Existem milhares de coisas, milhares de deuses; e milhares de deusas, principalmente. O teatro é uma religião de deusas, principalmente.
[...]
O teatro que se faz aqui é branco, sem swing, sem possessão; um teatro em que se fala mal, se articula mal, que só consegue tocar a classe média, uma classe média acomodada na compaixão, na piedade e na auto comiseração. O teatro brasileira está preso, de coleira. "Possessão" é a possibilidade de você entrar transe, em "posse" de você mesmo e dos elementos humanos que te rodeiam.



Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...