3.8.16

[leituras] Zé Celso Martinez Corrêa - Primeiro Ato - Cadernos, Depoimentos, Entrevistas (1958 - 1974)



"Teatro é um bordel? O bordel vive da hipocrisia. Roda viva é assim o antiborde; é a denúncia do bordel. Mostra esse bordel de mundo. [...] Arte teatral pela sensibilização de uma ação. A libertação através de sua reconciliação com a razão. A vinculação da arte ao princípio do prazer. Não é a ética e a moral, mas a realização do instinto orgânico, do sentido da felicidade, abrindo para a libido. [...] O estado de consciência em si mesmo não é nem determinativo nem negativo do caráter da obra de arte. Uma consciência presa por uma aberração sexual, conseguindo se exprimir em obra, sabendo criar um sujeito novo, será válida como as de Goya, Van Gogh, Antonio dias etc. Não é "o" mal se ela excita sexualmente, porque ela visa além disso: além de excitar, ela subverte
Agredir o mundo pacato do cidadão aparentemente bem satisfeito e revelar o que se quer esconder. [...] E o quanto a obra pornográfica não tem ajudado na compreensão da realidade, principalmente com Sade?
Nós recusamos tudo o que impede a realização da nossa personalidade e nos contentamos na esfera dos sonhos... a poesia da transgressão escandalosa é uma forma de conhecimento: mostrar coisas por outros ignoradas
[...]
Roda Viva é pornográfica? Não. Se fosse eu diria. E não teria problema. A pornografia pode ser uma forma de conhecimento. E, portanto, de arte. O que é a pornografia? É o que é feito com a função explícita de provocar a excitação sexual. [...] Roda Viva abre o jogo e mostra o sexo como uma coisa saudável  divertida, que está na raiz de muitas coisas. A pitada de sexo para despertar. Seu objetivo é mostrar tudo que os meios de comunicação de massa utilizam, numa sociedade repressiva para manter o cidadão distraído.
Roda viva não é "para ganhar dinheiro". Nem é falta de honestidade.

(Zé Celso, Notas sobre a campanha da deputa Conceição da Costa Neves contra Roda Vida, junho de 1968)

Tchecov é um cogumelo


Essas transições de um tempo para o outro são as transições da própria vida. Na vida tudo mexe, sempre, sempre, sempre. Tudo está se movimentando em permanência e todos esses movimentos fazem parte da vida. Se a pessoa se põe a favor deles, ela vive, ela capta o que está acontecendo. As coias vão e vem, vem e vão.
[...]
Na realidade tudo é sagrado: a profanação é sagrada também. Não existe uma verdade, um deus, uma religião. Existem milhares de coisas, milhares de deuses; e milhares de deusas, principalmente. O teatro é uma religião de deusas, principalmente.
[...]
O teatro que se faz aqui é branco, sem swing, sem possessão; um teatro em que se fala mal, se articula mal, que só consegue tocar a classe média, uma classe média acomodada na compaixão, na piedade e na auto comiseração. O teatro brasileira está preso, de coleira. "Possessão" é a possibilidade de você entrar transe, em "posse" de você mesmo e dos elementos humanos que te rodeiam.



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