18.6.18

[poema] Teu nome é

senhora das chuvas de junho!
abençoada essa segunda-feira que amanhece chuvosa
que águas corram que águas corram
levem lavem
em larvas meu coração estremece
desejo morte mas meu corpo é todo vida
I listened to the old brag of my heart iamiamiam
e quando me sinto só ele grita e chove
senhora das chuvas de junho
esteja comigo


9.6.18

[atualização de desafio]



01 - Livro de correspondências: Minhas Queridas, Clarice Lispector (ebook / bibliotecas) 

02 - Livro de contos - No Seu Pescoço, Chimamanda Ngozi Adichie (tenho)

03 - Livro de uma série - A amiga genial, Elena Ferrante (ebook)

04 - Livro de realismo fantástico - A casa dos Espíritos, Isabel Allende (biblioteca)

05 - Livro de uma autora negra brasileira - Tambores pra N'zinga - Nina Rizzi (ebook/lido)


07 - Livro publicado no ano que você nasceu - 
Backlash - O contra-ataque na guerra não declarada contra as mulheres - Susan Faludi 

08 - Livro de sua autora favorita - A Viagem, Virginia Woolf (tenho / esse ano também vou ler mais livros da Virginia Woolf)

09 - Autora sul-americana: Sangue no olho, Lina Meruane (Chilena / ebook)

10 - Autora do leste asiático: Cinderela Chinesa - Adeline Yen Mah

11 - Romance policial: ? (biblioteca)

12 - Diários: Diários de Sylvia Plath (único que vou comprar)


Tô é longe né? Mas no segundo semestr eu leio uns 3 por vez. 

2.6.18

[Fichamento] O Segundo Sexo Vol 1. - 1/Os dados da biologia

Em alguns momentos Simone, utiliza termos biológicos e conceitos da natureza para exemplificar a relação macho e fêmea entre outros seres vivos, comparando aos seres humanos. Assim, muitos momentos podem ser cansativos e complicados de acompanhar, mas muito interessante e fundamental que de Beauvoir tenha feito todo o percuso biológico, histórico e social para provar a falta de evidências que justifiqum a inferioridade da mulher seja qual for o âmbito científico.



Na boca do homem o epíteto “fêmea” soa como um insulto; no entanto, ele não se envergonha de sua animalidade, sente-se, ao contrário, orgulhoso se dele dizem: “É um macho!” O termo “fêmea” é pejorativo não porque enraíza a mulher na Natureza, mas porque a confina no seu sexo. pg. 31

Mas se quisermos deixar de pensar por lugares-comuns duas perguntas logo se impõem: Que representa a fêmea no reino animal? E que espécie singular de fêmea se realiza na mulher? pg. 31


A presença no mundo implica rigorosamente a posição de um corpo que seja a um tempo uma coisa do mundo e um ponto de vista sobre esse mundo: mas não se exige que esse corpo possua tal
ou qual estrutura particular. pg. 35

Com o advento do patriarcado, o macho reivindica acremente sua posteridade; ainda se é forçado a concordar em atribuir um papel à mulher na procriação, mas admite-se que ela não faz senão carregar e alimentar a semente viva: o pai é o único criador. Aristóteles imagina que o feto é produzido pelo encontro do esperma com o mênstruo; nessa simbiose a mulher fornece apenas uma matéria passiva, sendo o princípio masculino força, atividade, movimento, vida. É essa também a doutrina de Hipócrates, que reconhece duas espécies de sêmens: um fraco ou feminino e outro forte, masculino. A teoria aristotélica perpetuou-se através de toda a Idade Média e até à época moderna. pg 35/36

Hegel estima que os dois sexos devem ser diferentes: um será ativo e o outro, passivo, e naturalmente a passividade caberá à fêmea. “O homem é assim, em consequência dessa diferenciação, o princípio ativo, enquanto a mulher é o princípio passivo porque permanece dentro da sua unidade não desenvolvida.”14 E mesmo depois que se reconheceu o óvulo como um princípio ativo, os homens ainda tentaram opor sua inércia à agilidade do espermatozoide. pg 37

Há, portanto, dois preconceitos muito comuns que — pelo menos nesse nível biológico fundamental — se evidenciam falsos: o primeiro é o da passividade da fêmea; a faísca viva não se acha encerrada em nenhum dos dois gametas: desprende-se do encontro deles. O núcleo do óvulo é um princípio vital exatamente simétrico ao do espermatozoide. O segundo preconceito contradiz o primeiro, o que não impede que muitas vezes coexistam: o de que a permanência da espécie é assegurada pela fêmea, tendo o princípio masculino uma existência explosiva e fugaz. Na realidade, o embrião perpetua o germe do pai tanto quanto o da mãe e os retransmite juntos aos descendentes, ora sob a forma masculina, ora sob a feminina. pg. 39


A partir dessa observação biológica, Simon traça paralelos dos mitos que rondam a condição da mulher, fêmea, socialmente. 

Mas é principalmente entre os pássaros e os mamíferos que o macho se impõe à fêmea; frequentemente ela o aceita com indiferença e mesmo lhe resiste. Por provocante ou tolerante que seja, é o macho, de qualquer modo, quem possui: ela é possuída; ele pega, ela é pegada e a palavra tem, por vezes, um sentido muito preciso: ou porque tem órgãos adaptados, ou porque é o mais forte, o macho segura-a, imobiliza-a; efetua ativamente os movimentos do coito. Entre muitos insetos, entre os pássaros e os mamíferos, ele a penetra. Em virtude disso, a fêmea apresenta-se com uma interioridade violentada. pg. 49 

Inicialmente violentada, é a fêmea alienada em seguida; ela carrega o feto em seu ventre até um estado de maturação variável segundo as espécies: a cobaia nasce quase adulta, o cão muito perto do estado fetal. Habitada por um outro que se nutre de sua substância, a fêmea é, durante todo o tempo da gestação, concomitantemente ela mesma e outra; após o parto, ela alimenta o recémnascido com o leite de suas tetas. A tal ponto que não se sabe quando ele pode se considerar autônomo: no momento da fecundação, do nascimento ou do desmame? [...] Só que essa individualidade não é reivindicada: a fêmea abdica em prol da espécie que reclama essa abdicação. - pg.50

a individualidade da fêmea é combatida pelo interesse da espécie. pg. 52

É muito importante a ênfase biológica que Simone dá nesse capítulo, ao exemplicar a diferença do corpo do homem, como macho e do corpo da mulher, como fêmea e como o desenvolvimento de é atravessado por conceitos sociais. Assim. não há como analisar o SER mulher, partindo de uma noção puramente subjetiva. Estar num corpo de uma mulher ou de um homem perpassa questões sociais. Reafirma assim que as questões que perpassam o corpo da mulher são ainda importantes sim para entendermos as opressões qu passamos. Questões relacionadas a menstruação, gravidez, e puberdade. Como o corpo da menina se desenvolve socialmente comparado ao do menino. Tudo isso não pode ser analisado como meramente subjetiva


"A história da mulher é muito mais complexa. Desde a vida embrionária, a provisão de oócitos já se acha constituída; o ovário contém cerca de cinquenta mil óvulos encerrados cada qual em um folículo, sendo que mais ou menos quatrocentos chegam à maturação. Desde o nascimento, a espécie toma posse dela e tenta se afirmar; a mulher, vindo ao mundo, atravessa uma espécie de primeira puberdade: os oócitos crescem subitamente, depois o ovário reduz-se a um quinto mais ou menos. Pode-se dizer que uma pausa é concedida à criança; enquanto seu organismo se desenvolve, o sistema genital permanece mais ou menos estacionário: certos folículos incham, mas sem atingir a maturidade. O crescimento da menina é análogo ao do menino; com a mesma idade ela chega a ser um pouco mais alta e mais pesada do que ele. Mas, no momento da puberdade, a espécie reafirma seus direitos." pg; 54

"A mulher conhece uma alienação mais profunda quando o ovo fecundado desce ao útero e aí se desenvolve. Sem dúvida, a gestação é um fenômeno normal que, em se produzindo em condições normais de saúde e nutrição, não é nocivo à mãe; estabelece-se mesmo, entre ela e o feto, certas interações que lhe são favoráveis. Entretanto, contrariamente a uma teoria otimista cuja utilidade social é demasiado evidente, a gestação é um trabalho cansativo que não traz à mulher nenhum benefício individual." pg 57 (Coloco-me aqui num ponto de fisiológico. É evidente que maternidade pode ser muito útil também ser um desastre)

o corpo nem sempre satisfaz a espécie e o indivíduo ao mesmo tempo pg. 58

Esses dados biológicos são de extrema importância: desempenham na história da mulher um papel de primeiro plano, são um elemento essencial de sua situação. Em todas as nossas descrições ulteriores, teremos que nos referir a eles. Pois, sendo o corpo o instrumento de nosso domínio do mundo, este se apresenta de modo inteiramente diferente segundo seja apreendido de uma maneira ou de outra. Eis por que os estudamos tão demoradamente; são chaves que permitem compreender a mulher. Mas o que recusamos é a ideia de que constituem um destino imutável para ela. Não bastam para definir uma hierarquia dos sexos; não explicam por que a mulher é o Outro; não a condenam a conservar para sempre essa condição subordinada. pg. 60

Sobre as questões que fazem da mulher um ser mais frágil fisicamente, ou como muito já se afirmou contra nós, que há "a falta de controle e a fragilidade de que falamos:". Simone afirma: 

Em verdade, esses fatos não poderiam ser negados, mas não têm sentido em si.  Desde que aceitamos uma perspectiva humana, definindo o corpo a partir da existência, a biologia torna-se uma ciência abstrata; no momento em que o dado fisiológico (inferioridade muscular) assume uma significação, esta surge desde logo como dependente de todo um contexto; a “fraqueza” só se revela como tal à luz dos fins que o homem se propõe, dos instrumentos de que dispõe, das leis que se impõe. 
[...] é preciso que haja referências existenciais, econômicas e morais para que a noção de fraqueza possa ser concretamente definida. pg 63

Por exemplo, quanto a função geradora:

relação da maternidade com a vida individual é naturalmente regulada nos animais pelo ciclo do cio e das estações: ela é indefinida na mulher; só a sociedade pode decidir dela. Segundo essa sociedade exija maior ou menor número de nascimentos, segundo as condições higiênicas em que se desenvolvam a gravidez e o parto, a escravização da mulher à espécie faz-se mais ou menos estreita. Assim, se podemos dizer que entre os animais superiores a existência individual se afirma mais imperiosamente no macho do que na fêmea, na humanidade as “possibilidades” individuais dependem da situação econômica e social. pg 63

Não é enquanto corpo, é enquanto corpos submetidos a tabus, a leis, que o sujeito toma consciência de si mesmo e se realiza: é em nome de certos valores que ele se valoriza. pg 64

É, portanto, à luz de um contexto ontológico, econômico, social e psicológico que teremos de esclarecer os dados da biologia. A sujeição da mulher à espécie, os limites de suas capacidades individuais são fatos de extrema importância; o corpo da mulher é um dos elementos essenciais da situação que ela ocupa neste mundo. Mas não é ele tampouco que basta para a definir. Ele só tem realidade vivida enquanto assumido pela consciência através das ações e no seio de uma sociedade; a biologia não basta para fornecer uma resposta à pergunta que nos preocupa: por que a mulher é o Outro? Trata-se de saber como a natureza foi nela revista através da história; trata-se de saber o que a humanidade fez da fêmea humana. pg 65



Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...