28.7.20

Bom dia, tristeza (Françoise Sagan)


Bom dia, Tristeza foi lançado em 1954, quando Françoise Sagan tinha 18 anos e se tornou um bestseller. Sagan impactou leitores por trazer de forma direta e crua personagens da burguesia parisiense envoltos no tédio existencialista. 

A personagem central é Cécile, uma jovem de 17 anos, orfá. Seu pai, Raymond coleciona namoros, os quais Cécile já está acostumada com a efemeridade. Ambos estão passando as férias no litoral, enquanto Cécile está prestes a ser reprovada na escola, mas não se importa com isso (nem o pai). Todo esse clima de aparente leveza muda com a chegada de Anne, uma mulher bem mais velha, amiga da mãe de Cécile. Seu pai deseja se casar com Anne o que para Cécile "ameaça" a intimidade e liberdade que os dois têm.

O enredo da narrativa não é o forte do livro. Os personagens vivem num mundo de excessos e frivolidade, ao mesmo tempo que se cansam de tudo rapidamente, pois são incapazes de mergulhar com profundidade nas tessituras da vida. É o estilo íntimo e simples de Sagan que prende o leitor.

O tom existencialista é a grande marca do romance, toda a busca de Cécile é por sentir algo além do vazio. Acostumados a terem tudo sob controle, pai e filha são confrotados com imprevisibilidade da vida vendo as consequências de suas ações. 

Escrito num contexto pós-guerra, e longe de ser um livro com alguma lição de moral, "Bom dia, tristeza" reflete a juventudade de uma época que dança passos entre a liberdade e a melancolia iludidos na ideia de uma felicidade fácil e volúvel.

Acredito que para os leitores de hoje não cause tanto impacto como na época e eu mesma me senti um pouco decepcionada com a leitura. Mas depois de algumas reflexões compreendo os pontos positivos da obra e recomendo para quem esteja buscando uma leitura mais leve.







21.7.20

Um Jogo bastante perigoso - Adília Lopes

Guimarães Rosa disse que o que a vida quer da gente é coragem, e a poesia da portuguesa Adília Lopes mostra que junto de coragem é preciso imaginação.  

Adília Lopes é o pseudônimo de Maria José da Silva Fidalgo de Oliveira. Nasceu em 1960, em Lisboa, e é autora de mais de vinte livros de poesia. Entrou na faculdade de Letras em 1983 e dois anos depois lançou este livro, o primeiro. Incrível como um título pode descrever tão bem o que é fazer poesia: um jogo bastante perigoso. É nessa atmosfera metalinguística que Adília sustenta sua cinuca. 

O que impressiona e me fisga tanto em Adília é ela me tirar do eixo com sua criatividade de construir versos que são observações esquisitas sobre o cotidiano, mas também misturar referências clássicas. Adília chega em mim como um bilhete escondido num livro antigo, algo que me faz muito feliz e se tranforma num momento precioso. 

O primeiro poema é dedicado a personagem de A Redoma de Vidro, Esther Greendwood e discorre reflexões do eu lírico durante um banho quente, um poema que eu leio e releio tentanto encontrar o que Adília quis mesmo dizer com ele ao mesmo tempo que sinto esse afago de um banho quente. "nunca me sinto tão eu mesma/como quando estou dentro de um banho quente". 

Em algumas vezes o eu lírico de Adília parece estar sempre fazendo algo meio errado ou perigoso como novamente nos sugere o título, e é curiossímo como aqui no Ceará usamos a expressão "fazer arte", para nos referir a fazer algo perigoso, uma criança "arteira" é uma criança que se mete em confusões cotidianas.

"Eu fazia a correr e às escondidas/ as coisas mais inocentes / por isso fui punida". Em "O Gabinete de Penitência", Adília pode talvez estar se referindo a sua experiência esquisofrênica, enquanto descreve a ação de recortar bonequinhas num papel dobrado e ao abrir o papel a menina cortada se transforma em duas. 

Os poemas em geral misturam essas atividades infantis como "lamber feridas", recortar papeis, comer papinha, brincar com fogo, ir a parques de diversões e outras absolutamente banais como polir as unhas ao passo que afirma que nada na vida dela é simples e entrecruza acontecimentos que podemos julgar como biográficos, o próprio fazer poético e diálogos com outras obras e escritores.  

Apesar do jogo, ela traz uma sinceridade tão crua, sem disfarces sobre suas dores que lembra também à maneira honesta que as crianças têm de falar de seus desapontamentos. 

"O que me custou foi tudo ter acabado como tinha começado / como se nada tivesse passado / durante / ora o que passou durante / ainda hoje me incomoda / e portanto deve ter acontecido. "

Para Adília Lopes a poesia é uma atividade de sobrevivência, os poemas são "moinhos que andam ao contrário" ou peixes se debatendo em suas mãos, em que "ou morremos os dois / ou nos salvamos os dois". Novamente me lembra Guimarães Rosa quando diz "viver é muito perigoso", para Adília escrever também o é, e não há separação entre as duas coisas. 



14.7.20

TBR De Julho + sobre Ler Menos



Uma tbr linda dessas!! Eu amo fazer tbr porque quando monto uma pilha bonita me motiva a ler, claro que em alguns momentos pode rolar uma pressão ou agonia, vai mesmo de cada um. Mas pra mim é um mais por incentivo e noia de asc em virgem rsrs. Não ligo se eu não ler todos da pilha, não deu certo? Bola pra frente, tenta ler mês que vem, ano que vem, enfim, o lance é não pirar na cobrança. Livro não é BOLETO, você não precisa ter obrigação nenhuma com eles se esse não for o seu trabalho. E até os boleto a gente deixa de pagar, ne não?

Acho que o movimento começa assim: você gosta de ler ou quer começar a ler mais, ai começa a seguir alguns perfis que GANHAM dinheiro com seus perfis e ganham livros de editoras para ler e se dedicam muitas vezes só aquilo. Ai você começa a ler mais inspirada nessa rede, até ai ta tudo ok. A coisa fica feia quando vem o demônio da comparação - que é basicamente o que faz a engrenagem do Instagram girar - e diz "olha você também precisa ter isso e viver desse jeito", mas tem o anjo do fica de boa e seja você mesma que diz "não precisa". Mas ai você ouve o da comparação e fica "nossa, como eu leio pouco". Ou então você cria um perfil literário só porque você gosta de falar de livros e depois fica se comparando com perfis grandes e se frustra DO NADA quando muitas vezes nem era seu sonho de infância ser da profissão criador de conteúdo digital, mas se alguma forma tem uma galera que vende que essa profissão é muito glamorosa, que você ganha coisas de graça e vai ser muito mais amado e mais feliz porque muita gente para pra te ver. Nisso, você já parou pra pensar o tanto de criança que já ta noiada em ser famosa na internet?? O número de perfis que se dedicam a dar dicas de fazer seu perfil crescer tirando qualquer autenticidade e NATURALIZADE do que você faz aqui é BIZARRO.

Enfim enfim. Era só uma pilha de livros e acabou sendo mais um textão.

Como ser notada nas redes sociais: um anti-manual


Acho engraçado essa coisa de ser "notada" quando parece que só vale se for empresa e gente com mais seguidores que você, né? Por que não damos valor quando nossos amigos ou pessoas com menos seguidores nos notam e fazemos o maior alarme de alguém famoso dá um like ou começa a nos seguir? Não admiramos mutuamente nossos amigos? E o tanto de gente admirável que deve ter por ai que não tem uns 10k de seguidores?



13.7.20

Lidos e resenhados de 2020



Esa lista vai ser atualizado ao longo do ano


Janeiro:

  1. Como se fosse a casa - Ana Martins Marques e Eduardo Jorge
  2. The catcher in the rye - J.D. Salinger
  3. Eu sei porque o pássaro canta na gaiola - Maya Angelou
  4. O mundo de Aisha
  5. Mulheres na Luta
  6. Um defeito de Cor - Ana Maria Gonçalves
  7. Só para maiores de cem anos - Nicanor Parra
  8. Harry Potter e a pedra filosofal
  9. Breve História do Feminismo
  10. Contos Negreiros - Marcelino Freire
  11. Poesias Escolhidas - Gabriela Mistral
Fevereiro
  1. A viagem - Virginia Woolf
  2. Antologia (HQ)
  3. Cartas a uma jovem atriz - Marília Pera
  4. Harry Potter e a câmara secreta  - J.K. Rowlling
  5. Técnica da representação teatral - Stella Adler
  6. A hora do teatro épico no Brasil - Iná Camargo Costa
  7. O Perseguidor - Júlio Cortázar
  8. Mulher Mat(r)iz - Miram Alves
Março

  1. Cemitério dos Vivos - Lima Barreto
  2. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban - J.K. Rowlling
  3. Prólogo, ato e epílogo - Fernanda Montenegro
  4. Gota d'água - Chico Buarque
  5. O feminismo é para todo mundo - bell hooks
  6. Eles não usam black-tie - Gianfrancesco Guanieri
  7. Notas para Piscator - Judith Malina
  8. Morando e Chocolate (HQ) - Aurélia Aurita

Abril
  1. O Beijo no asfalto - Nelson Rodrigues
  2. Casa Devastada - Thiago Mattos
  3. Cartas a um jovem poeta - Rainer Maria Rilke
  4. Santa Joana dos Matadouros - Bertolt Brecht
  5. Reflexos num olho dourado - Carson Mccullers
  6. Metal sem Húmus -
  7. Bom dia, tristeza - Françoise Sagan
  8. Harry Potter e o cálice de fogo  - J.K. Rowlling
  9. Amoras (infantil) - Emicida
  10. Deve haver haveres para que a gente siga existindo - Laila Oliveira

Maio
  1. Grande Sertão: Veredas
  2. Meninas negras (infantil)
  3. Meu crespo é de rainha (infantil) - bell hooks
  4. Minha dança tem história (infantil) - bell hooks
  5. No one belongs here more than you - Miranda July
  6. Não vou mais lavar os pratos - Cristinae Sobral
  7. Chamadas Telefônicas - Roberto Bolaño
  8. Sunflowers

Junho
  1. O contrário da morte - Roberto Saviano
  2. A arte do ator - Jean-jacques Roubine
  3. Ela Disse - Jodi Kantor e Megan Twohey
  4. Um jogo muito perigoso - Adília Lopes
  5. O poeta de pondichery - Adília Lopes
  6. Harry Potter e a Ordem da Fênix
  7. Chapeuzinho Esfarrapado e outros contos feministas
  8. O amanhã não está à venda

Julho

  1. Tornar-se Negro - Neusa dos Santos

Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...