23.11.19

Atualizações - Novembro



Mais uma vez venho aqui tentar estabelecer uma rotina de vida e na internet. Me dei ao luxo de fazer uma viagem quase no fim de semestre e isso bagunçou um pouco minha mente, como é meio esperado de uma viagem que é quase sempre esse furo na sua rotina que te permite sair um pouco e se salvar antes de cair daquela corda bamba que você estava se segurando, pelo menos comigo é isso. Por outro lado também abusei das rede sociais nesse período, também não me arrependo, mas agora que voltei para as obrigações preciso elaborar mecanismos para manter o foco nas prioridades. 

Em 2018 eu reconheci a importância de uma palavra chamada disciplina em 2019 eu tentei aplicá-la diversas vezes e falhei muitas, em 2020 eu quero chegar mais perto de não abandonar hábitos e limites que me coloco. Mas pra que esperar 2020, não é mesmo?

Numa rotina ideal que eu pretendo começar a aplicar semana que vem, meu top 5 de coisas que queria fazer todos os dias assim como escovar os dentes é:

1. 15 minutos de alongamento
2. Academia ou exercícios físicos em casa
3. Dormir às 22:30
4. Escrever todo dia (diário ou sonhos)
5. Fazer 10 minutos de Duolingo (esse é bem bobo, mas nem isso consigo manter)

Meu top 3 semanal

1. Escrever um poema por semana
2. Escrever de 3 a 5 páginas do TCC
3. Entrar no Instagram somente um dia por semana

Eu sempre acho que o Instagram consome muito o meu tempo, porque por exemplo, os 15 minutos de alongamento ou 10 minutos de duolingo com certeza eu passo no Instagram. Vai ser uma mudança drástica e sempre recomendam que ao introduzir hábitos novos na sua rotina é melhor ir ao poucos do que colocar uma meta que parece meio radical para o que você está acostumado, mas vou tratar essa semana como um teste para ver se consigo. 

É simplesmente lógico, meu maior foco atualmente é terminar o tcc e fisicamente me dedicar mais a algumas habilidades que me deixariam feliz, mas eu não dedico nem 10% do meu dia a isso, fico me perguntando se eu então estou me esforçando para me sentir feliz/bem ou fico esperando a felicidade e coisas que quero alcançar caiam do céu, o que sabemos que não vai acontecer. Talvez isso seja o que acontece muito com muita gente, a famosa procrastinação que me desculpem, as redes sociais sabem usar muito bem disso, o ciclo é esse:

1. adiamos, pulamos ou fingimos ignorar prioridades ou coisas que nos fariam bem
2. depois abrimos alguma rede social
reclamamos de algo porque não estamos nos sentindo bem e nem fazendo o que devemos fazer e
3. vamos lá fazer uma pidadinha autodepreciativa irônica sobre um falso orgulho de ser não fitness ou não acordar cedo ou não dormir bem ou se atrasar em tudo 
4. fechamos o aplicativo e
5. vamos dormir com a certeza desse mal estar e cansados demais para fazer algo diferente disso

qual o sentido e por que viver assim parece tão cool?

parte de mim fica se sentindo meio religiosa falando de tudo isso, a rotina e os bons hábitos e trabalhar para ser o que quero (no caso, alguém com uma graduação e um livro de poemas ao fim de 2020) parece meio como seguir uma religião e pode parecer meio aprisionador, mas o que a minha suposta liberdade, falta de propósito ou rotina tem me dado em retorno? ou a você?


9.11.19

Abril Despedaçado - Ismail Kadaré



Em Abril Despedaçado entramos em contato com a vida dos montanheses na Albânia, a história se passa por volta de 1930, num lugar chamado Rrfrash em que toda a vida dos habitantes é regida pelo Kanun, um código moral. Umas das imposições do código é que os conflitos e "tratos" são resolvidos em vermelho, com sangue. Se alguém de um clã é assassinato, outro homem do clã do morto tem que vingar essa morte, e depois disso o outro clã também se vingará - matando novamente alguém do primeiro clã, formando uma cadeia de vingança sem trégua, a não ser que alguém de algum dos clãs peça, o que raramente ocorre.

A sensação que tive é de caminhar por um lugar árido, ao mesmo tempo frio em que o cheiro de sangue se espalha no ar. 

O Kanun é a lei suprema num lugar que recusou qualquer outra invenção legislativa que se tenha sido criada com aparência de "civilidade". Todos os habitantes obedecem fielmente ao código e mesmo que não concordem, acabam por não ter como escapar dessas amarras, é assim que somos apresentados ao nosso protagonista: Gjorg Berisha, um rapaz que precisa vingar a morte do irmão, mas se questiona todo o tempo sobre as imposições do código, ao mesmo tempo que não vê como enfrentar as regras. 

Gjorg se torna um gjaks (aquele que mata pela vingança do sangue do clã) e depois disso Gjorg tem 28 dias de bessa (tempo dado para que o "assassino" possa viver antes de se preparar para ser morto). Nesse tempo chega ao lugar, um casal de estrangeiros recém casados: um escritor, que escreveu sobre o lugar e sua esposa, colocada como bela enigmática. (meio cliché né).

A escolha de colocar esses personagens foi, a meu ver, o ponto fraco do romance. Os diálogos entre os dois são maçantes e o objetivo deles no lugar também é vazio, o autor tentou criar uma tensão sexual entre Diana (a esposa) e Gjorge que não se sustenta. Achei que a personagem Diana poderia ter começado a ficar mais interessante, mas é fracamente desenvolvida em comparação a Gjorg, talvez pelo livro ser curto. Fiquei um pouco desinteressada no meio livro, mas o final é escrito de forma tão bonita que compensa passar por essa essa espécie de aridez literária.

O livro acaba sendo um road romance e eu gosto bastante desse tipo de construção, de acompanhar o caminhar e a travessia do personagem enquanto tem seus 28 dias de vida em que não sabe se acabará no vigésimo novo dia em que acabou com a vida de outro ou se terá mais alguns dias ou que minutos lhe restará, e restando esses minutos o que ele poderia fazer numa vida já traçada antes dele nascer? Gjorg Berisha vaga pelas montanhas albenezas e todo o cenário juntamente com os questionamentos do personagem se tornam uma metáfora bonita: pessoas com destinos traçados para além de seus desejos, montanhas de regras e condutas que se erguem maiores do que seus sonhos, a impossibilidade de ser um, num lugar em que o rosto de quem morre e de quem mata se confundo em vermelho. 
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Tive interesse em ler Abril Despedaçado primeiramente pelo filme, que não vi, mas me comprometi a ler o livro antes de assistir, depois por conhecer o desafio Lendo o Mundo do blog @viaggiando e por fim, num dezembro de 2017 eu e alguns amigos resolvemos emprestar uns livros uns aos outros e eu peguei esse, que só fui ler mais de um ano depois (ainda bem que o Filipe confia em mim). Então, precisando ler um livro curto e querendo devolver essa dívida, iniciei meu percurso com Ismail Kadaré. 

Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...