“Todo começo não é nada mais que uma continuação, e o livro dos acontecimentos se encontra sempre aberto na metade”. (Wislawa Szymborska) Sei que dá um orgulho bom olhar para o passado e ver o longo caminho que percorremos até chegarmos onde estamos, e é um exercício sempre necessário quando às vezes bate aquela síndrome do impostora dizendo que você nunca é boa o bastante ou não merece algo que conquistou.
24.11.20
A beleza de estar começando
“Todo começo não é nada mais que uma continuação, e o livro dos acontecimentos se encontra sempre aberto na metade”. (Wislawa Szymborska) Sei que dá um orgulho bom olhar para o passado e ver o longo caminho que percorremos até chegarmos onde estamos, e é um exercício sempre necessário quando às vezes bate aquela síndrome do impostora dizendo que você nunca é boa o bastante ou não merece algo que conquistou.
10.11.20
Reclamar ou não reclamar
A internet me irrita muito, bastante, muito mesmo. Observar certas coisas me irritam, me deixam mal. Mas como escolher as guerras que valem a pena se empenhar em lutar? Será que todas valem? Será que cada pequena irritação merece mesmo um textão? Quando muitas vezes aquilo não altera quase nada da minha vida? Estou chegando aos 30, e junto com isso vem a expectativa de maturidade, sapiência, e a abertura de uma caixa em que terei guardado ao longo de 3 décadas grandes lições de vida... bem, é o que dizem. Mas talvez nem isso eu tenha conseguido alcançar. Além de não ter também um mestrado, um emprego sólido e bem remunerado, nem a habilidade de falar 3 línguas, também talvez eu ainda não tenha chegado no ar de "eu já aprendi essa lição" que deveria vir no bolo quando eu soprar as 30 velinhas em Janeiro de 2021. Mas.... eu vou tentando. Eu estou mudando, eu, pelo menos, quero estar mudando, e talvez a Nádia que fui há 3 meses ou 10 anos, não tenha mais lugar nesse corpo e mente. Eu posso ter poder de decidir isso? Posso realmente ter poder de mudar minha maneira de ver o mundo e reagir diante certas situações? Quero acreditar que sim.
E com isso que quero tomar uma das maiores decisões da minha vida, maior do que a de fazer uma tatuagem do Pernalonga na panturrilha:
Eu quero reclamar menos. Veja bem que eu não disse que vou parar de reclamar pra sempre, porque isso seria muita pretensão. Vamos aos poucos, eu só quero no momento, aprender a reclamar um pouco menos. Acho que isso condiz com a maturidade e sabedoria que se espera de uma mulher de 30 anos. Essa hábito ranzinza e infrutífero de passar o dia reclamando muito no twitter e fazendo stories afetados com indiretas que ninguém se importa não vai combinar com os terninhos da moda que vou usar agora que farei 30, ou com toda a confiança que exibirei no meu semblante de uma mulher que finalmente entendeu que a vida é curta demais, que o tempo passa voando - ontem mesmo eu estava no ensino médio-, e as coisas já são muito difíceis para perder tempo e energia reclamando na internet. Apesar de parecer ter 20 e ninguém vai nem acreditar que tenho 30, eu preciso dizer que aprendi algo em 30 primaveras. Mas agora falando sério, poucas das reclamações que já fiz publicamente e das pequenas rebeliões que criei na minha juventude serviram de algo a não ser pra me causar mais sofrimento ou atrasar a faculdade (quando eu - sem o apoio de mais ninguém da turma - tranquei a disciplina de um professor misógino e no fim ele se aposentou com uma festinha feita pelos alunos e todo mundo com pena dele porque ele estava doente). Foi percebendo o quanto eu tenho tanta vontade de reclamar o dia todo e de fazer sempre um texto no instagram movida pela raiva que vi ser essa a coisa que mais preciso começar a transformar em mim daqui pra frente. É tão mais elegante dizer "ah, eu já nem reclamo mais disso, apenas continuo fazendo meu trabalho". Tão mais resiliente do que continuar com pequenas frustrações corroendo meu agora não tão jovem coração. Sempre tenho medo de ter um ataque fulminante toda vez que quero escrever um texto reclamando de algo, fico me tremendo MESMO e com taquicardia. Agora pensa ai no vexame, de encontrarem meu corpo e olharem no meu celular e a última coisa que eu estava escrevendo ser: um tweet reclamando. Ou 20 stories reclamões ou pior um textão no Facebook ou Instagram... não quero que essa seja minha última obra prima... se for pra ser que seja um poema, em que vou poder disfarçar com imagens que envolvam o mar e o vento toda a minha fúria interna.
Bom, obviamente eu não estou sabendo terminar esse texto. Mas eu não quero reclamar que as pessoas hoje lêem pouco e não terão a menor paciência de ler um texto mais longo e que o Instagram não vai entregar essa postagem pra ninguém e que merda esse algoritmos e como as redes sociais estão horríveis. Opa, eu já estava reclamando ne? Eu juro, essa foi a última reclamação dos próximos 30 anos, ou dias, ou... segundos.
(Contando 30 segundos)
Mas antes, eu só queria dizer que acho engraçado que.
9.11.20
O que o Teatro me ensinou sobre a Escrita
Durante toda a minha vida como escritora, eu escrevi por impulso e sem rever meus poemas e dava por encerrado aquele trabalho, muitas vezes antes de decidir se ele estava pronto e todas as vezes sem considerar que foi um trabalho.
Maior parte do que escrevia poeticamente, eu postava aqui nesse blog, que tem 10 anos de vida. A escrita era, e é ainda, uma necessidade - pois eu sempre recorria a ela para tentar entender e expressar meus sentimentos.
E era também um porto para ancorar angústias, sim, em geral meus poemas vêm da dor. Não quer dizer que eu romantize isso... talvez tenha romantizado durante um tempo, mas me sinto curada da ideia de que só se é artista se estiver sofrendo - apesar de que meus artistas favoritos sofriam bastante.
Essa ideia foi mudando quando eu comecei a entrar em contato com artistas vivos! Principalmente quando sai da Letras e fui pro Teatro.
O Teatro é algo tão vivo, tão do aqui e agora, e além disso é impossível fazer uma boa apresentação se você estiver sofrendo - e mesmo que seu personagem seja um suícida, não tem como você já entrar na peça desfalecendo.
O Teatro exige atenção, repetição, treino, lapidação e muito vigor e boa parte das vezes suor. Coisa que parecia distante da escrita pra mim. Quando comecei a fazer Teatro tive um sentido mais físico de trabalho artístico que eu não parecia conectar quando escrevia. Reler um texto incontáveis vezes, suar criando arte, me mover, levantar, correr, estar o tempo todo em contato com a influência do outro, ter alguém olhando seu trabalho de perto e te direcionando, lapidar, precisar ouvir o que o outro tem a dizer sobre o seu trabalho.
Acontece que eu fazia uma inversão: não tinha a liberdade da escrita no Teatro - que me parecia opressor ter que depender da direção de alguém para prosseguir; e não tinha o trabalho de repetição e lapidação tão importante para escrita. Sim, maturidade artístia é saber reconhecer os tantos delizes da juventude.
Precisei pôr fim a várias coisas e ficar sozinha no deserto da minha mente para aprender a conectar a escrita com a arte do ator. Para ser generosa e aceitar com humildade o que as duas profissões me oferecem, para saber recusar com sabedoria o que não me cabe. sem raiva, sem frustração.
Precisei ficar dois anos sem escrever pra entender que não poderia depender somente da inspiração para melhorar como artista. Precisei entender que eu podia melhorar como artista, e que ninguém que eu admiro nasceu escrevendo seus melhores poemas.
Precisei ficar afastada dos palcos para saber dosar liberdade e limites. Para saber como ouvir o outro sem me ferir ou ferir alguém. Precisei ouvir durante um tempo só a minha voz, capturar sua força e saber que ela não se apaga porque o outro também fala.
Apesar de ter também sofrido e chorado bastante fazendo Teatro, por motivos que me levaram a fazer terapia (não tô rindo, hein) e ter inclusive sofrido assédio moral e sexual, eu não abandonei o Teatro e eu sei que ele está em mim, sei que atuar está em mim. Simplesmente nós nos encontramos, tá? Não significa que porque eu não estive em algum projeto de teatro no último ano eu não seja mais "do teatro" ou menos atriz.
Em dado momento da vida você escolhe ser artista e depois disso, não dá pra não ser mais. Quer dizer, até dá, se você também escolher não ser. E olha, eu ainda não escolhi isso, não. Não é exatamente a frequência com que você faz algo que vai te dizer se você não é aquilo.
As pessoas usam termos como "afastado" (eu mesma usei aqui), mas quem sabe dizer se aquela pessoa se afastou mesmo? Eu não me afastei! Ele tá aqui coladinho, quando tô lendo um livro pensando que um dia poderia fazer uma peça sobre isso, quando tô vendo um filme e analisando o trabalho do ator.
Claro, recapitulando o que eu disse, você não deixa de ser artista se por alguma circunstância fica um tempo sem praticar aquilo. Mas o que não quer dizer que isso não existe esforço e constância também. Ficar dois anos sem escrever me fez entender que eu não tinha deixado de ser escritora, mas que agora eu precisa agarrar isso com unhas e dentes esculpir meus desejos, algumas vezes a forma não vai vir na mente, você só tem a massa: sua vontade de eescrever e suas mãos, então é sentar e fazer.
Ficar dois anos sem atuar não me fez menos atriz, mas agora que eu sei que não quero viver sem isso, não posso mais estancar diante as recusas. E se for o caso, farei meus próprios projetos, dirigirei um dia meu próprio filme ou espetáculo. Me distanciei dos meus sonhos imersa em dúvidas e presa pelas negativas e traumas que tive, como se isso fosse mais importante do que o fato que eu quero ser atriz. E ninguém vai tirar isso de mim.
Então a primeira lição desse texto é: não deixe que ninguém te diga quem você é. A segunda é: você não precisa se medir pelo tempo do outro pra dizer que é algo. A terceira: se você não perdeu um encanto em fazer aquilo, mas não está de fato fazendo, não quer dizer que você parou. A quarta é: escritores - suem; atores - escrevam.
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15.4.16
Um livro que anda por ai
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Desde dezembro o correio nunca me fez tão feliz, recebi presente de amigo secreto, recebi livros de aniversários, recebi cartinha e desenhos...
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Amoras é um livro voltado para o público infantil, escrito pelo rapper Emicida, com ilustrações de Aldo Fabrini, lançado em 2018 pelo selo C...