10.11.20

Reclamar ou não reclamar



A internet me irrita muito, bastante, muito mesmo. Observar certas coisas me irritam, me deixam mal. Mas como escolher as guerras que valem a pena se empenhar em lutar? Será que todas valem? Será que cada pequena irritação merece mesmo um textão? Quando muitas vezes aquilo não altera quase nada da minha vida? Estou chegando aos 30, e junto com isso vem a expectativa de maturidade, sapiência, e a abertura de uma caixa em que terei guardado ao longo de 3 décadas grandes lições de vida... bem, é o que dizem. Mas talvez nem isso eu tenha conseguido alcançar. Além de não ter também um mestrado, um emprego sólido e bem remunerado, nem a habilidade de falar 3 línguas, também talvez eu ainda não tenha chegado no ar de "eu já aprendi essa lição" que deveria vir no bolo quando eu soprar as 30 velinhas em Janeiro de 2021. Mas.... eu vou tentando. Eu estou mudando, eu, pelo menos, quero estar mudando, e talvez a Nádia que fui há 3 meses ou 10 anos, não tenha mais lugar nesse corpo e mente. Eu posso ter poder de decidir isso? Posso realmente ter poder de mudar minha maneira de ver o mundo e reagir diante certas situações? Quero acreditar que sim.

E com isso que quero tomar uma das maiores decisões da minha vida, maior do que a de fazer uma tatuagem do Pernalonga na panturrilha:

Eu quero reclamar menos. Veja bem que eu não disse que vou parar de reclamar pra sempre, porque isso seria muita pretensão. Vamos aos poucos, eu só quero no momento, aprender a reclamar um pouco menos. Acho que isso condiz com a maturidade e sabedoria que se espera de uma mulher de 30 anos. Essa hábito ranzinza e infrutífero de passar o dia reclamando muito no twitter e fazendo stories afetados com indiretas que ninguém se importa não vai combinar com os terninhos da moda que vou usar agora que farei 30, ou com toda a confiança que exibirei no meu semblante de uma mulher que finalmente entendeu que a vida é curta demais, que o tempo passa voando - ontem mesmo eu estava no ensino médio-, e as coisas já são muito difíceis para perder tempo e energia reclamando na internet. Apesar de parecer ter 20 e ninguém vai nem acreditar que tenho 30, eu preciso dizer que aprendi algo em 30 primaveras. Mas agora falando sério, poucas das reclamações que já fiz publicamente e das pequenas rebeliões que criei na minha juventude serviram de algo a não ser pra me causar mais sofrimento ou atrasar a faculdade (quando eu - sem o apoio de mais ninguém da turma - tranquei a disciplina de um professor misógino e no fim ele se aposentou com uma festinha feita pelos alunos e todo mundo com pena dele porque ele estava doente). Foi percebendo o quanto eu tenho tanta vontade de reclamar o dia todo e de fazer sempre um texto no instagram movida pela raiva que vi ser essa a coisa que mais preciso começar a transformar em mim daqui pra frente. É tão mais elegante dizer "ah, eu já nem reclamo mais disso, apenas continuo fazendo meu trabalho". Tão mais resiliente do que continuar com pequenas frustrações corroendo meu agora não tão jovem coração. Sempre tenho medo de ter um ataque fulminante toda vez que quero escrever um texto reclamando de algo, fico me tremendo MESMO e com taquicardia. Agora pensa ai no vexame, de encontrarem meu corpo e olharem no meu celular e a última coisa que eu estava escrevendo ser: um tweet reclamando. Ou 20 stories reclamões ou pior um textão no Facebook ou Instagram... não quero que essa seja minha última obra prima... se for pra ser que seja um poema, em que vou poder disfarçar com imagens que envolvam o mar e o vento toda a minha fúria interna. 

Bom, obviamente eu não estou sabendo terminar esse texto. Mas eu não quero reclamar que as pessoas hoje lêem pouco e não terão a menor paciência de ler um texto mais longo e que o Instagram não vai entregar essa postagem pra ninguém e que merda esse algoritmos e como as redes sociais estão horríveis. Opa, eu já estava reclamando ne? Eu juro, essa foi a última reclamação dos próximos 30 anos, ou dias, ou... segundos. 

(Contando 30 segundos)

Mas antes, eu só queria dizer que acho engraçado que.






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