31.10.15

Eu quis tentar resumir, e 
já comecei e terminei esse texto mentalmente 
16 vezes só hoje, 
tenho pensando em tudo isso há cinco dias 
e esse é um dos motivos que chego à conclusão: eu gosto de você. 
Você, 
você sente desejo,
eu mexo com você, 
você tem carinho, 
nós fazemos amor muito bem, 
mas você 
você não gosta de mim. 

Nem eu gosto de mim.

Se eu gostasse de mim eu só diria: não dá mais. 
Meus olhos cansados de arder 
E se você gostasse também não ... quando me flagrar dando sopa por aí... 

Eu vim dizer isso: eu preciso parar. 
eu preciso parar de trepar com você. 
E é pra isso que a gente sempre se procura
Quando a gente se viu numa festa da ultima vez e você me olhou faminto e eu te olhei sedenta 
estava escrito na nossa testa que nossas bocas se queriam. 

Mas eu vou gostar mais de você. 
Eu vou gostar muito de você e você não. 
E você não tem que tá, porque
não é um sentimento que te apetece agora. 

Estamos sendo sinceros: 
você em não gostar e eu em gostar. 

Mas eu não posso ficar assim, 
não posso ficar prendendo esse sentimento que quer 
correr nu pela rua gritando. 

Eu não sei viver sem arroubos. 
Não me concebo viver sem paixão. 
E toda vez que te olho depois que a gente goza eu penso 
“... quando a gente vai se apaixonar?”. 

Eu não posso estar
me envolvendo fingindo que não estou envolvida, 
me envolvendo com medo de me machucar, 
calculando cada passo 

Eu não estou sabendo resumir o problema, não é?  

Eu me pergunto porque é tão difícil abrir mão de você. 
não vejo onde eu possa escavar mais, 
não vejo se você quer escavar mais. 
Tá tudo muito bem assim. 
Eu não posso querer mais de você 

É que eu tenho meu mundo todo. 
Se eu não quiser te dar tudo eu não 
estaria a quase três meses nisso, 
a gente não tinha passado da segunda vez. 

Mas tesão não é paixão. 
Isso eu descobri. 

Olha, isto é muito importante. 
Eu não posso mais ser tão descuidada assim com meu coração, 
ele sofre sem nem perceber, 
quando eu vejo ele já tá todo cheio de arranhões. 
E sou eu que faço isso. 
E eu não posso deixá-lo de fora, sabe? 
Ele não consegue ficar de fora... 
não dá pra não me entrar toda nisso. 

Ou eu tô toda eu não tô. 
É assim com todo o resto da minha vida. 
Em certos momentos na vida, 
é preciso saber que nãos pesam mais na alma. 
Esse não que parece pesar é na verdade leveza, eu sei que depois vai..

27.10.15

Onde Estivestes de Noite

Admiro quem sabe resenhar Clarice, cada término de leitura é como se eu saísse de um quase afogamento, em que só sei respirar respirar respirar, não me pergunte se estou bem. Clarice abre o mar para que entremos nele e o fecha acima de nós, flutuamos dentro desse oceano por águas por vezes límpidas por vezes obscuras, cantos escondidos de nós que nem mesmos sabíamos existir, outros que precisávamos de alguém para expôr. Mas é preciso estar atento, é preciso estar aberto, é preciso não ter medo de ter medo, é preciso querer mergulhar. Acho que depois dessa leitura posso dizer que tenho ciúme de Clarice, porque não sei se são todos que se entregam assim, e ela não merece nada menos que isso.

Os 17 contos são: (em negrito os favoritos - como escolher?)

1. A procura de uma dignidade
2. A partida do trem
3. Seco estudo de cavalos
4. Onde estivestes de noite
5. O relatório da coisa
6. O manifesto da cidade
7. As maniganças de Dona Frozina
8. É para lá que eu vou (Preferido)
9. O morto no mar de Ucra
10. Silêncio
11. Esvaziamento
12. Uma tarde plena
13. Um caso complicado
14. Tanta mansidão
15. As águas do mar
16. Tempestade de almas
17. Vida ao natural

Trechos favoritos:

"Então seguiu por um corredor sombrio. Este a levou igualmente a outro mais sombrio. [...] E aí esse corredor a levou a outro que a levou por sua vez a outro [...] Então continuou automaticamente a entrar pelos corredores que sempre davam para outros corredores. [...] Ela quis explicar que sua vida era assim mesmo, mas nem sabia o que queria dizer com "assim mesmo" nem com "sua vida [...] Foi então que a Sra. Jorge B. Xavier bruscamente dobrou-se sobre a pia como se fosse vomitar as vísceras e interrompeu sua ida com uma mudez estraçalhante: tem! que! haver! uma! porta! de saiiiiiiída!" (a procura de uma dignidade)

"Aquela que de noite gritava "estou em espera, em espera", de manhã, toda desgrenhada disse para o leite na leiteira que estava no fogo: - Eu te pego, seu porcaria! Quer ver se tu te mancas e ferves na minha cara, minha vida é esperar. É sabido que se eu desviar um instante o olhar do leite, esse desgraçado vai aproveitar para ferver e entornar. Como a morte que vem quando não se espera. Ela esperou, esperou e o leite não fervia. Então, desligou o gás. pg 55/56 (onde estivestes de noite) 

Estou melancólica porque estou feliz. Não é paradoxo. Depois do ato do amor não dá uma certa melancolia? A da plenitude.” "Será que também estou ficando assim, sem sentimento de amor? Sou uma coisa? Sei que estou com pouca capacidade de amar. Minha capacidade de amar foi pisada demais, meu Deus. Só me resta um fio de desejo. Eu preciso que se fortifique. Porque não é como você pensa, que só a morte importa. Viver, coisa que você não conhece porque é apodrecível - viver apodrecendo importa muito. Um viver seco: um viver o essencial" Pág. 58 (O relatório da coisa) 

"como é cavo este coração no peito da cidade" pg. 65 (o manifesto da cidade)

"Enfim terei uma resposta. Que resposta? a do amor. Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor. O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.
À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.
Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.
Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. E feneço lentamente.
Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós." (É para lá que eu vou)

"O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar" (vida ao natural)

"Sabe que está brilhando de água , e sal e sol. Mesmo que o esqueça daqui a uns minutos, nunca poderá perder tudo isso. E sabe de algum modo obscuro que seus cabelos escorridos são de náufrago. Porque sabe – sabe que fez um perigo. Um perigo tão antigo quanto o ser humano." (As águas do mar)


25.10.15

Lembranças de uma viagem à Morro Branco

Pensei muito em músicas brasileiras quando fui selecionar as fotos...






Lancei no espaço
Um grito, um desabafo
E o que me importa
É não estar vencido
Eu quis cantar
Minha canção iluminada de sol
O sol é tão bonito
Eu vou
Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
Por que não, por que não…

24.10.15

Seek me out

I.
Minha boceta cheira a sexo, 
cheira ao aroma de maconha dos seus dedos, 
cheira a sua saliva, 
cheira a látex, 
cheira ao seu pau também, 
cheira aos minutos em que eu não estava certa 
do que estava fazendo, 
cheira aos meus orgasmos no meio dessa confusão, 
cheira aos dias em que você não se importou, 
cheira as suas mentirinhas, 
cheira as minhas mentirinhas, 
cheira a minha quase culpa pensando que a pessoa que eu estou 
cheira a você falando que agora vai ser diferente 
cheira a eu pensando que talvez seja tarde demais, 
cheira ao meu silêncio, 
olhe olhe olhe olhe olhe pra mim, 
eu sou todos os peixes que você deixou apodrecer na geladeira desligada.

II.

o gosto de saliva no meu pescoço nunca foi tão forte, 
eu queria me livrar disso, 
ainda tinha 40 minutos até chegar em casa. 
Eu pensava em você, 
mas o gosto era dele. 
nós somos as confusões das luzes quando se apagam. 

III.

quando você dormiu aqui 
e a gente transou a primeira vez, 
faltou água. 
tivemos que sair com cheiro de sexo. 
mas eu não senti, com você foi diferente, 
eu não senti o cheiro da sua saliva no meu pescoço. 
e você pegou na minha mão no caminho 
e sorrindo me disse "eu estou com seu cheiro", 
eu te abracei forte.

Melhores gifs da Anna Karina

Não preciso dizer mais nada.




















13.10.15

"a beleza fatal dos abismos / o prazer da queda livre"



-passei horas esperando você ficar online e. quando finalmente seu nome apareceu com a bolinha verde na barra lateral. eu não tive coragem-

Assim termina um dos preciosos breves trechos de Raisa, Breves, mas reverberantes, curtas frases que ficaram rodando na minha mente por horas depois da leitura rápida. Engoli esse livro como se engole um comprimido. Tinha que ser rápido, era necessário, às vezes o gosto amargava, não por ser ruim, mas por ser verdade, e depois os efeitos aliviaram as tensões do meu corpo. Catarse. É uma surpresa tão gostosa e generosa que Raisa nos dá, nesse combo de letras e traços. De desenhos não sei falar, só de sensações. Alguns são feitos sobre notícias de jornais. O cotidiano do mundo lá fora se confunde com o meu, o meu se sobressai? Rostos cansados, expressões delicadas da sensibilidade sutil que só almas sensíveis podem captar. Parece cliché, mas acho que você não viu quando eu chorei ao seu lado enquanto você ofegava... Essa resenha se mistura com tudo que me deu vontade de escrever depois de ler esse livro, então vai assim mesmo. Raisa fala de forma poética, sucinta, delicada e ao mesmo tempo direta sobre os entrelaçamentos das relações na "era virtual/real". Fala dos olhares que se cruzam em uma palestra. Fala do nervosismo estúpido de esperar os seres estarem conectados (conectados com o que? você se conectaria a mim? você está disponível? ou é só o seu status na internet?). sobre os corpos que se falam, mas no silêncio calam o que sentem. sobre despedidas, sobre encontros, sobre infância, sobre cigarros não fumados, sobre desconstruir mundos, sobre sua chegada, sobre sua partida, sobre não te amar mais, sobre já quase ter me apaixonado, sobre ter filhos, sobre não ter. sobre abismo, abismos, abismos. quem pode se jogar?




12.10.15

Thick skin and elastic heart

Eu criei meu dicionário particular pra poder te entender, 
no seu mundo as coisas são de outro jeito, 
no seu mundo que eu não cheguei a entrar. 
eu bati tanto na sua porta, 
será que você pôde ouvir? 
será que escutou o barulho de notificações que se seguiram naquela semana? 
ou meu silêncio foi mais barulhento do que o som dos meus gemidos de madrugada? 
então eu calei,
então emburrei-me, 
como a carioca que se jogou pela janela, 
joguei todas as letras de músicas inexistentes que sonhei...

desenho de Raisa Christina (clique na imagem)
*texto inspirado no livro "Mensagens Enviadas Enquanto você estava Desconectado", de Raisa Christina.

5.10.15

Dragonfly



Eu não tinha medos, eu não era assim. Dizem que é bom, o medo nos protege dos espinhos do mundo. Agora eu aprendi a me recuperar mais rápido. Agora eu me desfaço de você em dois dias. Cura instantânea para amores passageiros. Mas antes eu estava viva, antes meus olhos brilhavam. É como impedir uma criança de correr na rua. Os riscos são grandes. Os carros passam furiosos. Você pode cair. Me deixe cair. Quero ficar com essa lembrança. Quero até mesmo poder rir depois. Mas quero saber que mesmo caída eu corri. E nesse instante o mundo me pertencia. Nesse instante eu poderia ir até o outro continente. Eu correria até minhas pernas não aguentarem mais. Eu correria até chegar a você. Eu sentiria o vento no meu rosto e estaria sorrindo. Happiness hit her like a train. Eu quero que você me atinja. Eu quero que o amor me atinja em cheio. Eu quero poder correr. Diante todos os avisos. Diante todos os anúncios. Eu quero poder correr. Eu quero não ter receios. Esse receio me deixa morta. Eu preciso de alimentos. Antes eu era viva. Agora sempre começa com um gosto azedo de cimento. Você deixou que chovesse na parede e agora ela está verde. Eu tenho cimento nos meus pés, eu tenho cimento nas minhas mãos. Eu tenho um muro que cerca o meu coração. Porque faz parte de toda uma conduta não confundir as coisas. Faz parte de toda uma conduta não se entregar demais. Eu tinha intensidades. Que o mundo não vai suportar. Que o mundo não quer suportar. Existe um limite, eu percebo agora. Existe um limite para se ser. Para se sentir. Existe um limite para existir. Sua existência é limitada, você não vê? E eu era demais. Ela também. Mas ela foi pra Dinamarca e lá também ela era demais. E Não importa em que galáxia nós sempre seremos demais. Coisa que o mundo não suporta não. Coisa que vocês não entendem não. Mas a gente segura na mão distante uma da outra. E não iremos soltar. Eu vou voltar a regar a intensidade em mim. Porque é isso que eu sou. Eu não preciso da sua mão tampando o sol. Tudo está iluminado agora. Você não quer caminhar no sol comigo? Por que esse quarto escuro? E nós vivemos nele. Essa prisão eu mesma me coloquei lá. Essa prisão eu mesma tenho a chave. Eu posso abrir hoje. Mas eu deixo pra depois. Eu ainda quero ver o que pode acontecer. Mas eu já li esse livro e está tudo igual. 

Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...