29.7.13

vento idiota

Já perdeu a graça esse teu show e as figuras na parede, os recortes, citações e livros guardados. Não há quem volte duas vezes os olhos, não há quem nem sequer pense uma segunda vez no cabelo ondulado ou no sorriso estranho; quem toque novamente nos joelhos como se quisesse atravessar a carne, quem observe a lágrima. Um dia conclui-se que não houve quem se importasse de te fazer mal, nem muito menos bem. Só o cantor com a voz de "cola e areia" respondeu: é um milagre que ainda saiba respirar.


23.7.13

últimos trechos de 'uma espiã na casa do amor'

Finalmente terminei a leitura de 'uma espiã na casa do amor' e as últimas páginas foram tão arrebatadoras quanto o começo do livro. Digamos que eu não mudei por conta de Anaïs, mas este livro me fez compreender melhor toda a minha incompreensão, me fez me entender um pouco mais, me aceitar até. As dúvidas e crises da personagem se assemelham muito com as minhas atuais, então a todo tempo senti Anaïs falando para mim, me acolhendo, me fazendo entender tudo que estou passando. Para sempre meu agradecimento à esta escritora fantástica.



[...] Ninguém iria aplaudir quando ela fosse bem-sucedida por causa de sua engenhosidade em derrotar as limitações da vida.

"Mas quando ela queria terminar um papel, tornar-se ela própria de novo, a outra se sentia imensamente traída, e não apenas lutava contra a alteração, como também ficava furiosa com ela."

[...] Realmente uma mulher dividida, uma mulher dividida em incontáveis silhuetas [...]. A cada ano, assim como uma árvore apresenta um novo anel de crescimento,  ela deveria estar apta a dizer:
- Alan, aqui está uma nova versão de Sabina, acrescente-a ao resto, misture-as bem, firme-se nelas quando abracá-la, segure-as todas de uma vez em seus braços, caso contrário, divididas, separadas, cada imagem viverá vida própria e não será uma, mas seis, sete ou oito Sabinas que às vezes caminharão em uníssono, por um grande esforço de síntese, às vezes separadamente.[...] Seria um crime procurar casar cada Sabina com um conjugue, combinar cada uma em turnos com uma vida diferente?

"Eu tive vocação. Apareceu bem cedo na minha capacidade de enganar a mim mesma."

"- Não sei o que estou preservando da detecção, exceto talvez o fato de me sentir culpada por vários amores, por muitos amores em vez de um único.
- Mas isso não é nenhum crime. É apenas um caso de amores divididos!"

15.7.13

Mais Anaïs

Meu livro-terapia do momento. Apaixonada! 


"Foi quando viu que a vida dos espiões compreendeu plenamente a tensão com que vivia cada momento, igual à deles. O medo de se comprometer, de dormir fazendo muito barulho, de falar durante o sono, de descuidar-se no timbre de voz ou no comportamento, a necessidade de fingir continuamente, de improvisações ou motivações rápidas, de rápidas justificativas para sua presença aqui ou ali.
[...]
Sou uma espiã internacional na casa do amor"

"A vida de todo espião sempre terminou em morte ignominiosa" 

"[...] Alan era o centro de sua vida. Esses outros momentos de febre eram momentos de um sonho: insubstanciais e que desapareciam tão depressa quanto chegavam. Mas se Alan a repudiasse seria sua morte. Sua existência ao olhos de Alan era sua única existência verdadeira. Dizer "Alan me rejeitou" era o mesmo que dizer "Alan me matou.

As carícias da noite anterior foram intensamente maravilhosas, como todas as chamas multicolores de fogos de artifício, estouros de sóis explodidos e de neons dentro de seu corpo, cometas voadores voltados para todos os centros do prazer, estrelas cadentes de penetrantes êxtases, mesmo assim, se ela dissesse "quero ficar aqui e viver com Mambo para sempre", seria o mesmo que as crianças que ela havia visto tentando ficar debaixo da chuva de faíscas dos fogos de artifício que duravam instantes e as cobriam de cinzas"

11.7.13

Been trying hard not to get into trouble, but I I’ve got a war in my mind

Uma espiã na casa do Amor - Anaïs Nin

Não tenho palavras para dizer a importância desse livro no presente momento da minha vida. Gostaria de fazer uma crítica, uma análise mais profunda, algo mais impessoal, mas no momento vai além do meu alcance. Só tenho a dizer que Anaïs foi uma escritora e uma mulher fascinante, no mais cliché digo 'além de seu tempo", com ideias e estilo de vida, que sim, chocam até hoje.



"[...] Penso que somos juízes mais severos dos nossos próprios atos do que os juízes profissionais. Julgamos nossos pensamentos, nossas intenções, nossas imprecações secretas, nossos ódios secretos, não apenas nossos atos."

"[...] sentiu-se desagradável, não merecedora de amor, não bela o bastante, não de uma qualidade digna de ser amada.

Por que sou amada por ele? Será que ele continua me amando? Seu amor é por algo 
que não sou. Não sou suficientemente bela, não sou boa, não sou boa para ele, ele não deveria me amar, eu não mereço,[...]. Alan diz que meus olhos são lindos, mas não posso vê-los, para mim eles são olhos mentirosos, minha boca mente, há apenas algumas horas estava sendo beijada por outro... Ele está beijando a noca beijada por outro, está beijando os olhos que adoram outro... vergonha... vergonha... vergonha... as mentiras, as mentiras... [...] Posso esquecer o dia de ontem, esquecer a vertigem, essa selvageria, posso voltar para casa e nela permanecer? Às vezes não consigo suportar as rápidas mudanças de cena, as transições rápidas, não consigo fazer calmamente as mudanças de um relacionamento para o outro. Algumas partes de mim são arrancadas como um fragmento, voam aqui e ali. [...] Onde quer que esteja estou em muitas peças, sem ousar juntá-las, assim como não ousaria juntar os dois homens. Agora estou aqui, onde não serei ferida de maneira alguma, por nenhuma palavra ou gesto... mas não sou toda eu que estou aqui, apenas metade de mim está sendo protegida. [...] Lave seus olhos mentirosos e seu rosto mentiroso, vista as roupas que ficaram em casa, que são delem batizadas por suas mãos, interprete o papel de uma mulher inteira, pelo menos vocês sempre desejou ser isso, não é uma mentira completa"

"Ao mesmo tempo, ela desejava poder contar-lhe o que aconteceu de verdade; desejava poder repousar a cabeça nos ombros dele, como se a repousasse sobre uma força protetora, uma compreensão protetora não concernente à posse dela, mas sim a um completo conhecimento sobre ela, que incluísse a absolvição."

"E Sabina soube que quando ele quisesse a febre iria chamá-la."

"Esposa? Amante? Que bom contemplar esses objetos sem o tremor de arrependimento, inveja ou ciúme. Era esse o significado da liberdade. Livre de ligação, da dependência, da capacidade de sentir dor."

Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

  Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um ho...