Só as mulheres Sangram foi publicado em 2011 e reúne 10 contos que giram em torno do cotidiano da população negra brasileira em diversos contextos. O livro surge como urgência de existir, denunciar e rexistir. Lia Vieira dedica sua obra a "celebrar a mulher que dói a dor de ser", "para aquelas que proclamarão, a cada dia, o fim da exploração e da opressão e se moverão sobreviventes em direção à liberdade".
A escrita de Lia se apresenta como prosa poética, alguns contos nem sempre seguem uma forma mais tradicional do gênero. As personagens são heróis dos morros, das vielas e as vítimas da violência policial, mas também são homenageados antepassados, como no conto Rosa da Farinha. "Operação Candelária" é um conto escrito como ficção científica, mas que faz referência à chacina da Candelária, um dos mais fortes. Para além das denúncias sociais, a importância do livro se dá pela representatividade de protagonistas negros e negras na ficção brasileira, há por exemplo um conto sobre um romance breve entre dois escritores negros num evento literário em Havana, num mundo em que todas as capas dos romances de Nicholas Sparks são com pessoas brancas, falar do amor entre pretos importa.
Numa sociedade em que mais da metade da população é negra, mas não são os escritores negros os mais lidos, como podemos falar em conhecer literatura brasileira se o que é mais lido não representa essa parcela?
Numa matéria do El País, a pesquisadora e professora Regina Dalcastagnè mostra dados sobre o assunto e afirma: "Talvez eles não sejam editados porque são sempre encarados como uma literatura de nicho. Por que a literatura de um homem branco, de classe média, é considerada universal e a de uma mulher negra não seria?”, comenta a pesquisadora.
Numa matéria do El País, a pesquisadora e professora Regina Dalcastagnè mostra dados sobre o assunto e afirma: "Talvez eles não sejam editados porque são sempre encarados como uma literatura de nicho. Por que a literatura de um homem branco, de classe média, é considerada universal e a de uma mulher negra não seria?”, comenta a pesquisadora.
Na matéria temos os dados "Entre 2004 e 2014, apenas 2,5% dos autores publicados não eram brancos. No mesmo recorte temporal, só 6,9% dos personagens retratados nos romances eram negros, sendo que só 4,5% eram protagonistas da história. E, entre 1990 e 2004, o top cinco de ocupações dos personagens negros era: bandido, empregado doméstico, escravo, profissional do sexo e dona de casa"
Autores negros por falarem de racismo ou escolherem escrever sobre sua cor, criarem protagonistas negros não são só para leitores negros, não são literatura de nicho, assim como nunca se questionou se só pessoas brancas devem ler escritoras brancos. Não podemos afirmar conhecer a literatura brasileira quando tão poucos escritores negros são referenciados.
Lia Vieira é doutorada, tem mais duas obras individuais e participou de diversas antologias.
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