Poemas Obsessivos é o segundo livro da @mikaandradepoeta. Foi minha #6 leitura do ano, feita em Março, mês da poesia, mês que homenageamos mulheres. E Mika me lembra tudo isso. Mikaelly recorta seu universo em 8 partes: poemas, saudade, livros, corpo, mar/amar, cotidiano, infância, mulher, com isso temos um lindo quebra-cabeça poético, escrito com o barulho inquietante das mãos de quem encontra na poesia sua tábua de salvação, como diz Wislawa; ou o grito clariceano de quem só existe porque escreve; ou como Emily Dickinson no anonimato de uma vida toda, mas que no falso silêncio cotidiano encontrou voz nos versos que ninguém via. No entanto Mika é vista, é lida, é ouvida, porque assim quis. E mesmo sendo difícil se manter sonhante - sonhadora e avante - nessa trajetória de autora independente (e aqui é independente mesmo!l), Mika e sua obsessão pela poesia não cessam de re-existir. ✏✏✏ "Eu me lembro também da reação da minha mãe que me encorajou a levanta e continuar correndo apesar do sangue e da dor" 📖📖📖 É possível conseguir o livro diretamente com a autora
29.4.18
[Impressão] Volto Semana que Vem - Maria Pilla
Volto Semana que Vem é um livro de relatos que conta a vivência da autora enquanto presa e exilada durante a ditadura brasileira e argentina. Os escritos oscilam entre passado e presente, não seguem ordem cronológica alguma, mas os títulos sempre mencionam o ano e o local em que a história se passa. Mistura denúncia e memória; lembranças cruas, secas, e leves também. Maria fala de momentos que passou e outros que escutou no período em que esteve em cárcere e outros em que foi exilada durante 20 anos do Brasil, avisando para o pai que "voltaria semana que vem".
O livro é quase todo narrado em primeira pessoa, e o que não está, é tão próximo da autora, que acredito que é como se fosse ela também. Cada história de alguma mãe de um desaparecido político, cada esposa, filho, filha, parente que perderam tantos entes queridos para esses dois regimes cruéis, é um pouco de Maria Pilla, é um pouco eu e você, que sente sempre precisar ter estado lá. Porém, Maria conta tudo isso secamente, sem adjetivos, sem nada além do que aconteceu, como jornalista, no cerne da profissão, ela resolveu escrever os fatos. O tom nada poético de Maria beira um documento policial, e por conta disso, o livro é acusado de frio. Vi algumas pessoas dizendo não ter "sentido" as histórias, e eu me pergunto: o que mais é preciso dizer para sentir a dor da crueldade de um escritor que é perseguido e leva 52 tiros? Se Maria Pilla escreve "morreu com 52 tiros", não preciso de nada mais para saber da pervesidade de 52 tiros. Os números, o ato, o ano, as razões, já são por si só a violência, sem adjetivos.
Não se falta intensidade, pois não trata-se aqui de ficcionalizar a realidade ou tornar o horror mais próximo do que já é.
Não se falta intensidade, pois não trata-se aqui de ficcionalizar a realidade ou tornar o horror mais próximo do que já é.
Assim é que Maria Pilla se faz importante com seu "livreto", que pesa muito mais do que a balança conta. Volto Semana que Vem tem o peso histórico que as palavras podem até não dar conta, e deve ser por isso que Maria Pilla escreveu desse modo, o julgamento dos fatos, os adjetivos ficam para o leitor. Em uma entrevista ela mesma fala: “Não sou vítima, eu escolhi a militância”
Sul21- O que te levou a escrever agora um livro de memórias? Maria Regina Pilla – Há anos, tinha vontade de escrever um livro, de botar no papel tudo aquilo, que, apesar de ter feito análise, continua me incomodando. Escrever o livro foi como me livrar de um problema, me livrar de um período da minha vida que foi bacana, no qual aprendi muita coisa, mas também enfrentei coisas bem difíceis. Deixei para escrever as partes ruins todas juntas. Foi bem difícil. Era uma coisa sofrida, que vinha de dentro. Cuidei para que o texto tivesse um tom de não truculência, pois não interessa, já contaram, todo mundo já sabe como é que é (a prisão, a tortura). Fiz outro tipo de abordagem, todos que leram viram isso, um jeito diferente de contar esta história.
23.4.18
Malditos
Escrevo sobre você fingindo que ainda te amo
Pois com o século XIX tive minhas primeiras lições de poesia
Por uma
ótica
Muito romântica demasiadamente tóxica
Pois com o século XIX tive minhas primeiras lições de poesia
Por uma
ótica
Muito romântica demasiadamente tóxica
Paradoxo
Há muitos meses estou com seu livro emprestado
Quero ler logo para te devolver
Não ter nada seu
Não consigo ler pois me lembra seus dedos compridos cheios de veias
Que não vão embora
Quero ler logo para te devolver
Não ter nada seu
Não consigo ler pois me lembra seus dedos compridos cheios de veias
Que não vão embora
9.4.18
Study/Reading blog
Atualmente estou em dois processos de montagem diferentes. Esses dias não estou conseguindo ler muito literatura, pois necessito ler textos e escrever material de produção dos espetáculos. Fazer teatro aqui é meio assim, os atores geralmente produzem também.
Um dos espetáculos é parte fundamental da minha formação universitária, para que eu possa me graduar preciso montar um espetáculo, o período para essa montagem é dentro do cronograma da universidade e temos uma disciplina para isso, chamada TCC I. Esse trabalho é inspirado em dois textos "Nada para Pejuahó", de Júlio Cortázar e "Insulto ao público", de Peter Handke.
Domingo, 08/04, à noite, eu estava corrigindo e reescrevendo parte do projeto, que é o material que mandamos para os teatros em busca de pauta. Pauta é o espaço e dia que os teatros fornecem para apresentações. No projeto, detalha-se o processo de criação da peça, a concepção cênica, sinopse, currículo dos artistas e ficha técnica. Tudo isso tem sido feito coletivamente com todos os atores e com a direção, no caso a professora que está orientando o trabalho. .
Ja ná segunda, 00h comecei os estudos para o outro espetáculo, baseado no romance "A Mãe", de Gorki. Li "Carta ao Teatro de Trabalhadores Theatre Union de Nova York sobre a peça A Mãe", de Brecht. E metade de "A representação emancipada", de Bernard Dort. Textos sugeridos pelo diretor/encenador do grupo para solidificar nossa compreensão acerca do material que estamos trabalhando
A tarde não tive aula, mas fui a faculdade, pois vendo pudim lá <3, tá fazendo sucesso, comecei há uma semana e meia, fiquei de tarde lendo um pouco, avancei um tanto em Guerra e Paz mas ainda estou duas semanas atrasada :( depois tive uma reunião sobre um trabalho de outra disciplina.
Hoje, noite, li "Brecht a grandeza interna do Stanilismo", de Slavoj Žižek. Texto bem difícil. Marquei algumas coisas, mas não farei resumo.
Agora são 1:30. Não vi um filme que queria/devia ver. Não li o capítulo de um livro que devia ler.
Toda vez sinto que falta tanto, preciso ainda me organizar melhor quanto a distrações, esse ano somente comecei a ter mais consciência disso.
Amanhã, terça 10/04 o dia começa cedo, preciso ir ao centro ver coisas de produção do espetáculo. Ensaio da montagem (é o TCC I) a tarde inteira.
É isso que eu quero, estudar, trabalhar com arte, está tudo muito difícil, mas enquanto eu ainda puder acreditar nesse caminho é nele que quero seguir. Mas com tudo isso, esse governo, esses tempos, as vezes sinto meus sonhos se afastando
Segue em anexo algumas fotos motivacionais
Att.
Nádia Camuça
8.4.18
rotina
te vejo numa festinha
te odeio
chego bebada
em casa
me masturbo
te esqueço
gostaria de te dizer que fiz esse poema pensando em ti
mas não posso
coloco as músicas que me lembram você
em modo privado
tudo sobre nós é um segredo
ruim.
te odeio
chego bebada
em casa
me masturbo
te esqueço
gostaria de te dizer que fiz esse poema pensando em ti
mas não posso
coloco as músicas que me lembram você
em modo privado
tudo sobre nós é um segredo
ruim.
5.4.18
[Impressão] O Coração é um Caçador Solitário, Carson Mccullers
The Heart is a lonely hunter foi publicado em 1940, e é o primeiro livro da estadunidense Carson Mccullers e uma das mais brilhantes estreias que a literatura mundial presenciou, por certo.
A escrita de Carson é assim, uma punhalada e um afago, te deixa sem ar e afrouxa o nó da gravata, te coloca no colo e por outros momentos apenas te deixa na sarjeta, se perguntando o por quê e sem respostas, no frio, com seu coração solitário na mão.
O coração treme.
Mick Kelly, Singer, Biff, Dr. Coopland, Jake Blount são os personagens centrais da narrativa e Solidão é o espirito vagando no interior de cada um deles, costurando seus corações com uma agulha pungente.
O Coração sangra.
Carson conseguiu nesse romance unir todos os sonhos, todas as utopias, todos os desejos mais íntimos dessas criaturas de papel dando a eles um sopro de vida que faz o leitor ser capaz de identificar os personagens em pessoas reais, ou em si. Eu me vi um pouco como Kelly, como Blount, como Coopland. Vi meu padrasto, meu pai, minha vizinha... vi até mesmo algum eu que eu não tinha chegado a tocar a campanhia e perguntar "ei, você ainda está ai?".
Cada capítulo é tão bem construido, tão bem estruturado, Carson coloca o leitor na ponta de sua caneta e o conduz extamente para onde ela quer. É possível perceber uma certa curva que ela desenha em alguns momentos. Começa assim, tudo parece muito normal, um dia comum, um dia qualquer, pessoas felizes, mas sabe quando você tá deitada e tem aquela mosca que não te deixa em paz? Carson causa essa sensação, tudo é como um dia bem ensolarado, mas com nuvens cinzas passando de vez em quando avisando uma temestade chegando; tudo parece muito normal, só pra que de repente você veja lá de longe um tornado chegando até você, e não há como evitar, a história já foi escrita. Muitas vezes fechei o livro e fiquei "nãaaaaao, que merda que merda que merda", não adianta chorar, era o que o rosto de Carson me dizia, estou só retratando a vida.
Talvez vocês queiram saber quem são essas pessoas e o que se trata a história. Eu tenho muita vontade de falar ao mesmo tempo queria só te dizer, "Leia". Mas ok, eu irei apresentar meus novos vizinhos. Numa próxima postagem.
A escrita de Carson é assim, uma punhalada e um afago, te deixa sem ar e afrouxa o nó da gravata, te coloca no colo e por outros momentos apenas te deixa na sarjeta, se perguntando o por quê e sem respostas, no frio, com seu coração solitário na mão.
O coração treme.
Mick Kelly, Singer, Biff, Dr. Coopland, Jake Blount são os personagens centrais da narrativa e Solidão é o espirito vagando no interior de cada um deles, costurando seus corações com uma agulha pungente.
O Coração sangra.
Carson conseguiu nesse romance unir todos os sonhos, todas as utopias, todos os desejos mais íntimos dessas criaturas de papel dando a eles um sopro de vida que faz o leitor ser capaz de identificar os personagens em pessoas reais, ou em si. Eu me vi um pouco como Kelly, como Blount, como Coopland. Vi meu padrasto, meu pai, minha vizinha... vi até mesmo algum eu que eu não tinha chegado a tocar a campanhia e perguntar "ei, você ainda está ai?".
Cada capítulo é tão bem construido, tão bem estruturado, Carson coloca o leitor na ponta de sua caneta e o conduz extamente para onde ela quer. É possível perceber uma certa curva que ela desenha em alguns momentos. Começa assim, tudo parece muito normal, um dia comum, um dia qualquer, pessoas felizes, mas sabe quando você tá deitada e tem aquela mosca que não te deixa em paz? Carson causa essa sensação, tudo é como um dia bem ensolarado, mas com nuvens cinzas passando de vez em quando avisando uma temestade chegando; tudo parece muito normal, só pra que de repente você veja lá de longe um tornado chegando até você, e não há como evitar, a história já foi escrita. Muitas vezes fechei o livro e fiquei "nãaaaaao, que merda que merda que merda", não adianta chorar, era o que o rosto de Carson me dizia, estou só retratando a vida.
Talvez vocês queiram saber quem são essas pessoas e o que se trata a história. Eu tenho muita vontade de falar ao mesmo tempo queria só te dizer, "Leia". Mas ok, eu irei apresentar meus novos vizinhos. Numa próxima postagem.
[Atualização] Desafio 52 films by women / Fevereiro e Março
Estou esse ano tentando concluir o desafio 52 films by women, que para quem não conhece ainda, consiste em assistir 52 filmes dirigidos por mulheres durante um ano. A ideia é semelhante a campanha Leia Mulheres. Já vejo hoje muita gente engajada nessa ideia de ler mais mulheres, mas percebo que ainda falta essa percepção com relação a outras artes, como o cinema. Assim, como livros, é um meio de dar voz a narrativas e olhares sob a perspectiva das mulheres, ainda mais num meio tão machista quanto o audiovisual. Desde que comecei a ter uma visão mais critica quanto a isso, percebi que muitos diretores que eu idolatrava mostravam visões muito machistas em seus filmes, coisa que eu não percebi há dois, três anos. Cada vez mais meu olhar tem se aguçado para esse ponto, é um caminho sem volta, e tenho tido felizes encontros com filmes dirigidos por mulheres, que eu não prestava atenção antes.
Porém percebi um detalhe, me faltava maior aproximação do cinema de diretoras negras, com isso resolvi escavar mais a mnha busca, e além de diretoras tenho procurado mais diretoras negras.
O acesso não é fácil, eu dedico por vezes horas procurando os filmes. Mas pra mim isso é importante, é importante porque se eu tenho que procurar tanto pra achar um filme de uma diretora negra ou se eu nunca ouvi falar dela, é porque o acesso a ela não está sendo dada de forma igual. Há quem diga, "não vou ler/ver uma obra pela raça ou gênero, isso é indiferente.", isso é uma ilusão, não é indiferente enquanto mulheres brancas e mulheres negras não estão igualmente nas mesmas estatísticas de visibilidade. Enfim, os filmes que vi em Fevereiro e Março.
Fevereiro:
I am not a witch, Rungano Nyoni, 2017 |
Pariah, Dee Rees, 2011 |
Loving Vincent, Dorota Kobiela, Hugh Welchman, 2017 |
Março:
Já em Março, eu só vi dois filmes, os dois sobre a ditadutra militar. Um, um documentário sobre o guerrilheiro Marighela, dirigido pela sobrinha dele, é um bonito registro para se conhecer um pouco da importância do Marighela no combate a ditadura, em nenhum momento é negado os crimes que ele cometeu, ou seus ideias guerrilheiros, mas mostra também para além de qualquer pré julgamento, a base de sua ideiologia
E o filme "A memória que me contam". A cineasta Lúcia Murat, volta ao tema da ditadura militar, assunto que ela ja trabalhara no doc-ficção "Que bom te ver está viva". O doc, mistura depoimentos reais com trechos ficionais iterpretados por Irene Revache. Já "A memória que me contam", se passa atualmente, e Ana, ex-guerrilheira está internada, Irene Revache interpreta uma ex militante amiga de Ana, que relembra o tempo da ditadura com outros amigos. Porém esse eu achei bem forçado e burguês. Fiquei bem incomodada com uma coisa meio novela das oito tentando dar peso a narrativa, não sei se pelos atores serem TODOS "globais". Parecia um grupo de classe média falando de uma fase "rebelde". Bem diferente do peso que o documentário Marighella traz.
3.4.18
esse não é um poema romântico
eu lembro das suas mãos e sua voz rouca
que me arranham como unhas roídas em vestido de seda
ou quando eu penso nas ruas e estradas vazias dos filmes de won kar wai
habitadas por sentimentos sombrios cobertas de solidão.
todas as histórias de paixão nos alimentam como se um carro capotando e caindo num abismo fosse o mesmo de um grande amor.
que me arranham como unhas roídas em vestido de seda
ou quando eu penso nas ruas e estradas vazias dos filmes de won kar wai
habitadas por sentimentos sombrios cobertas de solidão.
todas as histórias de paixão nos alimentam como se um carro capotando e caindo num abismo fosse o mesmo de um grande amor.
2.4.18
O que você quis dizer com eu não deveria gritar?
uma mulher com convicções
pode ser uma pedra enorme no seu sapato ou um muro
e você vai bater de frente com ela e quebrar a cara
há muito tempo parei de me importar com o choro dos hipócritas
e não peço mais desculpas pelo meu útero sangrar todo mês
ou ter uma vagina peluda falante
abulantemente falante
absurdamente falante
dizendo coisas cabeludas
pro seus ouvidos entupidos de cera
quente
tenho pelos encravados
e quando eu grito eles soltam dos poros
por isso preciso gritar com frequencia
pelo encravado causa tumor.
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