Estou há apenas 5 dias sem Instagram, mas parece que faz um mês, só pra você vê o quanto essa realidade virtual está entranhada no meu cérebro.
No entanto, hoje acabei acessado pelo perfil da minha mãe (eita, será uma recaída?) algumas coisas e me deparei com uma postagem da Vra Tata sobre parceiras com editoras e fez TANTO SENTIDO.
Pra quem não sabe o que é, (eu também não sei na prática porque nunca fui """parceira""" de nenhuma editora), algumas editoras abrem anualmente inscrições para produtores de conteúdo da internet, se aceito, a editora manda livros de graça e você tem que escrever sobre eles nas suas plataformas. O questionamento da Vra Tata é: quem ganha mais com isso? Ou melhor, quem lucra mais?
A princípio parece que uma mão lava a outra, mas é importante frisar a questão: isso não devia valer para todo mundo igualmente. E o que as redes sociais fazem é justamente polir as diversas nuances que nos fazem sermos diferentes para tentar massificar as realidades, para tentar nos tornar todos iguais ou queremos ser iguais a certas pessoas com algum status de valor.
Acho que a base do que a sociedade valoriza não muda, mas se maquia: no fim todo mundo quer... poder. Hoje, atenção é poder. Se você é uma pessoa a qual as pessoas prestam muita atenção ou pelo menos em números parece que você tem muita atenção, isso lhe dá... poder.
Pra que você usa esse poder? Eu não sei, e pelo o que estou vendo, não parece que a gente estava usando ou pessoas com grande números de seguidores estava usando para mudar muita coisa, já que bem... as coisas estão piorando no planeta Terra de forma drástica.
Foi percebendo tudo isso que eu vi que eu precisava tentar sair um pouco desta ilusão, um movimento mesmo extraterrestre, já que ficar fora do Instagram, por exemplo, reduziu meu contato com MUITA gente. E estou me sentindo sim um pouco fora da órbita, há 5 dias não recebo avalanches de informação, não vejo um número gigantesco de imagens que nem consigo processar, estou mais isolada, não tenho falado/interagido com amigos a não ser aqueles que já falavam comigo no whatsapp, mas estava preparada para entender que ficarei uns 5 meses sem falar com algumas pessoas, e tá tudo bem!
Voltando um pouco porque eu fui longe demais, parece vantajoso o fato de que eu sendo uma leitora que eventualmente vou comprar livros venha a receber alguns lançamentos de GRAÇA e tire só uma meia horinha para falar desses livros, um favorzinho mútuo que estamos fazendo.. uma parceria.... mas amore, você acha que Bruna Marquezine recebe tudo de graça na casa dela e nunca é paga por assim do nada recomendar, fazer umas fotos e em "meia horinha" escrever sobre os tênis da Puma? Claro que não!
Aliás, acabei de ver que cada postagem da Tatá Werneck, por exemplo, rende cerca de 50 mil reais para ela. Enquanto nós, "produtores de conteúdo de livros", passamos horas do nosso dia lendo e pensando no momento de fazer uma postagem (eu pelo menos estava funcionando assim), procurando um diferencial (essa eu achei muito boa, é sempre uma dica que encontro sobre produzir conteúdo na internet - que diferencial, amada!!)
Assim como uma editora do porte da Companhia das Letras, Globo, Record, mesmo trabalhando em algo tão valioso para nós como é a leitura, é antes de tudo uma EMPRESA, e ela vai pagar publicidade para outras pessoas que ela considera mais importante, quem tem mais "poder" (de influência) e não para você. A gente se valoriza tão pouco né?
Por isso que quem vai sair com mais vantagem nessa "parceria" é obviamente a empresa, mandar um livro pra sua casa é nada comparado com o lucro dela, e para mim? Tirar duas horas do meu dia para estar no Instagram, fazendo mil malabarismos para ser "notada", aumentar números de interação, planejar postagens em horas de pico, etc etc, horas do mês lendo um livro SÓ PORQUE FOI MANDADO PRA MIM... será que eu não estava me doando muito mais pra continuar fazendo funcionar um negócio que em anos eu vou ter ganhado o que com isso?
Agora um parentese: se é realmente esse seu sonho de infância e sua grande meta para daqui há cinco anos é ser parceira de uma editora por este tempo na expectativa de ganhar muitos seguidores e de alguma forma viver financeiramente dentro deste processo (mesmo que nunca chegue aos R$ 50 mil da Tatá Werneck), bem, você provavelmente já deve ter parado de ler esse texto, então vá em frente! (mesmo!).
O problema é quando quase inocentemente alguém que gosta de livros resolve apenas criar mais um perfil literário porque vê na internet esse espaço maravilhoso de compartilhamento e conexões humanas e entra na toca do coelho de se perceber ""querendo"" e se esforçando mais do que imaginava para ser bem sucedida nesse esquema.
Novamente, se você consegue balancear sua vida, e atingir seus objetivos pessoais e profissionais e ainda assim dedicar um tempo para comentar de graça sobre esses livros e que isso não é nenhum problema para você, tudo ótimo. Mas sempre bom pensar como isso atinge os outros, quando a gente se torna mais um elemento para engrossar esse caldo.
Eu não estava conseguindo, por isso saí. Eu deixei de lado em 2019 várias questões que eu precisava resolver, para dedicar cerca de 2 horas por dia (o tempo que eu ficava no Instagram), percebendo que isso parecia um trabalho meu, e não era.
Eu não sou capaz de agora, balancear isso, então preferi me afastar totalmente para encontrar o equilíbrio e a razão de ter escolhido outras coisas da minha vida. Em 2019 eu não dediquei diariamente 2 horas por dia para estudar teatro, atuação, etc. Por que eu imergi então nas redes sociais assim? Resposta: recompensa rápida (e ilusória, no meu caso).
Nos valorizamos tão pouco mesmo que aceitamos ser transformados em massa homogênea, quando a tal editora manda o mesmo livro pra 100 pessoas e todos os 100 trouxas que talvez nem quisessem aquele livro vão falar sobre e fazer com que mais 100 trouxas comprem um livro que talvez eles também nem quisessem comprar... não agora.
Eu não exatamente o quanto que eles lucram, mas o que eu vejo de nocivo é que funcionando SÓ desse modo, não estamos produzindo conteúdo, estamos produzindo desejos e o livro se torna só um objeto envolto em uma relação totalmente mercadológica, o que não faz sentido então atribuir um significado revolucionário se como ele nos chega e é repassado está totalmente imerso nessa lógica mercantil.
Sendo parceira de uma editora grande, eu vou receber cerca de 12 livros no ano, que poderiam ser livros que talvez eu não quisesse ler agora, mas vou precisar tirar o meu tempo pra fazer aquilo, e dai a gente toma isso por vantajoso apoiado em duas noções perigosas: acúmulo e status de poder.
E ai alguém diz: "Eu acho vantajoso porque quanto mais livros melhor, porque eu vou aumentar minha estante, porque em teses seriam livros que eu provavelmente compraria, etc, etc.", o que também quer dizer "e eu publicizo isso porque me dá um status de relevância, de ter sido escolhida por aquela empresa para representá-la". Mas não fia, eles não sabem nem seu nome! Acredite.
Sua importância e relevância no mundo não é o que seus números mostram, e nem sempre isso é totalmente real, uma pessoa sem muitos seguidores pode ser tão foda e relevante e interessante quanto uma com milhares, e temos que quebrar com esse raciocínio do valor de uma pessoa estar atrelado a esses números urgentemente, pois isso está adoecendo as pessoas! ME adoeceu e eu sei que não sou a única.
Então se a gente se submete a esse processo, estamos ajudando a roda a girar de um jeito só, como disse a Vrá Tatá.
Mas óbvio que de tanto a gente seguir pessoas que tem parcerias e parecem felizes e contentes, você quer ter também, é isso que o Instagram faz com você: é um espaço que produz desejos que você não tinha até ver outras pessoas terem coisas que você nem achava que "precisaria" ou tinha desejo de ter. Por que estamos no que? No capitalismo.
Eu sei que todo esse texto parece ofensivo para pessoas que realmente se esforçam para criar algo na internet, desculpem, não quis mesmo ofender ninguém nem deslegitimar o trabalho de vocês, eu encontrei muitas pessoas que admiro acompanhar na Internet e torço muito por cada uma, são pessoas que mesmo eu estando fora do Instagram procuro acompanhar em outras plataformas como Youtube e podcast, mas numa frequência bem reduzida e mais saudável para mim.
Eu sei que para algumas dessas pessoas é realmente esse o trabalho que elas querem ter e precisam, infelizmente, dançar conforme a música.
É só que as redes sociais ainda não estabeleceu uma fronteira, como em outras áreas, por exemplo, nem todo mundo quer ser advogado, dentista só porque vai no dentista ou usa servições de um advogado.
Já o Instagram é uma ferramenta que se iniciou para publicar comportamento, vida pessoal que se transformou em "como fazer da sua vida um rendimento capital" (algo me diz que esse era o objetivo malicioso desde sempre).
Por mais que os booktubers, bookgrams digam "esse é o meu trabalho, não se baseie por mim", a fôrma, ou seja, a plataforma de comunicação diz: se baseie por mim.
Então, um "consumidor" vê alguém que está há 7 anos trabalhando para chegar num patamar x, e é impulsionado a achar que se fizer certas coisas isso também o fará importante.
Eu não falo isso só porque foi algo que ocorreu comigo, eu sei que não é assim com todo mundo, mas é assim com muita gente, eu acho simplesmente muito bizarro ver pessoas no dia a dia usando a linguagem de influencers e "blogueirinhas" e se importando com o número de seguidores quando o trabalho delas real não depende disso.
Vi também que está crescendo o a quantidade de produtores parando com seus conteúdos justamente por estarem muito ansiosos com tudo isso, Vi recentemente uma youtuber de bullet journal, a Amanda Rachel Lee (VEJAM ESSE VÍDEO!), com um depoimento muito importante e sincero. Não estou torcendo para todo mundo fazer isso, não mesmo! Porque é no fim extremamente triste que tenhamos que chegar a um estado mental de exaustão até decidir dar um tempo como a Amanda, é triste, isso nos entristece um pouco porque foi dedicado um tempo enorme para isso que agora tomou de conta das pessoas de um jeito negativo.
"Eu sou estou tentando desenhar e me divertir na internet" (Amanda Rachel Lee)
Claro que isso não vai acontecer com todo mundo, não é como se fosse tipo predeterminado ou inevitável, eu conheço pessoas que simplesmente estão na internet há muito tempo e não se afetam assim de maneira alguma, mas são minoria e acredito que está atrelado, claro, a um fortalecimento interior e pessoal.
Pessoas inseguras e com algum problema podem piorar com as redes sociais, pessoas que talvez não sejam inseguras nem tenham problemas com comparação e toda essa ideia de sucesso podem passar ilesas, mas a nossa sociedade em geral não é desenvolvida para que pessoas cresçam assim, infelizmente. Não é que as redes sociais criem pessoas inseguras e com problemas de ansiedade, mas acredito que piora quem já tiver algumas dessas questões.
Piora porque funciona como o mundo já funciona: competitivo e capitalista. E falar de livros, por mais incrível que seja, dentro dessas plataformas se deixarmos levar essa comunicação pela mesma lógica, então também é só mais um tipo de válvula do mesmo cano de esgoto. (desculpem, ser tão agressiva!!)
É só que precisamos discutir mais sobre isso, ou eu preciso, não sei, existe muita coisa muito mais importante para se debater no mundo, claro!! Mas dentro de uma certa bolha de privilégios para se preocupar, eu vejo que isso afeta muita gente, está afetando nossos adolescente e nossas crianças até! E.. principalmente mulheres sim! (prestemos atenção).
E quando a gente vê tanta gente jovem dizendo que sente tanta pressão nas redes sociais e em criar conteúdo é tão absurdo que tudo isso tenha gerado essa pressão enorme e ao mesmo tempo, fútil, digo isso pra mim mesma, quando a gente podia estar sentindo toda essa angústia com tipo... o mundo como é... mas as redes sociais nos tornou tão tão individualizados... e como quem "trabalha" com isso não pode tirar um tempo off, e tem que agir daquele jeito (preocupado com os algorítimos), porque se não, não vai atingir tais objetivos, (como ser paga para divulgar uma editora, por exemplo).
Um trabalhador não tem que avisar a todo mundo que vai tirar férias e se preocupar se vai perder seu emprego, pois isso é direito garantido, mas um produtor de conteúdo tem meio que "milhares de chefes". Enfim, é tudo muito bizarro e as pessoas não falam sobre tudo que está por trás o que gera tudo isso, apenas agem como se fosse tudo natural.
Esse texto está extremamente gigante, e eu acabei dedicando algumas horas para escrevê-lo, mas eu preciso mesmo formular esse pensamento e externalizá-lo, para compreender tudo isso melhor, e a importância das minhas decisões.
Este ano eu tentei, sim, parceria com duas editoras, não passei, pois não estava enquadrada em tudo isso que eu disse. De início me bateu um "poxa vida", que passou pois já tinha excluído a conta e meio que deu menos vontade de voltar e me fez pensar nessas questões. E você pode pensar "ah, tá falando tudo isso por inveja e frustração", mas não, como já citei, pessoas "bem sucedidas" na internet também estão falando disso.
Desculpa, mais uma vez, se de alguma forma fui agressiva, nada disso é direcionada para ninguém específico, só precisava mesmo refletir melhor sobre essas coisas.