29.2.20

[Resenha] Como se fosse a casa - Ana Martins Marques e Eduardo Jorge



Fazia um tempo que queria ler esse livro desde que li O Livro das Semelhanças da Ana Martins Marques. O Eduardo Jorge, o outro escritor deste "Como se fosse a casa", eu não conhecia, mesmo sendo conterrâneo. O livro surgiu de um convite da editora para a Ana que resolveu compilar trocas de emails entre ela e o amigo. Ele estava fora do país e ela morando na casa dele. Existe toda essa dança sobre dois poetas conhecendo um espaço, uma casa. Ambos de perguntam sobre o que é habitar, morar, se mudar, como se constrói uma nova rotina, observam ruas, sombras, luzes e os barulhos da rua e como tudo isso forma quem você é momentaneamente. Eu acho até bonito tudo isso e gosto da ideia. Porém, me decepcionei um pouco com a leitura. .
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Toda a diagramação é linda e o livro tem um lado bem delicado, mas nem de longe foi mesmo arrebatador. Alguns versos de Ana Martins me chamaram atenção como "(entre tantas coisas/numa separação/é também uma língua/que se extingue)". Mas não sei como dizer que achei um tanto forçado... .
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Eu fico um pouco enfadada de um certo estilo da poesia contemporânea classe média feita no sul/sudeste de pessoas que decidem escrever porque fazem um intercâmbio pra Europa e resolvem colocar nomes de ruas e estações de metrô que ninguém mais foi lá... claro que uma mudança, conhecer outros lugares nos dá o ímpeto de escrever sobre. Eu mesma sempre escrevo um pouco quando viajo, mas acho que existe isso... demaaais hoje em dia. Deve ter começado um pouco com a galera dos anos 70. Vejo isso na Ana Cristina Cesar, que coloca palavras em inglês e eu adoro. Mas hoje eu sinto um distanciamento chato sobre esse recurso de ficar sendo o brasileiro na europa. Principalmente nos poemas do Eduardo Jorge que isso acontece, pois ele era o estrangeiro la fora. E a Ana a estrangeira na casa dele.
Na orelha é dito que este é um livro denso e corajoso, eu sei que a orelha quer vender o livro, mas não me chegou nada disso... continuo enxergando certa beleza na criação física dessa comunicação entre os poetas, mas talvez não fosse o momento pra mim. Longe também de não recomendar o livro, pode ser especialmente inspirador para quem está de mudança.




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