29.2.20

[Resenha] O Mundo de Aisha



O mundo de Aisha é uma História em Quadrinhos escrita e desenhada por Ugo Bertoti com base nas entrevistas jornalísticas e fotografias de Agnes Montanari. A HQ vai misturar desenhos com as fotografias originais e contar a história de quatro iemitas: Aisha, Nabiha, Sabiha e Ghada abordando a opressão e violência comum a muitas mulheres da região. Reprimidas e sem possibilidade de expressão, cada história revela como cada uma tenta perfurar de alguma forma as paredes sufocantes do machismo no Iêmen.
Se me perguntassem se eu sabia que existia esse lugar eu diria que não, mas sei que em todo lugar desse mundo existem mulheres sendo oprimidas, umas mais que outras, claro. Pela voz das próprias mulheres, tomamos conhecimento de um assunto muito difícil para nós ocidentais entendermos: o uso do véu, NIQAB. Toda a sociedade gira em torno do controle da "honra" e dos corpos das mulheres. Pelo menos nessas quatro histórias, o véu se mostra uma questão de muito debate entre elas mesmas e um símbolo poderoso, ao ponto que tirar ou não pode decidir entre a vida ou a morte de uma mulher. Logo no início é dito "na dúvida, sugere-se às mulheres que decidam por si mesmas, naturalmente, levando em conta as circunstâncias. O fato é que os homens estão acostumados há séculos a vê-las cobertas. É claro, portanto, que a mulher tende a adequar seu comportamento a essa situação. Para poder viver em paz.". Ou seja... uma escolha ou uma condição?


Sabiha foi comprada para ser esposa de um homem 12 anos mais velho que ela, esse é um destino comum de meninas na região, aos 13 anos já estava grávida.
Hamedda é uma senhora que conseguiu administrar o restaurante mais famoso do lugar, fala dos preconceitos que encara por ser uma mulher a frente de um negócio.
A terceira história é de Aisha, que se entrelaça com outras mulheres (Houssen Ghada, Ouda e Fatin). Temos de novo o mesmo quadro: mulheres que vivem para o casamento e para obedecer e agradar ao marido. O irmão de Aisha é o homem que precisa cuidar da honra da casa e sempre briga com a irmã, pois ela está "dando o que falar" ao não usar o NIQAB. A mãe dela aconselha a usar "para sua tranquilidade". As amigas de Aisha já trabalham, podem almejar profissões, estudar fora, mas ainda precisam lidar com as mesmas questões: casamento, o véu, a honra.


No mundo de Aisha, liberdade versus tranquilidade parece ser a grande encruzilhada das mulheres iemitas, a hq consegue ser um documentoso valioso que mostra o jogo entre aceitar uma tradição ou enfrentar como puder essa opressão em busca de emancipação, correndo em alguns casos risco de vida é muito mais complicado do que pensamos. Uma coisa é certa, a revolução das mulheres iemita não se dá só no âmbito individual, ao unir as quatro histórias a hq coloca que esta luta é de todas.



2 comentários:

  1. Olá, Nádia.

    Essa HQ parece mesmo maravilhosa, tanto por proporcionar conhecer novas culturas, como pela temática ainda tão necessária nos dias atuais.

    Vou procurar para ler também. <3

    Até mais,

    Samantha Monteiro
    Degrau de Letras

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  2. Oi Samantha! Espero que goste da leitura. Beijo

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