29.8.18

[Leituras em Andamento] - Agosto



Eu gosto de escrever sobre os livros que estou lendo (seja aqui ou no Instagram) porque me faz criar um mapa mental também pra mim. Mas no Instagram, quando posto lá existe a questão de esperar likes, retorno, comentários e ficar me comparando com o ritmo de outras pessoas. Não tenho vergonha de admitir isso, sim! Dai como estou dando essa trégua do Insta, escrever aqui me faz bem pois não fico esperando nada disso e ao mesmo tempo deixo registrado para minha futura memória e pra quem por ventura venha aqui buscar referências. 

Já estamos em 29 e eu ainda tenho o sentimento de ser meio do mês (??), porque ainda quero ler alguns livros até dia 31 e também eu estico um pouco até dia 1, Enfim! São estes:

- A Poética (Lendo uma edição que contém A Poética de Aristóteles, Horárcio e Longino, mas lerei só a de Aristóteles)

- A arte de ator (comecei em Maio, parei em Junho e tô voltando agora)


- Todos os Contos - Clarice Lispector (Lendo A Legião Estrangeira - querendo terminar esse mês)



- Erótica (coletânea de poesia erótica argentina - emprestado de uma amiga)

E tem outros que eu queria ler também e já comecei no semestre anterior, mas sei que não vai ter como então vou falar deles só em Setembro.

28.8.18

[estudos] A Poética - Aristóteles



Colocando me prática o distanciamento do Instagram e foco na minhas prioridades, vou começar por terminar livros teóricos encalhados. O primeiro e mais recente é A Poética de Aristóteles, recomendado pela minha coordenadora da bolsa. Vou passar a semana lendo este livro e estabeleci cinco partes por dia (ele possui 26).

Estou fazendo resumo das leituras, mas meus resumos são mais por tópicos ou esquemas pra tentar entender os conceitos.

Vou atualizando essa postagem conforme os dias forem passando. Estou colocando 1h por dia dedicada a essa leitura.

Dia 1: terça-feira 23:30 às 00:30 (cap. I ao V)

Dia 2: quarta-feira 23:45 às 00:45 (cap. VI ao XI)


[conversas] muita coisa pra fazer nessa vida. Perainda.



O maior perigo de sempre se doar para mil trezentas e sessenta e quatro coisas importantes diferentes e nunca ter um foco claro para a sua atenção e para a sua energia é, justamente, ficar esgotado. Tão sem energia, tão sem foco e tão sem paciência que você termina nunca dando o norte para a sua própria vida. Você é consumido pelos outros e pelos altos e baixos da própria vida como uma vela de navio que responde de acordo com a direção do vento que está soprando. (Eu Organizado)

Então, ontem a noite eu já estava indo dormir e dai tive aquele momento de vir todos os pensamentos existencialistas possíveis e decidi: se eu não mudar algo abruptamente agora eu não vou conseguir tirar essa angústia de mim. Eu precisava tomar outra direção, aquele momento que você vira o carro pro lado oposto e pneu faz barulho. Bom, não sei como é dirigir um carro mas imagino essa cena pelos filmes. O fato é que o Instagram me traz algumas alegrias e muitas angustias, e eu tentava adaptar-me, mudar de pensamento, trabalhar o lado bom, mas nada estava funcionando, então porque simples não ABANDONAR ISSO POR UM TEMPO. Enfim, por que me prender a uma ferramenta que não está me fazendo tão bem quanto "poderia"? Então levantei, liguei o wi-fi e desinstalei o aplicativo pela milésima vez esse ano. Mas agora, diferente das outras vezes, eu vou realmente passar um bom tempo. Eu quero me desintoxicar. 

Eu quero que minha mente funcione agora, no presente, pra coisas ao meu redor. O que acontecia é que a forma imagética do Instagram já estava acoplada ao meu sistema nervoso de um jeito que eu me achava meio gente meio máquina, parece um filme muito noiado baseado em um livro do philip k dick mas talvez seja nossa vida e eu não estava achando isso ~normal~ eu não queria sentir o impulso imediato de compartilhar tudo no instagram, de inclusive, pensar momentos da minha vida para o instagram. E dai que fui buscar luz espiritual nos textos da Ana do Eu, Organizado e me deparei com essa pergunta "Qual é o foco atual da tua vida?". Definitivamente eu não responderia "instagram", mas na prática estava sendo. Então como eu não conseguiria controlar aos poucos precisei de uma medida "drástica".

Eu comecei e abandonei mais livros, ideias e projetos esse ano do que nunca. Não sei se o problema está no Instagram, pra muitas outras pessoas ele é uma inspiração, uma motivação, um norte, mas pra mim estava sendo um contra-correnteza no meio do fluxo do rio. Não estou dizendo que minha vida vai melhorar magicamente agora, mas pelo menos preciso tentar novas abordagens. E ao fim de algum momento, vou avaliar o que mudou. Sim, eu sou uma pessoa multifoco, gosto de ler várias coisas, ter vários projetos, me interesso em produzir arte em várias linguagens, mas como a Ana fala no texto, 


Ter foco não é abrir mão: é saber criar uma sequência de prioridades


Algo que estou aprendendo bem aos pouquinhos... E se o Instagram estava tomando muito meu tempo e ele não era minha prioridade de vida, algo devia ser mudado. Pra lidar com vício eu só conheço o primeiro passo que é ficar bem longe! Depois de matutar muito e não querer admitir que eu tinha sim uma prioridade número um, defini. Primeiro pensei que era terminar a faculdade. Mas pensei nos momentos em que adiei um pouco isso por conta do meu grupo de teatro (eu deveria me formar esse ano mas não vai rolar). Então veio estudar teatro, é uma prioridade abstrata eu sei, e talvez eu esteja trapaceando um pouco, mas isso engloba tanto estar na faculdade como no grupo de teatro. Pois claro os dois estão muito ligados: se eu tiver uma viagem com o grupo ou ensaio eu com certeza irei faltar aula, perder alguma prova se for preciso. Mas só defino meus dias com o grupo depois de me matricular nas disciplinas por exemplo, então vou tentando conciliar os dois. 

Definir que minha prioridade e o que me dá mais prazer no momento (talvez) seja estudar teatro me fez entender algumas coisas que estavam me fazendo fugir disso, por exemplo minha relação com desafios literários e o mundo dos livros no Instagram. Pra não ficar de fora de falar de literatura eu acabei entrando em mil desafios literários e procurando muito mais sobre literatura do que sobre minha área e tudo bem é massa eu não ficar uma obcecada por teatro, pois gosto de trazer outras referências artísticas, mas ao mesmo tempo eu acho que sim, eu poderia ter me dedicado mais as leituras que fazem parte da minha vida profissional de forma mais direta. Eu sinto falta de ter um arcabouço maior em debates, eu tive uma dificuldade enorme em escrever um artigo de 7 laudas pois não tinha referências do teatro e eu quero isso. Eu ficava acompanhando o cronograma de clubes da cidade ou tentando me encaixar em alguma leitura coletiva na internet e não conseguia dar conta disso nem das leituras do teatro e isso me frustrava dos dois lados. Então se pra me focar no estudo em teatro eu preciso literalmente não ver mais ou saber mais dessas coisas que seja. Coloquei como tempo limite desse período quando eu conseguir terminar os 5 livros de teoria teatral que eu comecei e não terminei esse ano. O modo como eu estou falando parece pesado, mas não é. Essas leituras não vão ser um fardo na minha vida. Eu sei que vão me ajudar no futuro muito mais concretamente e ao fim eu estarei feliz de ter passado por esse período, ter movido uma pedra. Uma coisa me que dá pavor é pedra no caminho, coisas não terminadas, etc.

Vou dizer aqui as outras mil e uma coisas que eu fico pensando pra vocês verem o nível de lostidão que eu estou

- fazer cadernos artesanais
- instagram de livros (mas acaba sendo mil outras coisas e me deixando mal por achar que eu não estava sendo bem sucedida em nada)
- blog (queria escrever ao menos semanalmente, mas como eu acaba postando no instagram não escrevia aqui e ficava um coisa meio rasa lá)
- escrever poemas (com certa assiduidade) 
- fazer algo com pintura / desenho (eu estava com vontade de reproduzir algumas imagens, mas isso é um outro processo ia me tirar tempo e dinheiro pra materiais que não tenho como me doar agora, não vou abandonar mas entendi que não dá pra no momento ser uma dedicação intensa)
- ser a diva da organização dos estudos (eu ficava pensando muito nisso e acho que perdendo tempo demais organizando como me organizar só pra MOSTRAR pros outros como eu to me organizando e estudando e às vezes eu ficava muito buscando nos outros como ELES se organizam e não buscava em mim, agora vou começar a trilha meu próprio caminho e quero escrever aqui sobre isso pois no instagram eu sentia que se esvaziava e algo que eu falava que estava fazendo acabava que eu não praticava por muito tempo parecia só pra dizer que eu estava fazendo, aaaaaaaah que louco)
- decorar meu quarto (MAN, isso era o mais absurdo, eu não tenho dinheiro nem tempo pra isso e isso definitivamente não é minha prioridade, mas por influência de igs de estudo e decoração eu achei que fosse algo que fosse me fazer bem)
- ler clássicos (olha, taí uma coisa que nunca foi minha prioridade e eu tava botando na minha cabeça que eu precisava, também por influência externa)
- criar projetos literários (por influência dos igs de livros eu achava que tinha que criar projetos literários super bacanas assim as pessoas iam me notar)
- treinar lettering (não, não preciso)
- aprender uma nova língua (sim, eu quero muito e preciso, mas comecei por essa necessidade de parecer "estar sempre ocupada com mil projetos legais e pensando no futuro e ter muitas habilidades" mas acaba que não encaixei tempo nisso)


COM ISSO TUDO eu ainda esqueci meu corpo, preciso urgentemente voltar a ter uma rotina de exercícios físicos e eu dedico tempo e dinheiro pra várias coisas mas tô negligenciando esse lado... em setembro isso muda!

Sobre tudo isso a Ana linda diz

"Como pessoa multipotencial e multiapaixonada (que nunca vai ser conhecida por ser A Especialista em um único assunto, sem nunca estudar ou criar coisas “fora” da sua área de especialidade), eu te digo com toda a certeza: ter uma prioridade clara é o que te permite fazer coisas diferentes sem perder o juízo."

E antes de como eu você pensar "ah então se eu tiver com outro foco amanhã é porque mudei é normal", Ana fala isso 

"A gente perde muita energia quando a gente troca de foco a cada cinco minutos.[...]quando chega em casa de noite e vai dar atenção para o seu projeto paralelo, você consegue ficar pelo menos meia hora fazendo a mesma coisa sem perder o foco? Trinta minutos fazendo apenas uma única tarefa. "

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Por exemplo neste momento estou escrevendo esse texto POIS vai me ajudar a deixar as coisas no eixo na minha mente, mas também estava baixando livros sobre escravidão (ok, isso é super normal quando você está na internet, TUDO É NORMAL, na verdade acho que algumas coisas se normalizam na nossa mente pra gente se sabotar, que tal mudar as coisas que parecem normais? Bem, se não der jeito volta pro que tava, mas só entendo uma forma de resolver problemas: com mudança.

Mais uma frase da Ana "liberar a sua atenção para a sua tarefa atual e saber, lá no fundo, que você está fazendo exatamente o que você mais quer ou o que você mais precisa fazer."

Bom, hoje havia colocado no planner que iria ao médico, não fui.
Decidi arrumar a casa, não arrumei
Decidi que preciso de três horas pra estudar, ainda não comecei
Mas decidi com esse texto algumas coisas que precisava decidir.

Vou eleger UMA prioridade em mais 4 outros focos, vamo lá:

1. Estudar Teatro (dedicar um tempo diário pras leituras): 
projeto prático - me dedicar a faculdade, a bolsa e as leituras do meu grupo de Teatro (parece muito mas são todos interligados, uma leitura meio que "serve" pra todos)

2. Estudos Feministas (voltar com a leitura de O Segundo Sexo): 
projeto prático - criar uma biblioteca feminista na faculdade com xerox de textos que for lendo

3. Exercícios físicos:
projeto prático - começo de setembro quero estar matriculada em alguma coisa: yoga, academia, Ballet, aula de circo

Acho que só dou conta mesmo disso; Se ao terminar esses afazeres diários me sobrar tempo quero continuar compartilhando e escrevendo no blog. então

4. Escrever no blog (pra ser mais exata, uma vez na semana e pode ser hoje, na terça)

Ufa, falei muita coisa, mas acho que é por aí.




26.8.18

[diário/pessoal] Coisas legais acontecem


O que de bom aconteceu em Julho

1. Estreei uma peça e minha mãe foi assistir




2. Fiz uma oficina de bordado em fotografia (e eu fui a ~~modelo~~~ das fotos)



3. Fui à praia



4. Terminei de ler 1 livro e uma HQ

5. Fiz umas fotos baseadas no livro O Amante

6. Voltei a escrever no blog

15.8.18

[Diário] Colocando livros no carrinho enquanto escuto Angel Olsen

Quarta-feira de um feriado que embaralha a semana toda, o dia foi partindo e veio um sentimento meio blue. O que a gente faz: finge que vai comprar livros. Mas eis que me deparo com um livro que queria há muito tempo pela metade do preço! O Inconfissões, livro de fotografia da Ana Cristina Cesar. Coloquei Angel Olsen para afagar meu coraçãozinho que tava meio apertado. 



Ah, o livro da Ana é esse. Eu acho incrível a capacidade da Ana me acalmar seja em que circunstância for... passou...





atualização as 22:52 : não consegui comprar o livro. Back to sadness





6.8.18

[Comentário] A Mãe, Máximo Gorki




Além da geração de escritores notáveis que ganharam projeção mundial: Dostoiévski, Tolstoi, Tchekhov ... Um dos mais consistentes, que transmite com uma força impressionante a sofrida e miserável realidade do povo russo, do começo do século passado, é Máximo Gorki.

A Mãe é um romance que foi escrito em 1907, inspirado em acontecimentos reais: a manifestação do 1º de Maio de 1902, na cidade de Sormovo, e o subsequente julgamento dos jovens trabalhadores pela repressão czarista.


Duas coisas são muito interessantes sobre esse livro e seu autor:


1. O romance é extremamente atual, mesmo sendo escrito no começo do século XX sobre um acontecimento num lugar específico, os pensamentos ideológicos de repressão são facilmente identificados hoje em qualquer lugar no mundo. Até mesmo a ideia de "bandido bom é bandido morto" é encontrada no livro. Quando os jovens são presos, dito como "baderneiros" e criminosos, muitas pessoas comuns (os cidadãos de bem), afirmam que merecem mesmo morrer. Fiquei assustada e triste de entender que tanto anos depois, esse tipo de pensamento ainda continua vivíssimo. Isso não faz de Gorki um homem a frente de seu tempo ou visionário, e sim um exímio observado de seu tempo. Creio inclusive que ele esperava que esse tipo de ideia não seguisse tantas décadas depois.

2. Não se trata de uma obra escrita por um intelectual burguês. Por que frisar isso? Não que uma que tivesse sido escrita por um burguês perderia o valor, mas pra mim é um ganho que Gorki tenha escrito seu romance observando a vida real, cotidiana de trabalhadores iguais a ele. 

Sinopse: A Mãe narra a trajetória da revolucionária Pelagea, mãe do operário e revolucionário Pavel, No inicio do romance vemos uma mulher oprimida, que sofre violência doméstica do marido (também operário), até mesmo esquecer quem ela era antes dessa vida de humilhação. O marido morre e Pavel começa a se engajar na luta socialista contra o czar, a favor de melhores condições para os trabalhadores. Aos poucos, a mãe também vai se engajando na luta, entendendo que faz parte disso, que a luta também é dela. Pelagea se torna uma revolucionária destemida e inspiradora para muitos outros camaradas.

Impressão: Gorki é chamado o fundador da literatura russa de cunho social e esse romance tem uma importância história imensa. Apesar de que (para mim) ter sido uma leitura um tanto extensa, levei 4 meses para terminá-lo, entre pausas longas, ao fim pude perceber o quão inspiradora e necessária essa obra ainda é. O autor consegue abordar um pouco da relação entre gênero e classe. Pois geralmente temos homens como símbolos e ícones do socialismo. Nesse livro, há diversas personagens mulheres militantes, além do destaque da própria Mãe, que pode parecer ficar "à sombra" do filho e dos outros camaradas, mas vai apresentando uma crescente de independência e se fortalecendo como mulher revolucionária ao longo da história. A leitura às vezes é um pouco desgastante por trazer o estilo naturalista socialista, com umas passagens a meu ver um pouco sentimentais "demais", e há alguns "desvios" como a insinuação de um romance entre os militantes. Essa minha visão se dá por influência de Brecht, dramaturgo alemão que adaptou a obra para o teatro, focando mais no lado social e excluindo muitas cenas mais "sentimentais". Estou falando tudo isso de forma bem simples, mas existe um estudo mais profundo sobre a adaptação "A Mãe", de Brecht,



"Somos socialistas. Significa isto que somos inimigos da propriedade particular, que promove a desunião entre os homens, os leva a armar-se uns contra os outros e cria uma rivalidade de interesses irreconciliáveis, que mente quando pretende dissimular ou justificar esta hostilidade e perverte os homens pela mentira, a hipocrisia e o ódio. Somos de opinião que a sociedade, considerando o homem unicamente como um meio de auferir riquezas, é antihumana e torna-se-nos declaradamente hostil; [...] Nós, os operários, somos quem pelo nosso trabalho tudo cria, desde as máquinas gigantescas até aos brinquedos das crianças. E vemo-nos privados do direito de lutar pela nossa dignidade de homens; Cada qual arroga-se o direito de nos transformar em instrumentos para atingir o seu fim! Queremos que nos deem liberdade bastante para que se nos torne possível, com o tempo, conquistar o poder. Quer-se o poder para o povo!..."
"Nós somos revolucionários e assim seremos enquanto houver alguns que apenas mandam e outros que apenas trabalham. Nós lutamos contra a sociedade cujos interesses vos ordenaram que defendêsseis e da qual somos inimigos irredutíveis, como somos também vossos e a reconciliação entre nós só será possível depois de termos vencido. E nós, os operários, venceremos. Os vossos mandatários estão longe de ser tão fortes como pensam! Os bens que eles juntam e que protegem sacrificando milhões de seres que subjugaram, essa mesma força que lhes dá o poder sobre nós, provocam entre eles próprios contradições antagônicas e arruínam-nos física e moralmente. A propriedade exige um esforço demasiado grande para defender e, na realidade, vós todos, nossos donos, sois mais escravos do que nós; a vós, escravizaram-vos o espírito; a nós, o corpo. Não conseguireis libertar-vos do jugo dos preconceitos e dos hábitos que vos matam moralmente; a nós, nada nos impede de sermos interiormente livres; o veneno com que nos intoxicais é mais fraco do que o contraveneno que derramais, sem querer, na nossa consciência. E essa consciência cresce, desenvolve-se sem parar, inflama-se cada vez mais e chama a ela tudo o que há de melhor, de moralmente são, mesmo do vosso meio. Vede: não tendes já mais ninguém que lute ideologicamente em nome do vosso poderio, esgotastes já todos os argumentos capazes de vos protegerem contra o avanço da justiça histórica; nada mais podeis criar de novo no domínio das ideias, sois ideologicamente estéreis. As nossas ideias crescem, iluminam com crescente claridade, ganham as massas populares e organizam-nas para a luta libertadora. A consciência do grande papel da classe operária une todos os trabalhadores do mundo numa só alma, sendo-vos absolutamente impossível travar o processo de renovação da vida, a não ser com a crueldade e cinismo. Mas o cinismo é evidente e a crueldade irrita. E as mãos que hoje nos estrangulam, apertarão em breve as nossas mãos. A vossa energia é a energia mecânica do aumento do ouro, ela une-vos em grupos condenados a devorarem-se mutualmente. A nossa energia é uma força viva – a crescente consciência da solidariedade entre todos os operários. Tudo o que fazeis é criminoso, pois o vosso único fim é escravizar os homens; o nosso trabalho liberta o mundo dos fantasmas e dos monstros engendrados pelas vossas mentiras, o vosso ódio e a vossa ambição para atemorizar o povo. Arrancastes o homem da vida e esmagaste-lo; o socialismo unirá o mundo destruído por vós num único todo grandioso. Assim será!"









5.8.18

[Impressão] Náutico - Vitória Régia

Pra mim, a poesia não é um gênero literário, é um modo de viver, ver o mundo. Pelos olhos do poeta podemos enxergar imagens com outras cores, outros cheiros, outras formas. Um verso é um caminho de pés na areia, cada caminho é único. Não foi fácil tentar enxergar pelos olhos de Vitória Régia. Li e reli os poemas algumas vezes, existia algo turvo, neblina que instigava mas assustava.  

"Isto tudo é memória", avisa a poeta em seu terceiro poema. Um livro se faz de imagens que não conseguimos descartar, "até de olhos fechados". E a poeta é aquela que consegue absorver nos milésimos de segundo um momento despercebido. 

Foto: Jamille Queiroz

Se há terra à vista em Náutico, essa terra é feita dos grãos das lembranças. Na última página do livro há uma definição que diz: "Náutico pode ser o lugar físico ou afetivo por onde transeuntes percorrem incertos", a voz dos versos (ela mesmo, a poeta, avisa que) não hesita, durante a respiração das grandes braçadas, a pular em mar aberto. 

Durante a leitura de Náutico, sentia que cada verso era um clique de uma máquina fotográfica mental que guarda as instantes para que sejam revividas toda vez que percorrermos novamente os lugares marcantes de nossa vida. Esses instantes são carne, são efêmeros, são fumaça de ausência.

Talvez Náutico seja o livro de algo que partiu e mas permanece na língua como uma mordia dada sem intenção, mas impossível de esquecer por algumas horas. O livro também rememora o imprevisível.


"Daremos passos cautelosos ou seremos breves
Para o resto das causas que não pudermos calcular
Sinal quebrado provoca acidente no tráfego às três"


Imprevisto que geram "impensáveis territórios" , e a poesia se torna esse lugar de encaixar peças que não se encaixam, mas nos versos podem ser eternos. A poesia é este cais onde "átrios se unem na cadência da memória" / "acaso surdos para rotas abertas". O que nos mostra o acaso? Que acordes surdos são esses? Acordes que não esquecemos, fazemos poemas para não lembrarmos.

Os poemas de Náutico trazem versos que nem sempre se interligam, talvez diferente de uma poesia convencional, cada versos é um golpe único em cada parte do corpo "na precisão de punhal". O todo o leitor une com o que sente.

O imprevisto também abre espaço para o excesso, palavra que surge em alguns momentos durante a leitura dos 40 poemas que compõem o segundo livro de Vitória Régia.
"excesso de colheitas", ela afirma.

Foto: Jamille Queiroz

Apesar da referência ao mar, mãos é a palavra que aparece com mais frequência nos poemas de Náutico. No oitavo poema eles andam "de mãos frágeis" e no décimo terceiro buscam "os pontos equidistantes / E que as mãos eram capazes de traçar". e no décimo sétimo o sangue escorre pelas linhas da mão do amante. As diversas outras imagens que a poeta esculpe nos mostra as mãos espumas, mãos de linhas, mãos trêmulas, mãos que tocam, mão que se despedem vazias, mãos que operam milagres, mãos que bagunçam cabelos, mãos que chafurdam sobretudo, a pele que arde.

Vitória traz o erotismo das noites misteriosas, e os rostos se confundem com alguma paisagem, onde a "pele trêmula", hesita, encontra, se entrega a "choques internos", dança e o amor tem o "poder de me invadir / Por todos os buracos". A pele se eriça, toda "escamando da tua pele / que se atordoa no mar",  no campo minado, nossos olhares atiram "mísseis da pele em quatro direções". A pele é ânsia, vulcão, e tem gosto de sal e um cheiro.. ah um "cheiro que dói no corpo".

Vitória Régia explora sobretudo esse mar-corpo e todas as suas partes: olhos, respiração, odor, luz, movimento das pernas, barulho, cor, textura, "pés em desatino", com frenesi de quem não reza de joelhos em maré alta, mas faz da poesia essa oração onde só nela é possível levantar as velas da embarcação dos sentidos.

Foto: Jamille Queiroz



Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...