31.8.14

Deserto Vermelho

Nos enormes espaços vazios
minha loucura dança
você sabia?
veja
um belo rosto com cicatrizes que não se vê
você quer me encontrar?
você me deseja me procurar?

Na fumaça cinza se confude o céu
minha criança dorme
eu cumpri meu papel

Nos campos abertos
minha incompreensão me toma
de frio, me escondo 
tremo
tenho
fome
quais são as cores da tua agonia?

Minha solidão grita em alto mar
As faces do desespero escondidas nos muros altos que nos rodeiam

Na neblina eu e vocês
seus corpos rígidos
seus rostos impassíveis
eu estava muito confusa

A bela mulher louca e solitária
é isso que você quer?
é isso mesmo que você quer?

eu te criei para me salvar 
e agora você faz parte de mim

a realidade tange as estruturas do meu corpo
será que isso foi tudo que imaginei?
será que tudo isso eu imaginei?

eu sufoco atravessando a fumaça amarela
intoxicada em céu aberto
voando presa em ilusões
vocês esperam que eu cante?
vocês esperam que eu fique?
o pequeno e frágil animal de asas arrancadas

somente os pássaros sabem voar





29.8.14

Fagulhas

[...]
Eu queria 
(só)
perceber o invislumbrável 
no levíssimo que sobrevoa

[...]
Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheiro

Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las


eu não sabia 
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal


inconfissões - novembro/68
ana cristina cesar

17.8.14

Starvation

Eu vejo e não sei mais dizer
Eu sinto e não sei chorar

O que me trouxe
aqui, em garras e sangue nas mãos

Engulo com a ferocidade dos lobos
Faminta

Vou mergulhar no mar
reviver, revigorar

Eu abriguei a noite
em meus seios nus

Quero que meu corpo vire sal
Vou me desintregar em areias

Eu sinto as estrelas brilhando em minhas mãos
queimando iluminuras do futuro longuiquo

o azul-escuro habita minha solidão
e voa





16.8.14

The Waves - Virginia Woolf




Mais trechos....

"You are all protected. I am naked" ( Louis)

"I have had one moment of enormous peace. This perhaps is happiness. now I am drawn back by privking sensations; by curiosity, greed (I am hungry) and the irresistible desire to be myself"

"I fail before I reach the end and fall in a heap, damp, perhaps disgusting. I excite pity in the crises of life, not love. Therefore, I suffer horribly" (Neville)

"I rise from my worst disasters, I turn, I change. Pebbles bounce off the mail of my muscular, my extend body. In this pursuit I shall gro old." (Neville)

"I am afraid of the shock of sensations that leaps upon me, because I cannot deal with it as you do - I cannot make one moment merge in the next. To me they are all violent, all separate, and if I fall under the shock of the leap of the moment you will be on me, tearing me to pieces." (Rhoda)

"I do not know how to run minute to minute and hour to hour, solving them by some natural force until they make the whole and indivisible mass that you call life" (Rhoda)


"The only sayings I understand are cries of love, hate, rage and pain" (Susan)

"I love with such ferocity that it kills me when the object of my love shows by a phrase that he can escape"  (Susan)


13.8.14

Deslocado

a tua ausência era a presença mais forte daquele lugar
escrevo isso para ti
que veio
sugar tudo que restou
da mão aberta
do peito repleto
eu me sentia passando pelas minhas próprias veias quase cortando a carne num fluxo de um cardume enlouquecido
passando pelo meu sangue
sugando meu sangue
vampiro de minha esperança
a última saída
cante pra mim
a música da saída
qual?
nos quatro cantos
eu vejo
talvez meus olhos não sejam meus não sejam seus não sejam olhos 
através da insanidade a sanidade
arranco de mim a visão
essa visão
não quero essa visão
em toda parte sem saída
não existe a música de saída não existe saída não existe
pernas como floresta negra de assombro eu quero passsar! 
deixa eu passar
me deixa passar
eu quero ficar eu quero ir eu quero atravessar eu quero esconder eu quero guardar e quando olhar não mais ser
não mais estar

10.8.14

Elm - Sylvia Plath



Tradução de: Marina Della Valle, do artigo Sylvia Plath: quatro “poemas-porrada”

OLMO
Para Ruth Fainlight
Conheço o fundo, diz ela. Conheço-o com minha raiz mestra:
É o que temes.
Não o temo: eu estive lá.

É o mar que ouves em mim,
Suas insatisfações?
Ou a voz do nada, era essa tua loucura?

O amor é uma sombra.
Como mentes e choras em seu encalço
Escuta: são seus cascos: disparou, como cavalo.

Toda a noite devo assim galopar
Até fazer de tua cabeça rocha, de teu travesseiro gramado,
Ecoando, ecoando.

Ou devo te trazer o som dos venenos?
Agora é chuva, este grande silêncio
E seu fruto: branco-metálico, como arsênico.

Sofri a atrocidade dos poentes.
Escorchada até a raiz.
Meus fios rubros queimam e eriçam, mão de arame.

Agora me desfaço em pedaços que voam como tacos.
Vento assim violento
Não tolerará nada ao redor: preciso gritar.

A lua, também, é impiedosa: ela me arrastaria
Cruelmente, já que é estéril.
Sua radiância me corrói. Ou quem sabe a peguei.

Deixo que se vá. Deixo que se vá.
Diminuída e chata, como após cirurgia radical.
Como seus pesadelos me possuem e me dotam.

Sou habitada por um grito.
Quando é noite ele se agita
Procurando, com suas garras, por algo para amar.

Tenho pavor dessa coisa escura
Que dorme em mim;
Todo o dia sinto seu retorcer emplumado, sua índole ruim.

Nuvens passam e se dispersam.
São essas as faces do amor, pálidas irremediáveis?
É por tanto que agito meu coração?

Sou incapaz de saber mais.
O que é isto, esta face
Tão criminosa em seu sufocar de galhos? –

Teus ácidos ofídicos silvam.
Petrificam a vontade. São essas falhas lentas, isoladas
Que matam, matam, matam.

Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...