16.6.19

Sarah Kane - Ânsia e Psicose 4:48





Blasted foi a primeira peça de Sarah Kane estreada em 1995. A cena toda ocorre dentro de um quarto de hotel e começa mostrando a relação abusiva de Ian, um jornalista de cerca de 40 anos, com Cate, uma jovem e há alguns indícios que ela tenha algum condição mental. Logo de cara, o personagem Ian causa muita repulsa, um homem muito preconceituoso e violento. Até ai vemos apenas uma peça realista com forte teor violento verbal. A cena explode quando Cate sai do quarto e entra um soldado, avisando do caos lá fora. O que se segue é uma sequência de ações absurdas entre o Soldado e Ian que envolve canibalismo e estupro. Quando Cate retorna com um bebê, a situação fica mais bizarra. Falando assim talvez eu não esteja convencendo muito vocês a lerem, mas eu tenho um gosto particular por autores que chocam. Não acho que Sarah Kane seja um choque pelo choque e mesmo trazendo personagens masculinos repulsivos, entendo que ela quer mostrar o ápice de uma masculinidade tóxica. Blasted pra mim é uma metáfora das relações internas e externas permeadas pela violência política e interpessoal.
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Quem se interessar em ler, tenho o pdf disponível no drive. #play #sarahkane #bookgram #bookish #bookstagram #bookster #books #libros #libre #livros #leitura #lecture #readwomen #leiamulheres #dramaturgia #dramartugas #theatre

Os Trabalhos e as noites - Alejandra Pizarnik




Em "Os trabalhos e as noites" a poesia de Pizarnik se faz portal para um mundo de amantes soturnos que se olham e se fundem exasperados. Na foto da quarta capa, Pizarnik nos olha com intensidade, assim como o poema é convite para abrir passagens entre a carne. O corpo é uma imagem presente em todo o livro, seja o corpo inteiro, ou em partes. A poeta trancafiada dentro de si, só entrega-se para que o leitor se revele também ou se perca. O corpo é espaço para revelações, lugar da ferida, mudo, fogo incessante, barco náufrago. Apesar da noite silenciosa, a poeta clama ao interlocutor que fale. A voz, longe ou perto, é elemento constante - "tua voz/neste não poder arrancar as coisas". É através do verso que ela procura romper com a solidão que "agora não está a sós". A poesia "fala como a noite/anuncias como sede". Esta noite, pode durar muito tempo, pois "a noite é presença", e é por vezes cortada pela luz;  para atravessá-la, só é possível se a ela nos fazemos de oferenda.

Baixei o livro aqui

//
revelações

Na noite a teu lado
as palavras são senhas, são chaves.
O desejo de morrer é rei.
Que o teu corpo seja sempre
um amado espaço de revelações.
//
encontro

Alguém entra no silêncio e abandona-me.
Agora a solidão já não está só.
Tu falas como a noite.
Anuncias-te como a sede.

//

os trabalhos e as noites

para reconhecer na sede o meu emblema
para concretizar o meu único sonho
para nunca mais voltar a sustentar-me no amor
fui toda oferenda
um puro errar
de loba no bosque
na noite dos corpos
para dizer a palavra inocente

2.6.19

Como morrem as democracias - uma postagem com muitos links


Você sabe explicar o que é fascismo? Sim / Não

Você sabe explicar o que é comunismo? Sim / Não

Você se acha comunista? Por que? 

Você já chamou alguém de fascista? Por que?

Se você não tem certeza dessas respostas, será que não é mais que na hora de precisarmos saber falar sobre isso, de verdade?

Eu sou uma pessoa teimosa, sou sim. Hora de admitir isso. 

Há umas duas semanas eu tive um debate com a gerente do setor que trabalho e outras funcionárias sobre o fascismo hoje em dia. Na ocasião, debatíamos sobre os eleitores do Bolsonaro e a "manifestação pró-governo". Uma das funcionárias, estudante de Ciências Sociais, disse que chamar toda essa galera de fascista é banalizar o termo, concordei e perguntei a ela então o que era ser fascista - porque na hora eu vi que também não sabia responder, assim como as pessoas que chamam todo mundo de fascista ou comunista, inclusive esse foi um exemplo dela. Seu argumento era de que as coisas são mais complexas e é um conceito complicado que não daria para resumir assim rapidamente e que chamar todo mundo de fascista dava no mesmo de chamar todo mundo de comunista. 


Outra funcionária, estudante de História concordou e eu também pedi a ela que me explicasse pelo amor da deusa então quando eu tinha o direito de chamar alguém de fascista. 

Não obtive resposta pelo mesmo argumento, o de que era necessário uma análise profunda para julgar alguém como fascista. Ela também disse que não considera o governo do Bolsonaro fascista e que o fascismo hoje não seria igual ao que existiu na Itália em mil novecentos e alguma coisa (nem a data eu sei). 

A gerente em algum momento me desafiou a dizer o que era comunismo (ou pelo menos eu senti isso porque sempre que alguém me pergunta se eu sei algo eu me sinto desafiada), pois eu estava insistindo na ideia de que era possível chamar alguém de fascista hoje - só não tinha lido livro nenhum sobre isso - e que mesmo tendo acontecido há muito tempo e sendo diferente hoje - uma pessoa pode ter atitudes fascistas. 

Na minha cabeça o fascismo foi um movimento que surgiu, com certas características que eu chamei de atemporais no sentido de que poderia existir novamente em qualquer ser humano. Nenhuma das 3 concordou muito com o que eu disse. Ai voltei pro argumento do comunismo, que se alguém pode se dizer comunista hoje, então eu posso identificar alguém como fascista. 

Foi quando a gerente virou pra mim e disse: é diferente, acredito que você sabia o que é comunismo, não é mesmo?



nesse momento eu tirei da minha bolsa o manifesto comunista versão comentada e bilíngue e minha boina do che guevara

NÃO foi isso.
eu também não sabia dizer naquele momento as palavras certas pra definir o comunismo

calma,

eu vou chegar em algum lugar com tudo isso.


Realmente foi um bug na minha cabeça, eu de fato nunca tinha mesmo lido sobre o assunto, nunca joguei no Google, nunca vi um vídeo resumido no Youtube, era só uma coisa bem superficial na minha cabeça por algumas palavras soltas das aulas de História, acho que a alienação está meio que dos dois lados, a gente brada nas redes sociais que é "antifa" - e somos - mas eu não sei definir mesmo mesmo o que é um fascista, ou o fascismo... nem de longe querendo passar a mão na cabeça de quem elegeu esse homem (pensei em escrever monstro, diabo, lixo, mas é importante saber que infelizmente ele não é uma coisa, apesar de parecer muito mesmo um robô, tratá-lo como homem - não é humanizá-lo - mas vê-lo como real), mas eu acho que eu também preciso de mais conhecimento. Óbvio que o que eu sei foi suficiente pra eu não me tornar uma eleitora do Bozo17, mas eu acho que precisamos de mais.

Nós, estudantes universitários, que estamos brigando pela permanência do ensino público e tudo mais, nas ruas, na internet, argumentando por ai, precisamos mesmo saber o que estamos falando.

Eu tenho quase certeza de que se eu sair com um microfone por aí perguntando pelos campus universitários da galerosidade das humanas ou nos bares que circulam a galera alternativa de boaça totalmente antifa e perguntar "o que é um fascista/comunista?" ou "o que foi o comunismo/fascismo?.". Poucos vão ter argumentos fortes pra responder.

No começo quando pensei isso me bateu um leve desespero porque eu meio que gritei EU NÃO VOU CONSEGUIR LER TUDO. Mas não é preciso ler todos os livros do Karl Marx ou as 590 páginas de "A Origem do Totalitarismo" agora, pra semana que vem. Mas é preciso começar. 

Dai vem a parte da teimosia, isso ficou tanto na minha cabeça que:

1. eu já falei desse acontecimento pra várias pessoas próximas (começou por uma outra colega de trabalho que folgou nesse dia e no dia seguinte eu cheguei pra ela tu não sabe o que aconteceu ontem - e provavelmente só eu tô lembrando desse debate até agora)

2. Assim que pude eu corri pra biblioteca municipal da cidade e fui atrás de algum livro sobre o tema, mas não tive muito sucesso e só peguei o livro O QUE É COMUNISMO, da coleção Primeiros Passos. Bom como o nome da coleção já diz.........

3. No dia me indicaram dois livros. A estudante de Ciências Sociais falou do livro Como morrem as democracias, que eu já tinha visto bastante nos perfis de livros e já comecei a ler no kindle. E a de História mandou afrontosamente um PDF de fucking 500 páginas do livro da Hannah Arendt chamado "A Origem do Totalitarismo". 

sério

quem que manda um pdf de 500 pgs, é muita afronta. certo, acho que estou levando pro pessoal isso tudo aí. sai de mim imaturidade política!

Bem, por enquanto eu vou começar por duas leituras:

- Como morrem as democracias (para download aqui)

- Fascismo (Benedito Mussolini, Leon Trotsky), pois tem 104 páginas, depois eu encaro as 500 da Hanah Arendt

Vou deixar aqui alguns links para vocês ficarem meio perturbados como eu. Mas apesar das opções serem muitas, comecem por algum! Acho importante mesmo sabe, galera... MESMO. E esse dia serviu pra entender de vez por todas isso, a gente reclamada de uma letargia da população, mas e nós?






Busca pelo termo fascimo no site do skoob (pra você já ir marcando como "quero ler")

Outro livros que me interessam 







15.5.19

Conheça: Alejandra Pizarnik



Ah, esses olhos. Alejandra Pizarnik se tornou minha nova obsessão em 2017 quando fui a Buenos Aires e passeando pelos sebos perto do hostel entrei em um chamado El Rufião Melancólico, depois de conversar um pouco o dono do lugar ele pega um volume da obra completa de Alejandra e me diz "isso aqui é coisa séria". Quebrando um pouco o esperado, não pude levar o volume que custava cerca de 100 reais, nessa viagem inclusive tive que escolher entre comer nos cafés mais lindos que já vi ou comprar os livros que foram escritos nos cafés mais lindos que já vi. Preferi a quasi-experiência dos poetas argentinos. Antes desse acontecimento ouvi o nome de Alejandra, pois @ninaarizzi já havia traduzido A árvore de Diana, mas não li logo. Porque outra particularidade de minhas obsessões literárias é que gosto de mantê-las em panelas de pressão. Fico cozinhando a vontade até chegar o momento "certo", que não sei definir quando é. Com Pizarnik chegou em Abril, coincidentemente mês de seu aniversário, quando pedi a uma colega para trazer da feira da Unesp o box da @relicarioedicoes que estava em promoção. Então entrei nessa noite soturna e quente que é a poesia de Pizarnik. Filha de eslavos, Alejandra é pseudônimo de Flora. Amiga de contemporâneos como Octavio Paz e Júlio Cortázar (com quem manteve uma amizade intensa até o fim da vida) Alejandra arrebatou leitores com uma poesia melancolicamente feroz, de "vocabulário restrito", mas que traz a precisão de uma cirurgiã da arte de versar a vida. Tendo passado por muitos momentos de depressão, Flora veio nos deixar ao ingerir grande quantidade de sedativos, um fim de semana após ter saído de uma clínica psiquiátrica em que ficou por 5 meses. Alejandra já com certeza uma das grandes poetas da minha vida. Que venha mais Pizarnik para nós!


Nasce em 1936, em Buenos Aires. Suicida-se em 1972.

Estes ossos brilhando na noite, 
estas palavras como pedras preciosas 
na garganta viva de um pássaro petrificado, 
este verde mui amado, lilás candente, 
este coração só misterioso. 
(Árbol de Diana, 1962).

10.5.19

Comentário: Histórias de Cronópios e de Famas



Reinventar um mundo. Reaprender a andar, respirar, viver, amar, correr, subir escadas, dar cordas num relógio, amolecer tijolos. Ser você mesmo, ser outro. Córtazar, quando eu te leio me sinto tão melancólica, e também mais forte. Ser maluca num mundo caduco, meio drummondiana. Criar. Ser tolo, ser bobo. Também precisamos em algum momento. Ficando louco para não enlouquecer. Deve ser isso que significa ser artista, ser poeta.

Esse ano eu li 3 autores latinos, Bolãno, Córtazar e Pizarnik. Ambos me trouxeram sentimentos semelhantes a esses que acabei de contar. Uma veia sonhadora que parece percorrer a América Latina, e chega no meu coração. Apenas uma garota latina-americana sem dinheiro no banco ou parentes importantes. Com Bolaño nós lemos personagens que não parecem reais, mas foram. Com Córtazar conversamos com personas surreais, mas que parecem muito como seres humanos e Pizarnik me trouxe uma poesia de quem flutua entre esse real e o que não conseguimos expressar, uma mulher entre espelhos.

Vocês já sabem, eu não falo de livros, eu falo do sentimento pelos livros. "A leitura deve ser antes de tudo um ato de amor". Mas do que se trata Histórias de Cronópios e de Famas? Quantas páginas têm? Que editora lançou? Em quantas partes é divido? Quem são cronópios, quem são famas? Bem... deixo esse serviço para os profissionais do ramo...



O que posso dizer é que esse curto livro com manuais, matérias primas e seres imaginários fez meus olhos brilharem como uma criança que se diverte só de ver uma borboleta, ou andar na grama ou na primeira vez que vê o mar, Cortázar apresenta para nós o encanto do mundo engolido pelas obrigações e burocracia. Enquanto em Kafka, os personagens sucumbem surrealisticamente ao mecanismo da engrenagem que mói qualquer sentimentalismo ou sensibilidade, em Cortázar temos a possibilidade de voar para fora da Terra ou recriá-la.

13.4.19

Contos de Tchekhov - outra falsa resenha

Vou falar muito intuitivamente sobre minha experiência com os contos de Tchekov. Primeiramente contextualizar minha escolha. Elaborei um "desafio" para ler mais os livros da estante e uma das categorias era ler "o livro mais antigo que não li". Não sei se esse livro era o mais antigo, mas já estava bem esquecido sem previsão de ser tirado da estante. Enfim, li o bendito. A edição contém a peça As três irmãs, que eu já havia lido, então pulei para os contos, que são 6. 




Em geral, posso dizer que a escritra de Tchekhov é "impecável", é possível perceber o labor da escrita, uma lapidação magistral. No entanto eu tive dificuldade de realmente sentir "prazer" nessas histórias pelos temas e personagens que representam muito bem o pensamento da época, mas que hoje pra mim merecem uma leitura crítica. Algumas pessoas não acham necessário essa observação e apenas reproduzem o "clássico é clássico", mas o peso da genialidade que aquele clássico carrega, muitas vezes também traz consigo um penso histórico de machismo e racismo, que pra mim devem ser pontuados nas leituras atuais, pois graças a deusa temos a capacidade pelo menos intelectual de não aceitar mais essas ideias, e se a gente coloca o livro nesse lugar de nuvem sem relação com a sociedade e com a materialidade, então ler serve pra que?


O que me deixou incomodada é algo que de certa forma eu não tinha como esperar o contrário. Os personagens principais dos contos são todos homens e as mulheres que aparecem são sempre colocadas numa visão subalterna. Ora são chamadas de "mulheres perdidas" (prostitutas), ora são esposas confinadas na vida doméstica, nervosas demais e que só aparecem para "importunar o marido", outra é uma atriz "sem talento" e desesperada; uma outra era muito bela e admirável "até se declarar" (como se uma mulher que coloca seus sentimentos fosse menos desejável), e por aí vai. Sim, esse era o pensamento da época e como eu disse não tem como esperar algo diferente. O que nos faz refletir o seguinte: os maiores intelectuais de cada época quando numa situação confortável de homem branco e burgês não ousaram com sua arte realmente choacalhar os costumes da sociedade... 

No entanto, não digo necessaiamente que essa era a mentalidade do autor, mas um retrato do pensamento de homens da época transpostos para os personagens, senti algumas vezes até certa ironia, principalmente no conto "Uma história enfadonha", em que o personagem principal era um médico e professor quase se aposentando, bem detestável e dessa vez não só com as mulheres, inclusive ele vai refletindo se esse sentimento de mau humor constante é algo da idade e se sente muito angustiado quando percebe que tem se tornado mais rabujento... dai em alguns momentos eu pude perceber que talvez Tchekhov quisesse mesmo "ridicularizar" esse tipo, pois mesmo sendo um grande expoente do teatro moderno burguês e do conto moderno, o autor também é um crítico do universo da burguesia. 

Nesse sentido, pude notar em todos os personagens ds contos um tédio da vida, um desgosto, um "não saber o que fazer", há um conto especificadamente que se chama Crise, mas a maioria dos personagens nos outros contos estão ou acabam entrando em crise. Essa presença do tédio pela vida é muito forte também nas duas peças que li dele, A Gaivota e As três Irmãs. Esse desencanto existencial e os momentos de reviravolta na tragetória de personagens que até então viviam tudo conforte manda a sociedade foi algo que mais me prendeu, o desenho de narrativa que o autor faz quanto a isso é extremamente bem feito.

Mesmo com as ressalvas, recomendo a leitura de um dos autores mais importante da arte de narrar histórias curtas, tanto pela curiosidade de ler um clássico e até mesmo como "diversão", pois apesar das questões levantadas, ainda encontrei uma escrita leve e por vezes sarcástica.

16.1.19

Ler mulheres negras

Quando somos indagados ou indagadas sobre quantas mulheres negras já lemos ou quando nos damos conta de que ao ler recomendações de livros favoritos, quase nunca há um escrito por uma mulher negra na lista, há algumas "justificativas" usadas que são "engraçadas" (contém ironia). Dizem:

1. "Mas eu não sou obrigada(o) a ler mais mulheres negras, nem mais brasileiras, não quero ninguém vindo cagar regra no meu perfil"

Ora, tem uma falta de entendimento muito grande em receber críticas/sugestões na internet. Se a gente desenha certo tipo de padrão que EXISTE, tanto de consumismo como de "preferências", que são moldadas por várias coisas (não é só questão de gosto que várias pessoas vão decidir ler grande sertão: veredas por conta da nova edição da cia das letras que aparece no seu feed a cada 5 segundos ou de cem anos de solidão que tem edição nova todo ano, mas não se vê nenhuma propaganda de lançamento da Alzira Rulfino, por exemplo), as pessoas logo acham que a gente vai colocar um guarda municipal na casa de cada um obrigando todo mundo a só ler mulher agora, a só ler brasileira, a só ler negras. NÃO GENTE, NÃO É ISSO. É só um dado, uma observação, um fato: mulheres negras são menos lidas, menos premiadas, menos publicadas. Simples. Ninguém vai te colocar na cadeia por não ter lido nenhuma mulher negra no ano, você não é a pior pessoa do mundo, não se trata desse juízo de valor moral/ético. Mas também precisamos aceitar nosso lugar de privilégio, precisamos aceitar que estamos contribuindo sim para essa exclusão, ninguém tem que levar 700 chicotadas por isso, mas acredito que reconhecer que "é verdade, eu dou menos atenção a literatura produzida por mulheres negras, vou procurar mudar isso", não vai arrancar o couro de ninguém também. Agradeço muito a perfis como o da @camillaeseuslivros, da @impressoesdemaria, @guardiadaestante e @empretecendonarrativas por sempre incentivarem a lermos mais mulheres negras. Eu também não decidi fazer isso para ser mais cool (outra justificativa que vou destrinchar depois), ter mais seguidores ou só parecer mais consciente. Eu quero ser mais consciente e acredito no poder da literatura para isso. E querer ser mais consciente não é só para parecer ser algo ou para me exibir desse grande feito na vida. Não vou eliminar todos os meus defeitos porque li Chimamanda, mas com certeza não saio a mesma depois de uma leitura dessas, com certeza irei pensar melhor meus posicionamentos como feminista branca, com certeza irei rever situações em que fui racista e eu acho isso sim importante para resistirmos todas juntas.



“Eu fiquei abismada com a quantidade de mulheres negras que não conseguem publicar e quando publicam é em livros de antologias – não são livros próprios -. Então, elas precisam pagar para publicar, quando acontece, e têm dificuldade de divulgar o trabalho. É uma realidade muito dura para as mulheres negras” Calila das Mercês

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