16.6.19

Os Trabalhos e as noites - Alejandra Pizarnik




Em "Os trabalhos e as noites" a poesia de Pizarnik se faz portal para um mundo de amantes soturnos que se olham e se fundem exasperados. Na foto da quarta capa, Pizarnik nos olha com intensidade, assim como o poema é convite para abrir passagens entre a carne. O corpo é uma imagem presente em todo o livro, seja o corpo inteiro, ou em partes. A poeta trancafiada dentro de si, só entrega-se para que o leitor se revele também ou se perca. O corpo é espaço para revelações, lugar da ferida, mudo, fogo incessante, barco náufrago. Apesar da noite silenciosa, a poeta clama ao interlocutor que fale. A voz, longe ou perto, é elemento constante - "tua voz/neste não poder arrancar as coisas". É através do verso que ela procura romper com a solidão que "agora não está a sós". A poesia "fala como a noite/anuncias como sede". Esta noite, pode durar muito tempo, pois "a noite é presença", e é por vezes cortada pela luz;  para atravessá-la, só é possível se a ela nos fazemos de oferenda.

Baixei o livro aqui

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revelações

Na noite a teu lado
as palavras são senhas, são chaves.
O desejo de morrer é rei.
Que o teu corpo seja sempre
um amado espaço de revelações.
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encontro

Alguém entra no silêncio e abandona-me.
Agora a solidão já não está só.
Tu falas como a noite.
Anuncias-te como a sede.

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os trabalhos e as noites

para reconhecer na sede o meu emblema
para concretizar o meu único sonho
para nunca mais voltar a sustentar-me no amor
fui toda oferenda
um puro errar
de loba no bosque
na noite dos corpos
para dizer a palavra inocente

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