10.5.19

Comentário: Histórias de Cronópios e de Famas



Reinventar um mundo. Reaprender a andar, respirar, viver, amar, correr, subir escadas, dar cordas num relógio, amolecer tijolos. Ser você mesmo, ser outro. Córtazar, quando eu te leio me sinto tão melancólica, e também mais forte. Ser maluca num mundo caduco, meio drummondiana. Criar. Ser tolo, ser bobo. Também precisamos em algum momento. Ficando louco para não enlouquecer. Deve ser isso que significa ser artista, ser poeta.

Esse ano eu li 3 autores latinos, Bolãno, Córtazar e Pizarnik. Ambos me trouxeram sentimentos semelhantes a esses que acabei de contar. Uma veia sonhadora que parece percorrer a América Latina, e chega no meu coração. Apenas uma garota latina-americana sem dinheiro no banco ou parentes importantes. Com Bolaño nós lemos personagens que não parecem reais, mas foram. Com Córtazar conversamos com personas surreais, mas que parecem muito como seres humanos e Pizarnik me trouxe uma poesia de quem flutua entre esse real e o que não conseguimos expressar, uma mulher entre espelhos.

Vocês já sabem, eu não falo de livros, eu falo do sentimento pelos livros. "A leitura deve ser antes de tudo um ato de amor". Mas do que se trata Histórias de Cronópios e de Famas? Quantas páginas têm? Que editora lançou? Em quantas partes é divido? Quem são cronópios, quem são famas? Bem... deixo esse serviço para os profissionais do ramo...



O que posso dizer é que esse curto livro com manuais, matérias primas e seres imaginários fez meus olhos brilharem como uma criança que se diverte só de ver uma borboleta, ou andar na grama ou na primeira vez que vê o mar, Cortázar apresenta para nós o encanto do mundo engolido pelas obrigações e burocracia. Enquanto em Kafka, os personagens sucumbem surrealisticamente ao mecanismo da engrenagem que mói qualquer sentimentalismo ou sensibilidade, em Cortázar temos a possibilidade de voar para fora da Terra ou recriá-la.

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