31.3.21

[Resenha] Ninguém vai lembrar de mim - Gabriela Soutello

É um livro difícil de pegar nos braços, são tantos sentimentos, imagens e sensações que me perfuram que gostaria de conseguir reter todas as palavras aqui na retina, para nunca esquecer.


Mas sei que esquecerei, essa é a tristeza da leitura. Esquecemos algum dia todas as frases que tanto nos maravilharam.

Ficamos apenas com o que cola no corpo. Por isso ler, não é algo só intelectual, é sensorial. E o livro de Gabriela Soutello mexe mesmo com nossos sentidos.

O livro é composto por prosas poéticas. Não existe uma narrativa linear, também não são contos da maneira convencional que entendemos o que é um conto.

Aqui temos fragmentos do percurso investigativo de uma mulher com sua solidão, amores, sexualidade, divagações sobre o futuro e memórias. Não em busca de nada específico, apenas deixando-se escorrer em vermelho.

Cada texto, mesmo que não totalmente compreensível em uma primeira lida, parecia narrar uma parte minha. Isso porque Gabriela consegue revirar por dentro detalhes íntimos das relações humanas.

Não conheço Gabriela, não sei quem ela é, o que é verdade ou não e não importa. O que temos é um material de entrega que nos pede mutuamente permissão para desbravarmos-nos.

Processo Criativo

 Falar de Processo criativo é algo que faz meus olhos brilharem! Tanto que meu TCC foi sobre isso e provavelmente meu mestrado também será.


Amo pensar sobre como uma ideia surge, quais os percalços e percursos um artista passa no caminho que é cheio de curvas e texturas diferentes.

Apesar disso, pouco li sobre o assunto em se tratando de livros mais conhecidos, tudo que sei foi realizando.

Com o processo criativo do meu livro aprendi algumas lições que compartilhei no último vídeo lançado no canal.

Converso sobre metas, companhia, desafios e alegrias que envolvem essa loucura de lançar uma obra no mundo.

Vai lá assistir e conversar comigo!

Gosta do assunto? Qual sua maior dificuldade em relaçãozona criação? Pode ser em arte ou qualquer coisa! Vamos papear 💕



Produção de conteúdo e cansaço de marketing digital agressivo

 


Parece uma bobagem, mas até pouco tempo eu me importava muito com um mecanismo engessado de conexão do Instagram.

Perfis de marketing digital dizem que se você não tem respostas nas enquetes, nem comentários ou se as pessoas não compram de você quer dizer que você está fazendo algo errado.

Isso gerava em mim um sentimento muito ruim de autocobrança e cobrança nas pessoas que me seguem.

Claro que existe formas de melhorar sua presença aqui para chegar a alguns objetivos, mas eles não precisam ser os mesmos que os de todo mundo.

E como ensinar essas sugestões sem parecer impositivo? Sem gerar ansiedade em ninguém por não alcançar isso? Ou até mesmo questionando se você não precisa alcançar isso?

E é preciso? É necessário que eu agrade tanta gente assim?

Tenho 4.740 seguidores e o que para muita gente é pouco, pra mim é gigante.

Afinal, há 4 anos eu não tinha esse perfil, e toda semana recebo mensagens de leitores desde que 2021 lancei meu livro Meus Fantasmas Dançam no Silêncio.

1 comentário dizendo que seu texto falou diretamente com aquela pessoa é suficiente.

1 riso depois de um reels engraçado é suficiente.

40 leitores em um mês é lindo demais!

A gente esquece de ver esses números como pessoas e só olha pra falta.

É um saco se sentir mal por conta de uma lógica que fica vendendo a ideia que a felicidade vai cair em você instantaneamente como uma latinha de refrigerante que você pega naquelas máquinas automáticas quando chegar a 10k e depois 20k e depois são 100k. Ou será que só eu que me sinto assim?

Mas não tô aqui pra generalizar e quero indicar uma galera massa que fala de produção de conteúdo de forma compassiva, gentil e interessante.

Aprendi a entender que - pra mim - foi mega importante saber usar as redes sociais para divulgar meu livro, eu só não preciso sofrer e ficar ansiosa por conta disso ;)

Se liga neles:

@leticia.imai
@pinturadaspalavras
@tira.do.papel
@botanarua
@a_estranhamente
@content.vc

Me conta, como é sua relação com produção de conteúdo e marketing?








16.3.21

Lavorare Stanca

Cansada. Essa foi a palavra/sentimento que mais ouvi e disse nesse Março.

Coincidência ser o mês da mulher? Ou fazer um ano de pandemia? Acho que não.

E sabe o que tenho pensado, que talvez eu não pare mais de estar cansada. 

Uma vez de olhos abertos, cansa

cansa ver o mundo com as mesmas rachaduras

cansa trabalhar e sentir que não chegamos longe

cansa não saber o que é o longe, porque estamos nos comparando com o longe dos outros. 

cansa se comparar

cansa rolar o feed por 3 horas durante o dia vendo a vida alheia, se sentimento mal, não mudando nada, ficar cansado ao mesmo tempo com a sensação de não ter feito nada de útil.

cansa falar da internet, ah que grande chatice

cansa querer ser útil

cansa nunca se achar útil

cansa falar de mim

cansa olhar pro meu umbigo

e não saber escrever sobre a humanidade, a pandemia e seus impactos

cansa usar de autoironia quando não se tem nada melhor para escrever, como agora.

cansa ser mulher

cansa

não querer ser mulher, porque não se imagina um mundo em que mulheres não morram a cada minuto só por serem mulheres. 

cansa sonhar

ah, cansa muito sonhar

porque queria sonhar cegamente sem nunca me abalar com as adversidades

mas não, eu sonho um sonho pessimista, e não desisto, porque sonho e tenho esperança, 

mas cansa que essa esperança implore minha atenção mais que minhas dúvidas

e cansa não terminar nunca esse texto 

porque os que estão nas ruas, que trabalham em outras coisas, que têm fome, os que não sei que sonhos têm 

também estão cansados 

e eu poderia escrever o que vejo neles, mas não sou capaz de verdade

e queria lhes entregar uma folha e dizer escrevam seus cansaços

mas me parece estúpido

mesmo que escrever, ainda que cansada

seja tudo que consigo fazer agora. 

11.3.21

A mulher mais amada do mundo - Vanessa Passos

Alguns livros nos marcam pelos longos meses dedicados a eles como uma travessia persistente. 

Outros pela velocidade com a qual atingem nosso íntimo como uma farpa, um pequeno objeto perfurando nosso corpo e latejando por alguns dias. 

Nesse segundo grupo está o livro A mulher mais amada do mundode Vanessa Passos. 

São 13 contos que possuem no máxino duas páginas cada, todos com mulheres como protagonistas, tazendo histórias sobre solidão, luto, descobertas interiores.

O grande foco são as personagens com suas contradições e veredas, que me fizeram refletir sobre as mulheres que habitam em mim - pois ao longo da leitura me identifiquei com várias. 

Em nossa sociedade, a união entre mulheres foi destruída como projeto político, como encontramos no livro Calibã e a Bruxa de Silvia Federici. Sentimentos nocivos de competitividade e rebaixamento entre mulheres são incentivados na mídia e nas representações artísticas. 

Na contramão de tudo isso, o livro de Vanessa Passos surge desse fogo usado para queimar nossas antepassadas, cada história pega na sua mão e te convida a também contar as suas. São contos-gritos de liberdade contra esse apagamento.

Em um dos contos, quando a neta de Alice decide contar a história da avó, não é só sobre ela que a personagem se refere, mas da vida de milhares de mulheres que não foram ouvidas, que não acham que suas vidas são banais demais para a literatura, e aqui, eu sinto que cada história que temos dentro de nós importa, muito.

Os contos me fazem observar também as mulheres ao meu lado e as que já passaram na minha vida; me faz amar mulheres de modo geral, como um coletivo, me faz querer que cada uma se sinta: a mais amada do mundo. 


10.3.21

Todos os nós, Maria Luiza Maia



Todos os nós é o segundo livro da escritora baiana Maria Luiza Maia. O título, de início, me chamou atenção pela abertura de dualidade em que remete a nós (angústias) internos, as "falas entupidas" como diz Ana Crisitina Cesar, ou "nós" como uma multidão contida em si. E sem chegar a nenhuma conclusão, sinto ambos.

Li a poesia de Maria Luiza como uma conversa infinita no espelho, como se eu ficasse tentando entender o que é meu corpo no mundo.

Aliás, essa investigação do corpo é um tema transversal durante o passeio nessa leitura.

Ao longo do livro há uma sequência de poemas intitulados "Para Clara", que não são seguidos um do outro, em que Maria constrói a imagem marcante de um corpo que tenta se costurar.


Achei essa sequência o ponto alto do livro, principalmente por serem saltados, e me deu a sensação de atravessar vários sentimentos, mas sempre voltar para me perguntar como me costurar quando rasgada. Ao que Maria avisa: "não espere que alguém os emende".

Os poemas, assim, vasculham a estrutura desse corpo rompido, espatifado e também dialogam com o próprio fazer poético com ironia como quando conclui que "os poetas são mentirosos" e rebate possíveis críticas sobre escrever um poema que não tem rimas e palavras difíceis.

Todos nós é uma leitura que me faz enfrentar meus buracos, minha solidão, com poemas que ficam no ar durante um tempo "para que a pele se acostume com os pontos".

5.3.21

Sobre quando eu pensei que fui recusada


Não ter muitos seguidores ou perdê-los te faz desanimar de continuar criando?

Acho que esse sentimento já deve ter passado na mente de todo criador de conteúdo.

Não lembro quando comecei a duvidar de que compartilhar sobre livros não valia a pena só porque eu não era "um perfil grande" ou não ganhava dinheiro ou livros de "graça".

Mas chegou esse dia, em que o simples prazer de escrever sobre um livro parecia sem sentido porque para mantê-lo eu precisava de uma bomba de ar que só era enchida com o aceite de editoras nas seleções de parcerias, ou com o crescente ganho de seguidores que validassem a qualidade do que faço. 

Chegou o dia em que meu compartilhar o que sinto e gosto precisava passar por um raio-x de qualidade ou não. 

Foi só esse ano, depois de 5 anos de Instagram, que consegui ser aceita na seleção de uma editora, que fiz meu primeiro publi e que vieram perfis me oferecer parcerias. 

Mas uma coisa eu entendi nesse percurso todo: eu não quero colocar minha autoestima na mão dessa lógica de números. Me recuso! E quando eu ver que estou caindo nisso, eu passo um tempo longe do instagram pra me reconectar comigo.

Não estou desprezando conseguir entrar nessa bolha, entenda, mas o maior publi que quero fazer é de mim mesma, ou seja, valorizar o meu conteúdo, meu livro e meus serviços porque eles são bons. 

Talvez meu perfil não seja o tipo que vai atrair milhares de seguidores e existe algo de errado nisso? Não existe. 

Muitos artistas construiram trajetórias incríveis quando foram recusados, e existe muita gente massa no mundo fazendo diferença na vida das pessoas que não estão nem no Instagram. Talvez a gente esteja querendo que nossa felicidade caiba numa ideia de sucesso que não é o que nos faz mesmo feliz.

Se eu não tivesse as recusas que tive, eu não teria espaço para pensar no que eu realmente quero. 

Existem parcerias que podem acontecer de forma muito mais autêntica e sensível, como foi o caso que tive esse ano com a @macabeia_edicoes que me enviou o livro da Danuza Leão, ou do grupo @fazia_poesia que me convidou para divulgar a oficina deles. 

Algumas rejeições servem para nos levar a lugares diferentes do que a maioria te indica, e não para te fazerem duvidar do seu valor.



Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...