Alguns livros nos marcam pelos longos meses dedicados a eles como uma travessia persistente.
Outros pela velocidade com a qual atingem nosso íntimo como uma farpa, um pequeno objeto perfurando nosso corpo e latejando por alguns dias.
Nesse segundo grupo está o livro A mulher mais amada do mundo, de Vanessa Passos.
São 13 contos que possuem no máxino duas páginas cada, todos com mulheres como protagonistas, tazendo histórias sobre solidão, luto, descobertas interiores.
O grande foco são as personagens com suas contradições e veredas, que me fizeram refletir sobre as mulheres que habitam em mim - pois ao longo da leitura me identifiquei com várias.
Em nossa sociedade, a união entre mulheres foi destruída como projeto político, como encontramos no livro Calibã e a Bruxa de Silvia Federici. Sentimentos nocivos de competitividade e rebaixamento entre mulheres são incentivados na mídia e nas representações artísticas.
Na contramão de tudo isso, o livro de Vanessa Passos surge desse fogo usado para queimar nossas antepassadas, cada história pega na sua mão e te convida a também contar as suas. São contos-gritos de liberdade contra esse apagamento.
Em um dos contos, quando a neta de Alice decide contar a história da avó, não é só sobre ela que a personagem se refere, mas da vida de milhares de mulheres que não foram ouvidas, que não acham que suas vidas são banais demais para a literatura, e aqui, eu sinto que cada história que temos dentro de nós importa, muito.
Os contos me fazem observar também as mulheres ao meu lado e as que já passaram na minha vida; me faz amar mulheres de modo geral, como um coletivo, me faz querer que cada uma se sinta: a mais amada do mundo.
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