31.1.21

Home Body (Meu corpo, minha casa) - Rupi Kaur

Rupi é uma escritora muito importante para o movimento mais recente de poesia de cunho feminista, por ter viralizado e chegado em muitras pessoas que inclusive não gostavam de poesia e mulheres que não se viam como feministas.

São poemas que falam de um lugar de dor, geralmente tratando de relacionamentos abusivos, abusos sexuais, sentimentos de baixa auto estima, mas ao mesmo tempo procuram construir uma rede de empatia e apoio para que mulheres consigam se inspirar e encontrar força em momentos de vulnerabilidade.

Outra caraterística da autora que têm muita influência em várias poetas contemporâneas é a construção do último verso do poema escrito em itálico e com um travessão. 

Na primeira parte do livro, chamado Mente, Rupi expressa com crueza os sentimentos de experiências traumáticas de abuso infantil e como isso leva à depressão, ansiedade e a sensação de deconexão com seu corpo. 

Por ter virado um fênomeno literário e ter inspirado muitas pessoas a escrevem sobre essas temas e até com o mesmo estilo, eu confesso que achei previsível toda a temática de Meu Corpo Minha Casa assim como a estética da autora. 


Por exemplo, o poema:



Você põe tudo a perder

quando não ama primeiro você

- e ganha tudo quando se ama



Me dá a sensação de já ter visto essa mesma frase muitas vezes. 

Não desvalorizo a pertinência de ainda trazermos esses temas para a poesia, acredito que sim é muito significativo encontrar uma voz que expresse dores que muitas vezes não temos coragem de falar. Mas por vezes eu achava desinteressante a maneira como isso era exposto, no entanto entendo a importância de também trazer uma escrita mais "direta" principalmente por Rupi ter aproximado tantas pessoas da poesia.

11.1.21

Não sou uma mulher fácil

Eu não sou fofa, nem carismática, nem meiga. Isso não significa que não sou educada, ou gentil. Apenas não sou um doce de pessoa, nem uma lindeza de ser humano, que tem uma vibe tão good. Minha voz não é um acalento ou um abraço, os sons que produzo não são delicados.


E durante muito tempo isso foi um tormento pra mim, não conseguir ser fofa, apesar de minha aparência ser fofa e de mesmo com quase 30 anos parecer ter 20 (alguns dizem que menos).

Eu vivo mum limbo entre não ser fofa e também não ser um mulherão. Ninguém olha para mim e diz "ah mas você é tão meiga e é tão bom ouvir sua voz meiga e calma e doce" e também ninguém fala "você é muito forte, um mulherão". O que é o meio termo entre os dois esteriótipos femininos, eu não sei, mas estou ai.

Demorou até eu aceitar que não precisava servir a nenhum dos dois esteriótipos. Demorou porque nós precisamos servir a padrões de beleza E comportamento. E quando servimos, somos elogiadas e então nossa função de viver se completa.

Se sou fofa, tenho a aprovação do mundo que vai me amar porque eu sou fofa. Se sou um mulherão, tenho a adoração do mundo que vai se inspirar por eu ser um mulherão forte.



8.1.21

A verdade por trás do seu sorriso - Paloma Weyll

Amanda é a protagonista da história, uma mulher apaixonada pela sua profissão, que nunca teve relacionamentos duradouros por ter uma rotina de trabalho muito intensa. Até conhecer Roberto, um homem que se mostrou desde o ínicio muito interessado nela.

Roberto apareceu na vida de Amanda num momento de fragilidade, oferecendo atenção e carinho. Até que a máscara de perfeição começa a demonstrar rachaduras. Aos poucos ele foi se transformando no oposto de tudo que aparentava ser no ínicio. 

Repentinamente Amanda perde o emprego e ele pede o divórcio a deixando com um filho pequeno para criar.

Essa narrativa é corriqueira na vida de muitas mulheres, diariamente homens abandonam filhos sem deixar nenhuma assistência financeira e é justamente de vivências comuns que Paloma extrai material para seu romance, adicionando elementos digno de um thriller

Na minha interpretação, Amanda vive um relacionamento abusivo que ela mesma não consegue exergar. O livro nos faz reflerir como muitas mulheres permanecerem em relações desse tipo pelo medo de ficar sozinha, por terem um filho com a pessoa, etc. 

E ai se submetem à tentativas exaustivas de tentar "ver por outro lado", de entender, de desculpar. Vemos como Amanda vai perdendo sua força, sua independência pela manipulação que Roberto cria. A sensbilidade com que a autora trata dos sentimentos conflituosos de Amanda é um dos grandes atrativos da leitura. 

O livro me surpreendeu por mostrar como muitas vezes esse tipo de abuso não é escancarado. Nem todo relacionamento abusivo contém violência física, mas é evidente a violência piscológica que Roberto causa. 

Amanda encontra apoio e se reconstrói com a força de outras duas mulheres: Maria, sua secretária doméstica e Ana, a mãe de Roberto, a qual ele sempre demonstrou desprezo. 

A relação de fortalecimento que se constrói entre as 3 mulheres é inspiradora. No entanto, senti vontade que a personagem de Maria fosse melhor desenvolvida.

Como muitas mães, Ana, a mãe de Roberto, se encontra em um conflito: ela deseja ajudar Amanda a se reeguer, mas também não se se vê abandonando seu filho.

É importante salientar que Roberto é a representação de muitos homens que abusam psicologicamente de mulheres, manipulando e perseguindo quando não obtem o que querem. E se por um lado Ana, sua mãe exerga ele como doente, esse não é o ponto de vista da autora. 

No mais, o romance de Paloma possui uma escrita que me prendeu bastante, é fluído, bonito e me fez pensar em como muitas mulheres são condicionadas a aceitarem um relacionamento abusivo a todo custo, por diversos motivos. na importância da união entre mulheres como força regeneradora. 


3.1.21

Mudanças no Instagram!

 Uma das questões que mais me aflinge como artista autonôma e agora compreendendo a produção de conteúdo como trabalho que pode ser remunerado é me impor quanto ao valor do meu serviço.


Uma obra de arte é também um serviço. Artistas, professores e produtores de conteúdo são de carne e osso e sonhos. Precisamos pagar contas, sonhamos em comprar coisas, em fazer viagens, tudo que qualquer trabalhador também precisa.

Me pergunto: qual o crime está envolvido em querer pagar suas contas com arte?
Todo mundo admira um artista que é hoje bem sucedido e vive de sua arte, e pagaria caríssimo pra um show ou ver uma palestra desse artista.

Mas quem apoia quem tá começando? E ai se um artista independente está buscando pelas redes sociais promover e vender sua arte ou cobrar por um tipo de conteúdo parece que está tirando vantagem em cima de algo.




Fico com a sensação de estar fazendo algo quase errado em organizar um clube de leitura e transformar isso em meu trabalho remunerado.

Durante 8 anos eu conciliei outros empregos com minha prática artística. Estou há 8 anos diariamente vivendo como artista, minha primeira peça foi feita do com próprio dinheiro, fizemos tudo com menos de 500 reais e o máximo que cobramos num ingresso foi 15. Nunca tivemos plateia cheia. Se eu ganhei 1000 reais em um ano com essa peça foi muito.

Quem não trabalha com arte e é artista, tira dinheiro de algum lugar. E muitas vezes em um trabalho que não gosta e que algumas vezes acaba matando sua criatividade. Em outras, não tendo tempo de se dedicar à arte porque precisa desse outro emprego para pagar as contas.

Não tem ninguém aqui querendo tirar vantagem porque cobra 40 reais num livro, ou elabora um clube de leitura pago para poder sobreviver como artista.

Somos críticos do capitalismo, isso não quer dizer querer passar fome! Acho que as pessoas confundem as coisas, só pode.

Por isso, volte e leia a frase da imagem que a Milena colocou tão genialmente na bio dela: trabalho por dinheiro, por amor eu faço carinho

Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...