Pronto, cheguei no momento da transição do hobby para o "vou assumir que gostaria de ter alguma renda com o que estou fazendo diariamente aqui". Talvez se eu fosse rica, tivesse um emprego estável e que me deixasse feliz eu continuaria fazendo tudo que já fiz - (e já foi bastante) como hobby, sem me preocupar em ser reconhecida ou chegar em mais pessoas.
Em 1 ano eu: lançei 15 epísódios no podcast; 22 cartinhas na newsletter, 27 vídeos no Youtube, há 3 anos tenho postado TODOS os dias no Instagram resenhas de livros, dicas e reflexões - e veja bem, eu não estou cobrando nada de ninguém, porque sim, a vontade de fazer tudo isso inicialmente é porque gosto. Eu to me doando de graça e a gente tá trocando e tem sido maravilhoso assim.
Muitas vezes eu já quis parar com tudo isso e me focar em fazer outra coisa da vida, e talvez eu vá se eu for tendo certeza mesmo que tudo isso não vai poder me dar nenhum retorno financeiro, pois não vai ter como conciliar com algum emprego que pague minhas contas e que eu possa me alimentar.
Não sei se não ficou claro, mas eu não sou herdeira. Por enquanto eu tenho um conforto básico de morar com minha mãe, não pago aluguel, nem luz, nem água (pago internet e algumas coisas de alimentação), mas sou gente, tenho desejos, e preciso pensar em algum dia ter independência financeira.
Sempre estou falando de consumismo aqui, sobre não ter o luxo de comprar tudo que é tão bombardeado no Instagram: viagens, ipads, tablets, cadernos caros e todos os lançamentos mais chics das editoras, porque essa é a minha realidade.
Tudo que compro é hiperpensado, porque eu sei que faltaria na hora de pegar um ônibus ou almoçar. Pela primeira vez na vida, esse ano, eu ganhei um dinheiro relevante com minha arte, quando passei em dois editais diferentes com obras diferentes.
Mas sabe? Eu nem consegui comemorar de verdade, porque tudo que eu pensei era que eu tinha que guardar esse dinheiro como se fosse o maior tesouro do mundo, pois eu não sei o dia de amanhã.
Tava conversando com uma amiga que pro pobre é esse o pensamento, a gente não consegue ficar feliz com as conquistas porque o maior medo é passar fome e eu já tive na minha infância dias que a maior alegria era quando tinha leite pra semana.
Quando eu tive meu primeiro emprego metade do meu cartão de crédio era com comida, porque eu podia pela primeira vez comer o que eu quisesse. Até hoje eu penso "quando tiver dinheiro vou comprar essa geléia de frutas vermelhas", porque conto nos dedos as vezes que comprei algo assim.
Teve um ano da faculdade que eu marcava o dia que caia a bolsa pra comprar um açai achando que é um jantar de 200 reais e ficava feliz por 2 min pensando que não poderia comprar de novo até mês que vem.
Eu marco na agenda os dias de lazer, porque lazer custa dinheiro, apesar de eu sempre tentar inventar modos de ter lazer com pouco: um passeio de bicicleta (comprada de segunda mão e que me dá dor nas costas porque não tenho dinheiro pra ajeitar), uma ida na praia.
E sim, eu sei que tem gente que passa muito mais necessidade que eu, obviamente não to achando que você teria a capacidade de pensar que eu to dizendo que sou a pessoa mais pobre do mundo, porque eu não sou.
Mas eu sou uma pessoa, com desejos, sonhos, contas e sem remuneração que tá fazendo um monte de coisa, que hoje, na necessidade que me vejo, parece ser nada, porque não esta sendo reconhecido o suficiente para que eu possa imaginar um dia ter renda para sustentar essa pessoa que ta aqui escrevendo pra vocês.
E estou nesse momento, em que eu penso em pedir ajuda para você, que talvez eu não conheça muito bem, que também não sei pelo o que passa e que talvez não possa me ajudar porque também passa pelo mesmo que eu.
E tem tanta gente pedindo ajuda todo dia. Existem mais de 200 milhões de canais no youtube, milhares de perfis no instagram, nas redes sociais todas. Muita gente que tá fazendo o mesmo que eu, há mais tempo até (outros não, tão há 2 anos, já são privilegiados o suficiente e ainda ganham toda atenção do mundo rsrs). Muita gente também dependendo do financiamento de vocês e eu fiquei pensando, então como eu iria conseguir? "ah, ache seu diferencial". Meu diferencial é que eu sou extremamente comum, é isso.
Não sou maravilhosa, extraordinária, incrível, fada sensata, perfeita. Não faço nada inédito, e nem tenho o ego inflado de achar que faço, também porque não acredito mais em originalidade. Eu acredito em PESSOAS e pessoas são únicas. Eu sou única, mas não sou a mulher maravilha. Nâo tenho um super poder. Eu choro (escrevendo isso), eu tenho raiva, eu sou de carne e osso e sentimentos.
Não sou extraordinária, aqui é a história de mais uma cearense, que sabe que tá em um dos lugares com menos incentivo à cultura no Brasil, que pensa em ir pra SP, "pra tentar a vida", como meus antepassados faziam há décadas porque nada mudou. Quantos nordestinos você acompanha no youtube/podcast? Quantos CEARENSES?
Eu não vim de uma família leitora, minha vó teve 19 filhos (eu não sei se você consegue entender o que é isso), era anafalbeta e nenhuma das minhas tias terminou o ensino médio (minha mãe foi a única), meu pai não terminou o fundamental e sei que eu, duas gerações depois da minha vó, estar na internet falando de livros e estudos, morando na periferia da cidade (de uma cidade que já periferia cultural do país) é algo incrível. Eu fui a única pessoa da família a se forma numa Universidade Pública. A única.
Mas hoje minha cabeça só tava latejando pensando, como eu vou ganhar dinheiro depois da faculdade? Eu estou lutando tanto para permanecer firme acreditando que a arte e a educação são minha bandeira, mas e se eu não tiver forças pra segurar e precisar desistir de tudo? Eu não sei.
Esse texto não é nem um pedido oficial de financiamento do meu trabalho na internet, mas só um desabafo, daqueles que vocês já conhecem. Porque não vou dizer que não é triste ver as poucas visualizões no canal, ver que tenho que chegar a 1000 inscritos para faturar com uma empresa bilionária (Youtube), enquanto eu vou contar as moedas que recebo.
Eu juro que não queria reclamar disso, nem me importar tanto com isso. Porque lá no fundo eu acredito que meu valor é maior do que números, lá no fundo eu sei que o pouco reconhecimento que tenho e nunca ter ganho financeiramente NADA (nem livro de editora, que é só um osso pra cachorro) eu já ganhei, mas sei que não tem diretamente a ver comigo ou com meu valor como pessoa.
As redes sociais são também um negócio, um ramo, com estratégias, já está escancarado. Também não estou desmerecenco o trabalho de pessoas que conseguiram crescer seus números, dizendo que "são só números e não tem valor". Números carregam valor, mas a falta deles não diz respeito a falta de valor do conteúdo. (apenas falta de valor financeiro).
Se você tem um canal com bons números, eu não estou desmerecendo que isso foi conquistado com um ótimo e árduo trabalho.
Pessoas bem sucediades não são ruins, não quer dizer que você fez algo errado pra ser bem sucedido. To frizando isso por já ter ofendido, sem intenção, alguém porque afirmar que essa pessoa tinha bons números, como se isso foi um crime e eu tivesse dizendo que bons números são uma farsa.
Não sei qual o sentido dessa associação. Mas é como se sentir ofendido por ser rico... rs. Você não é ruim por ter bons números, você tem, você trabalhou por isso, você faz um bom conteúdo, ambos têm valor.
Assim como pessoas pobres e sem reconhecimento não são sempre maravilhosas e injustiçadas. Não é isso.
Mas aqui eu estou falando do lugar de alguém que tá produzindo conteúdo na internet há bastante tempo e sendo sincera de não ter descoberto a chave de fazer isso me render algo financeiramente.
E eu to falando isso porque... estou precisando de dinheiro e comecei a pensar que já que passo tanto tempo com esse hobby, essa poderia ser também uma fonte de renda. Mas não tenho confiância que possa dar certo.
Não sou ingênua de dizer que não há sim uma série de coisas que envolve mais do que a essência de um bom conteúdo. Que eu não sei qual é o "mistério", que eu não acho que é só constância, e blabla ai que tão dizendo, mas não sei o que é.
E eu to no meio de uma decisão entre parar tudo para conseguir algum trabalho (que não sei como) ou acreditar que o que faço na internet e gosto e vocês gostam pode me gerar retorno financeiro.
Não vai ser por eu fazer um trabalho extraordinário, inédito e fenomenal que vou me destacar. Não sou um fenômeno, não vou viralizar. Não sou um vírus... eu sou uma pessoa e a complexidade de ser alguém já é gigante.
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