1.10.19

Boca



A primeira vez que vi a Kah Dantas lançando Boca de Cachorro Louco eu lembro que tive um gatilho pesado. Sai de lá sem comprar o livro e demorei um bom tempo para ter coragem de ler. Na ocasião eu comecei a chorar e achar que meu atual namorado estava mentindo pra mim e escondendo coisas do mesmo jeito que o ex e falando de mim pros amigos dele, que eu era louca. Nada disso estava acontecendo, mas é só pra mostrar que as marcas de uma relação tóxica demora às vezes anos para sarar, é preciso paciência consigo. .
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O livro de Kah conta de forma confessional as idas e vindas de um relacionamento abusivo e um pouco da transição para um novo relacionamento, como é confiar de novo em alguém depois de passar pelo inferno? Como é se permitir amar e ser amada de um jeito bom? Aliás, o amor não era para ser.. bom? .
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Depois que passei por uma relação de 11 meses e vários rolos igualmente tóxicos e ridículos, eu fui aos poucos entendendo como somos ensinadas a aceitar que o sofrimento é amor de verdade. Pra merda com isso! Você não precisa de uma paixão louca e sexual que ao mesmo tempo te machuca e te faz sofrer para chamar isso de amor de verdade. .
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"Boca de cachorro louco" é escrito em capítulos curtos, como se cada um fosse um episódio de uma relação que como a maioria desse tipo começa de um jeito que faz você confundir intensidade com sofrimento. Mas não é uma biografia, e sim, biográfico, uma auto-ficção. Kah mistura relatos com acontecimentos que envolvem outros personagens, relembra também momentos felizes que teve e o erotismo pungente que viveu nesta relação, não tem amarras ao dizer o quanto era envolvida sexualmente com o homem que lhe levou ao céu e puxou para o inferno.
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Percebo na minha própria trajetória que esse cunho sexual forte de relacionamentos tóxicos foi muito presente: resolvemos tudo na cama. É assim que as músicas falam. Mas será?
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E que a lição seja clara: O amor pra ser intenso não precisa te bater, te fazer chorar todos os dias, te deixar louca. Nenhuma dessas 3 opções.

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