3.9.18

[Fichamento] O segundo sexo Vol 1. - 2/O Ponto de vista Psicanalítico



Esse foi o capítulo mais difícil de chegar perto do que Simone quis dizer. Li duas vezes e na segunda recorri a algumas leituras complementares. A primeira é uma resenha de  Celeste Chaves Barra, Denise Raissa Lobato Chaves e Raissa Cruz dos Santos.

Para este capítulo, Simone faz uma análise do pensamento inicialmente do sexólogo Marañon ao reduzir o orgasmo feminino como sendo uma característica viril e afirma que a mulher está no meio do caminho para o impulso sexual, e este possui uma "direção única". Em seguida ao comentar as contribuições de Freud e Adler, Simone chega a conclusão da falta de estudos aprofundados sobre a sexualidade da mulher. Mesmo quando o há, existem em comparação de inferioridade ao homem. Novamente questionando a ideia da mulher ser o Outro, a premissa inicial do livro. Após as leituras extras, compreendi que neste capítulo Simone crítica que o falo dê uma superioridade ao homem pelo argumento biológico puramente, mas sim 

"retoma a construção do falo e afirma que a superioridade e autoridade masculina, no viés psicanalítico, não é conferido ao falo em si, mas ao construto simbólico em volta daquele que o possui: o homem. Sendo assim, a autora argumenta que há toda uma construção simbólica acerca do homem e seu falo, para além de um olhar apenas sexual:" (fonte)

Citando Simone

se corpo e sexualidade s„o expressões concretas da existência, é também a partir desta que se pode descobrir-lhes as significações: sem essa perspectiva, a psicanálise toma, por verdadeiros, fatos inexplicados. Dizem-nos, por exemplo, que a menina tem vergonha de urinar de cócoras com as nádegas ‡ mostra: mas que é a vergonha? Assim também, antes de indagar se o macho se orgulha de ter um pênis ou se seu orgulho se exprime pelo pênis, cumpre saber o que é o orgulho e como a pretensão do sujeito pode encarnar-se em bum objeto. N„o se deve encarar a sexualidade como um dado irredutível; h·, no existente, uma "procura do ser" mais original; a sexualidade é apenas um de seus aspectos.

Todo simbolismo é construído por um contexto social, Simone crítica que a psicanálise ignore isso sem admiti-lo na sua construção teórica:

O simbolismo não caiu do céu nem jorrou das profundezas subterrâneas: foi elaborado, como uma linguagem, pela realidade humana que é mitsein ao mesmo tempo que separação, e isso explica que a invenção singular nele tenha seu lugar. Praticamente o método psicanalítico é forçado a admiti-lo, autorize-o ou não a doutrina (pg 76)
só no seio da situação apreendida em sua totalidade que o privilégio anatômico cria um verdadeiro privilégio humano. A psicanálise só conseguiria encontrar sua verdade no contexto histórico. (pg. 78)

Mas uma vida é uma relação com o mundo; é escolhendo-se através do mundo que o indivíduo se define; é para o mundo que nos devemos voltar a fim de responder às questões que nos preocupam. Em particular, a psicanálise malogra em explicar por que a mulher é o Outro, pois o próprio Freud admite. (pg. 78)

O que Simone questiona neste capítulo, é que assim como os dados biológicos, no capítulo anterior, a psicanálise também falha é explicar porque se constituiu na sociedade que a mulher seja O Outro. Além disso aponta para a "pobreza das descrições relativas à libido feminina"

O esquema descritivo propõe-se como uma lei, e seguramente uma psicologia mecanicista n„o poderia aceitar a não de invenção moral: pode, quando muito, explicar o menos, nunca o mais. A rigor, admite malogros, nunca criações. Se um sujeito n„o reproduz em sua totalidade a evolução considerada normal, diremos que a evolução se deteve no caminho, interpretar-se-· essa parada como uma falha, uma negação, nunca como uma decis„o positiva (pg. 79)

Assim, os psicanalistas acreditam que

Quando uma menina sobe a uma ·árvore é, a seu ver, para igualar-se aos meninos: n„o imagina que subir numa ·árvore lhe agrade; [...]Pode-se observar certo paralelismo entre nossas descrições e as dos psicanalistas. … porque do ponto de vista dos homens ó e é o que adotam os psicanalistas de ambos os sexos ó consideram-se femininas as condutas de alienação, e viris aquelas em que o sujeito afirma sua transcendência. Um historiador da mulher, Donaldson, observava que as definições: "O homem é um ser humano macho, a mulher È um ser humano fêmeo", foram assimetricamente mutiladas; é particularmente entre os psicanalistas que o homem é definido como ser humano e a mulher como fêmea: todas as vezes que ela se conduz como ser humano, afirma-se que ela imita o macho.




E é por meio dessas análises, Simone propõe uma estudo sobre a mulher em sua situação total


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