24.4.17

o Rei da Vela, Oswald de Andrade, 1933 [Abril/2017/leitura9]


Leitura 9 do Ano, faz parte do meu projeto de ler mais livros nacionais, e não podia deixar Oswald de fora. Resolvi ler uma peça (coisa que pouco vejo por ai nos projetos). Meu professor de história do teatro (pra quem não sabe, curso Licenciatura em Teatro) diz que se você quiser saber como é a sociedade de uma época, leia ou veja uma peça de teatro da época e assim é o Rei da Vela, texto fundamental que retrata com muita acidez os anos 30 e se faz bastante atual. E já que estamos vivendo dessa retorma horrenda de uma onda conservadora, vejo o quanto ainda se faz importante um texto como o Rei da Vela. A peça foi tão revolucionária que só foi encenada 30 anos depois, pelo Teatro Oficina 

Encontrei esse resumo histórico no Passei Web:


"Escrito a partir de 1933, depois da crise mundial de 1929, da Revolução de 30 e da Revolução Constitucionalista de 32, o texto manifesta a imensa amargura de Oswald, forçado a percorrer infindáveis escritórios de agiotagem para equilibrar-se financeiramente. Esse seu contato forçado com agiotas foi, provavelmente, a causa da caracterização de um agiota como Rei da Vela. Mas o texto supera a experiência pessoal de Oswald: ele fornece, sem falsas sutilezas, os mecanismos da engrenagem em que se baseia o esquema sócio-econômico do país."

Personagens: 


O enredo da peça traz a história de, Abelardo I, o Rei da Vela, um agiota sem escrúpulos nenhum. Aberlado I é um empresário diversificado, mas sua especialidade são empréstimos. Sua função se resume em emprestar dinheiro e cobrar juros exorbitantes, aproveitando-se da crise econômica que assola o país,  levando muitos devedores a falência e ao desespero. Abelardo pisa em quem pode. 

No decorrer da história sabemos que na verdade o capital estrangeiro é o grande comandante desse jogo, (e como ainda é) no qual brasileiro é apenas marionete. O imoerialismo estrangeiro é representado por Mr. Jones, um americano que fica à espreita só aguardando quem vai lhe servir e quem não serve mais.

Temos também Abelardo II, empregado de Abelardo I, que deseja superá-lo. 

Heloísa de Lesbos, é noiva de Abelardo I. Heloísa representa a ruína da classe fazendeira. Seu pai, coronel latifundiário, vai a falência, num retrato em que predomina a perversão e o vício, símbolo de uma classe em decadência. A aliança de Abelardo e Heloísa pode, assim, representar a fusão de duas classes sociais corruptas pelo sistema capitalista.
D. Cesarina, sua mãe, recebe constantemente investidas amorosas de Abelardo I. Totó Fruta-do-Conde, o irmão gay, aparece na peça primeiramente por conta de ter roubado o amante da irmã, Joana, apelidado João dos Divãs. O coronel Belarmino, pai de Heloísa e "chefe da família", vê um mundo em decadência, o mundo da aristocracia rural. Perdigoto, outro irmão de Heloísa, bêbado e viciado em jogos, é um fascista que planeja organizar uma "milícia patriótica" para conter os colonos descontentes - idéia que interessa a Abelardo I, desde que ela possa ser utilizada para a manutenção da ordem social de que depende sua riqueza.

Por meio dessa "família", Oswald como toda sua ironia derruba as máscaras da aparência e dos "bons costumes" puritanos que se esconde a classe aristocrata.

Pinote é um intelectual, através desse personagem, Oswald mostra a relação dos artistas com o poder: ou o artista se mantém firme com seu compromisso social ou, como Pinote, decide servir à burguesiaNão existe neutralidade. Quando Pinote sai de cena,  Abelardo I e Heloísa voltam a um diálogo que mostra como as classes abastadas vivem da exploração dos trabalhadores.

Narrativa:

A peça não se preocupa em criar nada do que oferece a cartilha aristotélica, ou seja, não tem exatamente um conflito, ou climax, nem acirramento de tensões. que ocorre é uma sequência de situações que mostram puramente a farsa desmascarada do Brasil em progresso que se sustenta nos trabalhadores gritando nas jaulas. que ocorre é uma sequência de situações que mostram puramenteÉ o "desbunde" da família tradicional brasileira eternamente em declínio, mas sempre tem sua queda amortecida pelas aparências.
No texto, com grande poder de síntese, Oswald usa elementos que só seriam descobertos muito depois pela dramaturgia brasileira. Um deles é o rompimento com a ilusão teatral (sem ter lido Brecht). Assim, logo após a saída do cliente, Abelardo I afirma: "esta cena basta para nos identificar perante o público". Desse modo, a peça recusa-se a cair o ilusionismo teatral." (passeiweb)






Um comentário:

  1. Jamais ia imaginar que passeiweb teria resumos tao bons. É incrível como a escrita do Oswald é tão atual, lendo os trechos tenho quase certeza que o livro foi lançado agora e que ele tem um fora temer embutido kkkk excelente blog!

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