16.1.17

Fichamento livro: Pina Bausch [Janeiro/2017/leitura 2]





No processo de Bausch, a repetição é usada para desarranjar as construções gestuais da técnica ou da própria sociedade. A repetição torna-se um instrumento criativo através do qual os dançarinos reconstroem, desestabilizam e transformam suas próprias histórias enquanto corpos estéticos e sociais. pg. 46

Para induzir a participação dos dançarinos, a coreógrafa apresenta-lhes uma questão, um tema uma palavra, um som, uma frase: "luto", "Ah..". Em resposta a tais estímulos, os dançarinos improvisam em qualquer meio desejado: movimento, palavras, sons, uma combinação de elementos.  pg 48

"Não é preciso contar o motivo, apenas como."



"Durante o tempo em que a peça está no palco, os primeiros dias, primeiras semanas... ela ainda continua mudando.". Não há necessariamente uma separação entre processo criativo e produto final - as peças estão em constante processo. pg. 52

Movimentos técnicos de dança são mais facilmente vistos como abstratos, enquanto reações e gestos cotidianos são aceitos como naturais, momentâneos, reflexos direto do estado emocional de seu executor. Mas Bausch traz ao palco exatamente o que nos parece mais espontâneo, e o revela como re-presentativo na vida e no teatro. pg 58




As peças de Bausch têm três ou quatro horas de duração, com inúmeras repetições. Sua dança-teatro não re-presenta uma forma concentrada ou simbólica do tempo cotidiano, mas acontece nesse tempo "real" e ainda o dilata, justamente com as percepções do público. Este tem tempo para absorver o material apresentado, para resistir. se deixar levar, ou mesmo para ficar cansado. De qualquer maneira, a longa duração dos trabalhos e suas repetições levam os espectadores a seus limites, provocando experiências.  pg 64



Em Kontakthof, os dançarinos abalam o modelo de perfeição física, e a ilusão de unidade grupal e completude. Assim que termina a música, param na frente do palco, mantendo seus olhares e expressões faciais neutros. Anne Marie Benati começa gradualmente a virar sua cabeça para um lado e para o outro adicionando uma repetitiva risada ao gesto, que parece um compulsivo "não" à ordenada sequência grupal.
Aos poucos, o movimentos de sua cabeça torna-se maior e mais energético, e a risada mais alta e forte. Em oposição ao grupo, Benati torna-se cada vez mais despenteada, barulhenta e solta em seu movimento. [...]. Ao atingir seu máximo volume de voz e velocidade de movimento, ela flexiona um pouco sua perna direita e cai com o corpo rígido e tenso no chão.  pg 69

A repetição nos trabalhos de Buasch rompe com convenções de "estados interiores de consciência" independentes e isolados e sugere os sentimentos individuais como determinados pela linguagem e relações de poder. pg 72



A repetição abre novas formas de perceber a vida humana no palco e no cotidiano. pg 75

O que eu faço - assisto, (...) Talvez seja isso. A única coisa que eu fiz todo o tempo foi assistir as pessoas. Eu tenho apenas visto relações humanas ou tentando vê-las e falar sobre elas. É nisso que eu estou interessada. Não conheço nada mais importante. (Pina Bausch - Raimund Hoghe)




Ensaios de Dança: em muitas cenas dos trabalhos de Bausch, repetição revela o processo de ensaio de dança. Frequentemente, um dançarino repete várias vezes uma específica sequência de movimentos, como se tentasse memorizá-la. 

Treinamento de Dança: Em Bandoneon (1980), o dançarino Dominique Mercy tenta repetidas vezes realizar um passo de balé e sem sucesso cai no chão várias vezes. (...) pela repetição a falha tornou-se parte da sequência tanto quanto a tentativa. É como se ele tivesse (...) contando uma estória sobre poder falhar tanto quanto poder acertar: ambas opções de dança. [...] ele repete porque errou, para tentar fazer melhor da próxima vez, mas erra mais e mais. A cena questiona e inverte a noção de que repetição é um bem sucedido método de aprendizagem. pg 81

[...] Em Kontakthof, Monika Sagon tenta, sem sucesso, fazer a sequência. Após fazê-la uma vez, seu movimento torna-se desajeitado, ela olha para trás para checar o que o outro dançarino está fazendo, e sai do ritmo. pg 84

[...] Pina Baush usa a repetição para expor sua natureza controladora e o reprimido corpo em sofrimento sob seu domínio. 


"O cenário (de Café Müller) reflete dança como ausência, e como a própria impossibilidade da dança.. Ao invés de apresentar um palco com dançarinos se movendo ou começando a se mover, a peça apresenta um palco cheio de ausência de corpos - mesas e cadeiras vazias, num espaço silencioso e pouco iluminado. É como se eventos já tivessem acontecido"


Café Muller


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