29.6.14

Lady Lazarus

These are my hands
My knees
I may be skin and bone,
(sylvia plath)




The nose, the eye pits, the full set of teeth?
The sour breath
Will vanish in a day.


O poema inteiro traduzido (retirado do site)

Eu o fiz de novo
Um ano em cada dez
Eu agüento

Um tipo de milagre ambulante, minha pele
Brilhante tal qual um abajur nazista
Meu pé direito

Um peso de papel,
Minha face, como um pano inexpressivo, delicado
Em linho judeu.

Tire o lenço
Ó, meu inimigo
Eu te assusto?

O nariz, o orifício ocular, a dentição plena?
O hálito azedo
Se esvairá em um dia.

Logo, logo a carne
Que a gruta do túmulo comeu se sentirá
Em casa sobre mim

E eu, uma mulher sorridente.
Eu, com apenas trinta anos.
E como o gato tenho nove vezes para morrer

Esta é o número três.
Que lixo
Aniquilar a cada década.

Que milhões de filamentos.
A multidão vulgar
Se acotovela para ver

Eles me desembrulharem mão e pé.
O grande strip tease.
Senhores, senhoras

Eis as minhas mãos
Eis os meus joelhos.
Posso ser pele e osso

Contudo, sou a mesma, idêntica mulher.
Na primeira vez que aconteceu eu tinha dez anos.
Foi um acidente.

Na segunda vez eu pretendi
Agüentar e nem sequer voltar.
Eu fechei em pedra

Como uma concha do mar.
Eles tiveram que chamar e chamar
E arrancar de mim os vermes, pérolas grudentas.

Morrer
É uma arte como todo o resto.
Eu o faço excepcionalmente bem.

Eu o faço para saber o inferno.
Eu o faço para saber a real.
Eu suponho que se possa dizer que eu tenho um chamado.

É fácil fazê-lo em uma cela.
É fácil fazê-lo e permanecer estático.
É o teátrico

Retorno, em plena luz do dia
Ao mesmo lugar, ao mesmo rosto, aos mesmos brutos
Entretidos gritando

“um milagre!”
Isso me estarrece.
Há um custo

Para ver as minhas cicatrizes, há um custo
Para sentir o meu coração
Ele realmente pulsa.

E há um custo, um grande custo
Por uma palavra, ou um toque
Ou um pouco de sangue

Ou um pedaço do meu cabelo ou um pedaço da minha roupa.
Então, então, Herr Doktor.
Então, Herr Inimigo.

Eu sou sua composição
Eu sou seu pertence
O bebê de ouro puro

Que derrete a um grito estridente.
Eu me viro e ardo.
Não pense que eu subestimo sua grande preocupação.

Cinzas, cinzas
Você cutuca e revolve.
Carne, osso, não há nada lá.

Um sabonete,
Uma aliança,
Um dente de ouro.

Herr Deus, Herr Lúcifer
Cuidado
Cuidado.

De dentro das cinzas
Eu desponto, meu cabelo em fogo
E devoro homens como ar.


23.6.14

Virginia Woolf - The Waves

O livro The Waves é o mais experimental de Virginia Woolf, seis personagens contam suas histórias desde a infância até a velhice em fluxos de pensamentos. As vidas de todas se entralaçam e se separam com o decorrer do tempo. O amor, a paixão, a solidão, o existencialismo, a morte, todos os temas já conhecidos de Woolf chegam ao leitor numa delicadeza sublime e avassaladora, vindos do âmago da alma humana, de pensamentos que as personagens não ousam confessar a ninguém, a não ser a si mesmos. E por isso, nós nos vemos assim, desnudos, descobertos em cada um dos seis.

Estou expondo trechos do que li até agora, e algumas partes traduzidas por mim, e outras retiradas do site (livro & café).





The wave paused, and then drew out again, sighing like a sleeper whose breath comes and goes unconsciously.

A onda pausou, e então foi-se novamente, suspirando como um adormecido que o respirar vem e vai inconscientemente.


Foto minha: Praia de Iracema



[...]



Now I will wrap my agony inside my pocket-handkerchief. It shall be screwed tight into a ball [...] I will take my anguish and lay it upon the roots under the beech trees. I will examine it and take it between my fingers. They will not find me. I shall eeat nuts and peer for eggs through the brambles and my hair will be matted and I shall sleep under hedges and drink water from ditches and die there (Susan)



Agora vou embrulhar minha angústia dentro do meu lenço. Vou amassá-la numa bola apertada.[..] Vou levar minha angústia de depositá-la nas raízes sob as faias. Vou examiná-la, pegá-la entre meus dedos. Não me encontrarão. Comerei nozes e procurarei ovos entre as sarças, meu cabelo ficará emaranhado e vou dormir sob as sebes, bebendo água das poças, e morrerei lá. (Livro & Café)

[...]



I need someone whose mind falls like a chopper on a block; to whom the pitch of absurdity is sublime, and a shoestring adorable. To whom can I expose the urgency of my own passion? (Neville)
Eu preciso de alguém que a mente encaixe como um martelo em um bloco, a quem seja sublime o nível de absurdo, e um par de caroços adorável. A quem eu posso expôr a urgência da minha própria paixão?


[...]



I do not want people, when I come in, to look up with admiration. I want to give, to be given, and solitude in which to unfold my possessions (Susan)

[...]


To whom shall I give all that now flows through me, from my warn, my porous body? I will gather my flowers and presente them - Oh! To whom? (Rhoda)
A quem  eu irei dar tudo que agora flui através de mim, do meu advetir, meu corpo poroso? Eu vou reunir as flores e presenteá-los - Oh! A quem?

[...]



He will forget me. He will leave my letters lying about among guns and dogs unanswered. I shall send him poems and he will perhaps reply with a picture postcard. But it is for that that I love him. I shall propose him meeting - under a clock, by some Cross; and shall wait, and he will not come. It is for that that I love him. Oblivious, almost entirely ignorant, he will pass from my life. And I shall pass, incredible as it seems, into other lives; this is only as escapade perhaps, a prelude only. [...] I will shade my eyes with a book, to hide one tear. (Neville)

Ele me esquecerá. Deixará sem resposta minhas cartas [...]. Eu lhe mandarei poemas, talvez ele responda com um cartão-postal. Mas é por isso que o amo. Proporei um encontro – debaixo de um relógio, ou numa encruzilhada; esperarei, e ele não virá. É por isso que o amo. Ele se afastará da minha vida, esquecido, quase inteiramente ignorante do que foi para mim. E, por incrível que pareça, entrarei em outras vidas; talvez não seja mais que uma escapada, um simples prelúdio. [...] Eu vou cobrir meus olhos com um livro, para esconder uma lágrima. (Livro & Café)

[...]

I do not know myself sometimes, or how to measure and name and count out the grains that make me what I am. (Bernard)
Por vezes, eu não me conheço, ou não sei como medir e nomear econtar os grãos que me fazem o que eu sou
[...]

I am Bernard; I am Byron; I am this, that and the other. they darken the air and enrich me, as of old, with their antics, their comments, and cloud the fine simplicity of my moment of emotion. For I am more selves than Neville thinks. We are not simple as our friends would have us to meet their needs. Yet love is simple.

Eu sou Bernard; Eu sou Byron; Eu sou esse, e aquele outro, eles escurecem o ar e me enriquecem, como se velho, com suas palhaçadas, seus comentários, e nublam a fina simplicidade do meu momento de emoção. Pois eu sou mais "eus" do que Neville pensa. Nós não somos simples como nossos amigos querem nos ter para atender suas necessidade. Ainda assim, o amor é simples

[...]






19.6.14

Aceito

Eu digo, que se soubesse, ainda assim
o cordão, partido
do chão, iria pro ar
o amor exige 
e sempre pra mim será
o melhor que existe

Asas do Desejo

Eu poderia citar meus gostos musicais, cinematográficos, literários, mas há um tempo, ou talvez somente por hora eu penso que isso não falaria o que realmente é preciso dizer. Nisso, já começo: na inconstância, incerteza. Ontem, eu pensava isso, amanhã já não sei. Penso que faz um tempo, ou nem lembro. In, In. Insides, Inside. Inativa.
Me considero morta e covarde, tudo explode em pensamentos, mas não em ações. Já dei grandes saltos, mas não grandes o bastante para atravessar todo o caminho que desejo
Desejo. Em torno dessa palavra habita cada partícula de mim. 
Eu desejo ser poeta, não sou. E até hoje não sei: quando se considera alguém poeta? Já posso? Quem que diz se posso? That's the question. Gosto de Shakespeare, ele é único, como muitos únicos por aí, mas ainda é. Eu disse que não falaria de gostos pessoais, mas mudei. 
Eu desejo ser dramaturga, mas como se nunca escrevi uma peça sequer nem pra colocar na gaveta? Não sei, mas gostaria. 
Eu desejo ser atriz, é meu maior desejo, juntamente com ser poeta, não consigo decidir qual é maior. Me fizeram esse questionamento, pensavam que eu queria ser mais poeta que atriz e eu perguntei: por que preciso ser um ou outro? Isso me irrita. Eu sou tão múltipla (isso parece pedante demais, odeio pedantismo), não quero, nem me vejo em apenas um sentido estático na vida. 
Eu desejo. 
Desejo ser mais. 
Seria mais fácil querer ser um pouquinho só, isso basta, ou aquilo. 
Mas eu abomino o "ou" da minha vida. 
Exceto quando se trata de amor. Me descobri extremamente monogâmica, me descobri. Um dia pensei ser poligâmica, mas me enganei. Eu amo demais para o meu próprio bem e não sei amar de pouquinho, não sei ser nada de pouquinho.
Apesar de que muitas vezes me acho extrema demais ou vazia demais. Contradições.
Apaixonada, não quero de forma alguma conceber minha existência sem paixão. É preciso haver paixão, daquelas que seu corpo fica quente, seus mamilos eretos, excitação, de dentro pra fora, de fora pra dentro: ao trepar, ao dormir, ao acordar, ao comer alguma coisa, ao andar, ao ler, ao falar com alguém, etc. 
O maior inferno da nossa vida é o quanto de coisas que somos obrigados a aceitar, fazer, o quanto que muitas vezes vivemos sem paixão por viver, em cada mínimo detalhe. Eu me sinto a última criatura utópica pensando assim, e nisso tudo deita minha infelicidade constante. Eu me recuso a viver feliz fora dessa utopia. E a realidade não condiz com isso o tempo todo que estamos conscientes da vida. Vivo um pequeno inferno todo dia.
Eu preciso de muita coragem que não sei de onde vou tirar um dia, essa coragem está presa, sufocando aos poucos e eu choro de desespero quase todo dia com medo que ela suma de vez, e eu sufoque e viva essa vida toda que eu repudio. Eu choro muito, não consigo parar, já pensei em procurar um tratamento. Eu sempre choro. E não tenho vergonha disso.
Eu não me importo se pareço "mal agradecida" (a quem?) pela vida que tenho, tudo que tenho eu fui atrás pra conseguir e de certa forma era tudo que eu queria. Acontece que sempre vem o mais. Eu tive que trabalhar, sou professora e gosto da minha profissão. Acontece que chegou o "mas" e o "ou" e o "decida" e o "você não pode ter as duas vidas nem muito menos mais".
E me encontro e me perco e tento manter a calma e sanidade e esperar, planejar, um modo de viver como eu preciso viver. 
Se não vou pra sempre sobreviver, me frustar, envelhecer minha alma da maneira mais cruel possível: consciente.
Então eu novamente desejo: ser atriz, professora, tratudora, escritora, letrista, dançarina, artista, mulher. Múltilpa como Pessoa pode ser. Como uma pessoa DEVE ser. Diversamente uma.

18.6.14

Jorge Luis Borges - O Jardim

In: Primeira Poesia

Valetas,
serras ásperas,
dunas,
sitiadas por arfantes singranduras
e pelas léguas de tempestades e areia
que se aglomeram no fundo do deserto.
Em um declive está o jardim.
Cada arvorezinha é uma selva de folhas
Emvão fazem-lhe o cerrco
os estéreis cerros silenciosos
que apressam a noite com sua sombra
e o triste mar de inúteis verdores.
Todo o jardim é uma luz amena
que ilumina a tarde.
O jardinzinho é como um dia de festa
na pobreza da terra

Jazidas de Chubut, 1922



1.6.14

Albert Camus - O Mito de Sísifo

Começar a pensar é começar a ser atormentado. (pag. 20)

Cenários desabam é coisa que acontece. Acordar, bonde, quatro horas no escritório ou na fábrica, almoço, bonde, quatro horas de trabalho, jantar, sono e segunda terça quarta quinta sexta e sábado no mesmo rítimo. Um percurso que transcorre sem problemas a maior parte do tempo. Até que um belo dia, surge um "por quê" e tudo começa a entrar numa lassidão tingida de assombro. (pag. 27)


Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...