19.6.14

Asas do Desejo

Eu poderia citar meus gostos musicais, cinematográficos, literários, mas há um tempo, ou talvez somente por hora eu penso que isso não falaria o que realmente é preciso dizer. Nisso, já começo: na inconstância, incerteza. Ontem, eu pensava isso, amanhã já não sei. Penso que faz um tempo, ou nem lembro. In, In. Insides, Inside. Inativa.
Me considero morta e covarde, tudo explode em pensamentos, mas não em ações. Já dei grandes saltos, mas não grandes o bastante para atravessar todo o caminho que desejo
Desejo. Em torno dessa palavra habita cada partícula de mim. 
Eu desejo ser poeta, não sou. E até hoje não sei: quando se considera alguém poeta? Já posso? Quem que diz se posso? That's the question. Gosto de Shakespeare, ele é único, como muitos únicos por aí, mas ainda é. Eu disse que não falaria de gostos pessoais, mas mudei. 
Eu desejo ser dramaturga, mas como se nunca escrevi uma peça sequer nem pra colocar na gaveta? Não sei, mas gostaria. 
Eu desejo ser atriz, é meu maior desejo, juntamente com ser poeta, não consigo decidir qual é maior. Me fizeram esse questionamento, pensavam que eu queria ser mais poeta que atriz e eu perguntei: por que preciso ser um ou outro? Isso me irrita. Eu sou tão múltipla (isso parece pedante demais, odeio pedantismo), não quero, nem me vejo em apenas um sentido estático na vida. 
Eu desejo. 
Desejo ser mais. 
Seria mais fácil querer ser um pouquinho só, isso basta, ou aquilo. 
Mas eu abomino o "ou" da minha vida. 
Exceto quando se trata de amor. Me descobri extremamente monogâmica, me descobri. Um dia pensei ser poligâmica, mas me enganei. Eu amo demais para o meu próprio bem e não sei amar de pouquinho, não sei ser nada de pouquinho.
Apesar de que muitas vezes me acho extrema demais ou vazia demais. Contradições.
Apaixonada, não quero de forma alguma conceber minha existência sem paixão. É preciso haver paixão, daquelas que seu corpo fica quente, seus mamilos eretos, excitação, de dentro pra fora, de fora pra dentro: ao trepar, ao dormir, ao acordar, ao comer alguma coisa, ao andar, ao ler, ao falar com alguém, etc. 
O maior inferno da nossa vida é o quanto de coisas que somos obrigados a aceitar, fazer, o quanto que muitas vezes vivemos sem paixão por viver, em cada mínimo detalhe. Eu me sinto a última criatura utópica pensando assim, e nisso tudo deita minha infelicidade constante. Eu me recuso a viver feliz fora dessa utopia. E a realidade não condiz com isso o tempo todo que estamos conscientes da vida. Vivo um pequeno inferno todo dia.
Eu preciso de muita coragem que não sei de onde vou tirar um dia, essa coragem está presa, sufocando aos poucos e eu choro de desespero quase todo dia com medo que ela suma de vez, e eu sufoque e viva essa vida toda que eu repudio. Eu choro muito, não consigo parar, já pensei em procurar um tratamento. Eu sempre choro. E não tenho vergonha disso.
Eu não me importo se pareço "mal agradecida" (a quem?) pela vida que tenho, tudo que tenho eu fui atrás pra conseguir e de certa forma era tudo que eu queria. Acontece que sempre vem o mais. Eu tive que trabalhar, sou professora e gosto da minha profissão. Acontece que chegou o "mas" e o "ou" e o "decida" e o "você não pode ter as duas vidas nem muito menos mais".
E me encontro e me perco e tento manter a calma e sanidade e esperar, planejar, um modo de viver como eu preciso viver. 
Se não vou pra sempre sobreviver, me frustar, envelhecer minha alma da maneira mais cruel possível: consciente.
Então eu novamente desejo: ser atriz, professora, tratudora, escritora, letrista, dançarina, artista, mulher. Múltilpa como Pessoa pode ser. Como uma pessoa DEVE ser. Diversamente uma.

Um comentário:

  1. Olha, posso dizer que estou na mesma. Quero demais, faço pouco. As tarefas rotineiras me esgotam, e é preciso recolher mais uma dose de coragem de dentro pra encarar a mais mísera possível delas. Tenho medo também, tenho medo, medo. De faltar a coragem. Ou de ter demais. A ausência e o excesso me atraem e me amedrontam. Quero dizer, se faltar a coragem que faço? Temo pela miserabilidade que pode se apossar da minha vida, de não conseguir mais fingir, de ser só pele e medo. E se a coragem ficar pra sempre? Posso me acomodar, sei não. Nunca vai ter um 'basta', e aí tenho medo de acabar por não tomar as rédeas das coisas de vez. Sei não.
    Sou professora também. E desejo ser escritora, tradutora, letrista, atriz, dançarina, artista, mulher. Diversamente uma. Múltipla. E o 'desejo' também reside em cada um dos meus poros. Só é neutralizado, algumas vezes, pelo medo. Escrevendo isso agora admito que isso perpassa demais pela minha vida. Medo. Sou uma pessoa muito medrosa. Caralho, primeira vez que admito. Medo. ... Choro. Choro demais, demais mesmo. Sou uma besta. Sei disso.
    Também amo demais. E quero amor em toda a minha vida. Intensamente. Excessivamente. Quando vivi isso pela primeira vez descobri que sou vazia se sobrevivo sem. E talvez a falta disso no momento me deixe mais suscetível ao medo.
    Mas quero ser mais. Desejo ser mais. E devo lutar por isso. Apaixonadamente.

    Você não é a última criatura utópica pensando assim.
    Abraço.
    (Daqueles que descansam a alma conjuntamente)

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