29.6.22

O mais inesquecíveis começos de livros que já li

Sabe quando você decide começar uma nova leitura e se depara com aquele primeiro parágrafo que lhe fisga de imediato ou até mesmo somente a primeira frase, assim como os dez minutos iniciais de um filme que não deixam seus olhos saírem da tela ou as primeiras notas de uma canção que já aquecem seu peito ou te fazem mexer os pés no ritmo da batida? Parece então que o mundo se enche de vida e você tem um novo motivo pra viver: terminar, devorar, engolir aquele livro, música, filme. ok, eu sou um pouco romanticamente exagerada com relação ao meu contato com arte. Mas pra mim é bem isso. Então selecionei alguns começos que lembro terem me marcado.





“Mrs. Dalloway disse que ela própria ia comprar as flores. O serviço de Lucy estava já determinado. As portas seriam retiradas dos gonzos; o pessoal da Rumpelmayer vinha a caminho. E que manhã, pensou Clarissa Dalloway — tão fresca, como se feita para as crianças brincarem na praia”.
Mrs. Dalloway - Virginia Woolf


“Quando certa  manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intran­quilos, em sua cama meta­morfo­seado num inseto monstruoso."


“Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira."


"Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo; eu estava deitado no assoalho do meu quarto, numa velha pensão interiorana, quando meu irmão chegou para me levar de volta; minha mão, pouco antes dinâmica e em dura disciplina, percorria vagarosa a pele molhada do meu corpo."


Lavoura Arcaiaca (Raduan Nassar)


"Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Re­cebi um tele­grama do asilo: 'Sua mãe fa­le­cida: En­terro amanhã. Sen­tidos pê­sames'. Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.
O Estrangeiro - Albert Camus



"Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor"
Memórias Póstumas de Braz Cubas

2016

Eu estou com tanto medo de entrar no mar

mensagem-bomba

às vezes penso como queria de novo me sentir como na primeira noite em que dormir na sua casa... foi tudo tão... bonito

2016
Desde dezembro o correio nunca me fez tão feliz, recebi presente de amigo secreto, recebi livros de aniversários, recebi cartinha e desenhos, recebi um livro viajante e agora um livro autografado do Thiago Mattos <3

bresson

Qual é o gênero de Bresson? Ele não tem nenhum. Bresson é Bresson. Ele é, em si mesmo, um gênero. Anotnioni, Fellini, Bergman, Kurosawa, Dovjenko, Virgo, Mozoguchi, Buñuel - não são iguais senão a si próprios. O próprio conceito de gênero tem a frieza de um túmulo. Quanto a Chaplin - trata-se de comédia? Não: ele é Chaplin, pura simplesmente, um fenômeno único e irrepetível. [...] Sabemos que a coisa toda é inventada e exagerada, mas, no seu desempenho, a hipérbole torna-se profundamente natural e provável, e, portanto, convincente - além de engraçadíssima. Ele não representa. Ele vive situações idiotas, ele é parte orgânica delas.

Nada poderia ser mais nocivo que o nivelamento por baixo que caracteriza o cinema comercial ou as produções padronizadas da televisão: eles corrompem o público de forma imperdoável, negando-lhe a experiência verdadeira da arte

O artista não pode expressar o ideal ético de seu tempo, a menos que toque todas as suas feridas abertas, a menos que sofra e viva essas feridas na própria carne. [...] Afinal, quase se poderia dizer que a arte é religiosa, no sentido de ser inspirada pelo compromisso com um objetivo mais elevado.


Sobre Fotografia - Susan Sontag [Trechos] [leitura 37]

Na Caverna de Platão

[...] quanto mais eu pensava sobre o que são as fotos, mais complexas e sugestivas elas se tornavam.


Em primeiro lugar, existem à nossa volta muito mais imagens que solicitam nossa atenção. O inventário teve início em 1839, e, desde então, praticamente tudo foi fotografado, ou pelo menos assim parece. Essa insaciabilidade do olho que fotografa altera as condições do confinamento na caverna: o nosso mundo. Ao nos ensinar um novo código visual, as fotos modificam e ampliam nossas ideias sobre o que vale a pena olhar e sobre o que temos o direito de observar. Constituem uma gramática e, mais importante ainda, uma ética do ver. Por fim, o resultado mais extraordinário da atividade fotográfica é nos dar a sensação de que podemos reter o mundo inteiro em nossa cabeça — como uma antologia de imagens.
Fotografar é apropriar-se da coisa fotografada. Significa pôr a si mesmo em determinada relação com o mundo, semelhante ao conhecimento — e, portanto, ao poder
Fotos fornecem um testemunho. Algo de que ouvimos falar mas de que duvidamos parece comprovado quando nos mostram uma foto. Numa das versões da sua utilidade, o registro da câmera incrimina.

Plágio, originalidade, e autenticidade

Você não é original ;)


livro: Grande Magia (Elizabeth Gilbert)


De 2020 pra cá tenho buscado livros sobre criatividade. 

Um foi "Roube como um artista" e esse agora Grande Magia. 

Ambos falam sobre o assunto de plágio e originalidade desmistificando a arrogância/medo de achar que você só vai poder criar algo se for "original" e até mesmo a ideia que se tem de originalidade. 

Já fiquei travada várias vezes em jogar alguma ideia e vir alguém aleatório me acusar de plágio. Mas cada vez tenho percebido a bobagem disso. 

Então, não tenha medo de lançar suas ideias nem achando que vai ser parecida com alguém PORQUE VAI SIM. E nem com a arrogância de achar que vai ser a única Coca-Cola do deserto :)

Eu estou lendo errado e provavelmente você também

Esse título super chamativo não quer dizer isso de verdade, é só porque sempre quis fazer uma manchete dessas haha

Mas mesmo assim, eu sinto que estou numa relação estranha com a leitura.

Desde que comecei a postar com mais frequência no Instagram e seguir tendências de perfis literários como: desafio de 12 livros para ler no ao, contar os lidos do ano, contar os lidos do mês, participar de maratonas literárias ou desafios. Coisas que são legais, aproximam os leitores na internet, mas começaram a engessar minha relação com a leitura.

Veja bem, eu não estou criticando essas ações de jeito nenhum, não estou dizendo que é errado ninguém propor essas brincadeiras, estou apenas falando que comigo, isso começou a não ser mais tão legal. 

Porque eu sentia que não estava mais em relação com a leitura e sim com o tempo de leitura, de alguma forma, parecia mais importante saber se eu ia conseguir ler tantas páginas em certa quantidade de tempo do que o que o livro estava me falando.

Esse ano isso ficou mais forte, eu não tava conseguindo lembrar muito dos que livros que acabei de ler, e acho que também o tempo nas redes sociais deve influenciar com tanta informação. Mas eu também estava lendo um livro atrás do outro sem respiro como se tivesse uma competição na minha cabeça, a pilha na mesa me deixava ansiosa porque eu achava que tinha que acabar "logo".

E qual é o problema se eu passar o ano todo para ler esses livros? Sério, gente, qual seria o problema de passar meses lendo alguns livros, respirando esses livros?

Então resolvi terminar com calma os livros que estou lendo e parar, deixar a vontade de ler outro livro realmente surgir. Outro exercício é também escrever um pouco das minhas percepções de leituras, já fiz resenhas, mas acho que sentia vontade de conversar mais intimamente sem o formato "resenha".



Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...