Sabe quando você decide começar uma nova leitura e se depara com aquele primeiro parágrafo que lhe fisga de imediato ou até mesmo somente a primeira frase, assim como os dez minutos iniciais de um filme que não deixam seus olhos saírem da tela ou as primeiras notas de uma canção que já aquecem seu peito ou te fazem mexer os pés no ritmo da batida? Parece então que o mundo se enche de vida e você tem um novo motivo pra viver: terminar, devorar, engolir aquele livro, música, filme. ok, eu sou um pouco romanticamente exagerada com relação ao meu contato com arte. Mas pra mim é bem isso. Então selecionei alguns começos que lembro terem me marcado.
“Mrs. Dalloway disse que ela própria ia comprar as flores. O serviço de Lucy estava já determinado. As portas seriam retiradas dos gonzos; o pessoal da Rumpelmayer vinha a caminho. E que manhã, pensou Clarissa Dalloway — tão fresca, como se feita para as crianças brincarem na praia”.
“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso."
“Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira."
"Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo; eu estava deitado no assoalho do meu quarto, numa velha pensão interiorana, quando meu irmão chegou para me levar de volta; minha mão, pouco antes dinâmica e em dura disciplina, percorria vagarosa a pele molhada do meu corpo."
Lavoura Arcaiaca (Raduan Nassar)
"Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: 'Sua mãe falecida: Enterro amanhã. Sentidos pêsames'. Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.
"Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor"
Memórias Póstumas de Braz Cubas
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