9.5.20

Mulheres na Luta - Marta Breen e Jenny Jordahl (parte 1)


Mulheres na Luta é uma HQ que eu recomendaria para todo mundo que quiser um primeiro contato com a história da luta feminista no contexto europeu e estadunidense e entender um pouco das chamadas "ondas do feminismo", pois traz todo esse conteúdo de forma bastante divertida e acessível. 

Mas hoje faço algumas considerações. De início a HQ coloca as mulheres brancas no mesmo patamar de escravizados e crianças, ela diz que esses três grupos não tinham os mesmos direitos que os homens.

Hoje observo isso com mais atenção, pois, pela visão da autora, as mulheres negras escravizadas estariam na mesma posição de mulheres brancas: sem direito a propriedade em seu nome, impossibilitadas de ganhar seu próprio dinheiro e de votar. 

Porém, acho que ter colocado ambas no mesmo patamar de desigualdade apaga o processo de escravidão, em que mulheres brancas, mesmo com menos direitos que homens (brancos), eram vistas socialmente acima dos escravizados, inclusive usando esse degrau um pouco superior para junto ao seus maridos perpetuarem a escravidão. 

Claro que existiu no meio disso muitas mulheres brancas abolicionistas e que se recusaram a compactuar com o processo da escravatura. Mas é importante entender que infelizmente não partimos do mesmo local, pois mulheres e crianças brancas ainda eram vistas numa sociedade escravocrata como superiores a pessoas negras. Enquanto ela diz que "mulheres" não podiam fazer faculdade, as mulheres negras estavam sonhando em acabar com a condição de serem propriedade tanto das mulheres brancas como dos homens brancos. 

Falando especificadamente da HQ, quando começamos a ler sobre "a história da opressão das mulheres", é apontado questões como o casamento obrigatório, o voto, a falta de educação formal, etc. E o texto é acompanhado de ilustrações de mulheres brancas, claro, pois essas questões eram relacionadas a nós, já que para mulheres negras as coisas eram um poucos diferentes, e piores.

Mesmo impossibilitadas de irem para a faculdade, muitas mulheres brancas podiam aprender a ler e escrever, em casa, enquanto para mulheres negras na mesma época isso era totalmente proibido.

E para se casarem, mulheres negras até tinha a "liberdade" de escolher seus parceiros, mas precisavam pedir permissão aos "senhores e senhoras" e muitas vezes isso era negado. Era na verdade uma falsa liberdade, pois a mulher escravizada "pertencia" ao "senhor de escravos", mesmo que fosse "casada" isso não ia impedir os estupros que ocorriam por parte dos homens brancos.  Sem contar as situações em que tinham seus filhos tirados ao serem vendidos para outras fazendas. 

Todas essas questões poderiam ter sido abordadas na HQ se a ideia era falar como era o retrato de opressão da mulher no século XIX, mas parece haver uma tendência a começar falando como a sociedade é/era com as mulheres brancas. 

Isso significa que é errado falar da condição de mulheres brancas? Que elas não sofriam? Que não era aprisionadas? Que não eram livres também, em certo sentido? Não, não e não. É importante que entendamos as condições de vida das mulheres ao longo dos anos para refletirmos sobre a origem da nossa opressão e valorizarmos as conquistas de hoje. É importante falar como TODAS as mulheres sofreram e sofrem opressões diferentes ao longo do tempo. Mas também observando o uso do termo "mulheres" como universal, principalmente no contexto de raça. 

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