28.5.20

Cartas a um jovem poeta de Rilke e a pressa juvenil



Inspirada na minha última sessão de terapia e no vídeo da Tarcila do VráTatá

A ansiedade juvenil de saber "como fazer algo", "como ser bom rápido" e o desespero em frente a vida acontecendo com todos os seus percalços é uma das milhares de questões que refletimos ao ler as 10 cartas presentes em Cartas a um jovem Poeta. 
O ciclo da vida humana que vai de "ter muita pressa - desenvolver ansiedade - e em algum momento entender que tanta pressa é um erro" parece mais latente nos nossos dias, eu sou um reflexo disso. 

Vivemos em um mundo cheio de 'dicas' e postagens mastigadas de "como fazer", em que as pessoas pedem conselhos rápidos o tempo todo (às vezes sem nem ler ou ouvir o que acabamos de dizer). Perderam a curiosidade de descobrir coisas por si mesmas, de criar coisas e caminhos por si mesmas, e enfrentamos a sensação de viver por uma sonda gastrointestinal: não queremos mastigar e esperar todo o processo digestivo do organismo, só queremos injetar a vida no nosso estômago, e que de preferência a gente defeque logo para cumprir o protocolo intestinal.

Não temos paciência para ver algum conteúdo com mais de 10 minutos (vi um vídeo com dicas de como começar um canal em que a pessoa dizia para não fazer vídeos com mais de 10 porque as pessoas não iriam assistir), temos a opção de "aumentar a velocidade de um vídeo ou um podcast" para ouvir alguém falando porque de alguma forma aquela pessoa pode estar falando "lento demais", quando é só a... bem fala humana... aumentamos essa velocidade para chegar logo a o final do vídeo e dizer "ufa, pronto, peguei a dica". Nem tampouco nos sobra tempo ou interessem em ler um texto maior que um tweet, e os stories são de 16 segundos e vídeos no igtv de 10 e lives de 1h cansam demais (sim, cansam mesmo, confesso).

Com tudo isso, a leitura desse livro de Rilke se faz essencial e se torna atemporal. Se somos feitos da matéria que são feitas os sonhos, como diz Fernando Pessoa e se O Amor é difícil como nomeou a Tarcila no seu último vídeo como a gente faz o que é difícil ser precioso também? 

Como a gente faz o tempo ser precioso? Como tornamos preciosos cada pedacinho dessa matéria de que somos e que foi construída ao longo de muitos muitos segundos que se passaram e que cada um significa um movimento dessa dança da vida.

E se a gente entender a vida mais como uma dança, do que uma escada reta, ou um caminho reto, então... temos o palco inteiro para rodar, ir pra frente e pra trás, pular, rastejar no chão, ficar parada...

Talvez não seja sobre um passo adiante, porque... se pensamos em que é sempre um pé depois do outro... é como se já soubéssemos exatamente como vai ser o fim, - e disso só sabemos que há a morte - será por isso a pressa? Desejamos logo morrer, então?... Onde está o prazer em construir e criar cada passo, em criar a luz no fim do túnel, em criar o que virá, degustando o presente....

Hoje eu falei para minha terapeuta que eu estava sentindo pressa em "melhorar" na terapia, encarei a terapia como um desafio em que eu tinha que comprovar um avanço a cada semana e na minha cabeça... se esse avanço não acontecia, se eu achava que errava d.e novo, se eu fazia algo que me desagradava, era como se estivesse falhando, perdendo, fracassando. Criei uma relação de que tudo precisava ter um resulto... rápido e positivo. Quando o processo de autoconhecimento é tudo, menos rápido e nem sempre indolor

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