Acho que o que posso primeiramente dizer de Sophia de Mello Breyner Andreser é que em sua poesia há poesia. Saia da obviedade dessa frase e pense o que é a poesia, o que é de fato a poesia, não, não são métricas ou formas. Esqueça isso... a poesia é outra coisa. Eu reencontrei esse significado lendo Sophia. Li bastante poesia esse ano, pois é meu gênero favorito e li muita coisa diferente, alguns me faziam pensar, outros eram marteladas, e Sophia me trouxe para uma certa origem do que me fez aos 13 anos me apaixonar por poesia, foi quando eu li Fernando Pessoa.. talvez os portugueses tenham mesmo esse talento da poesia que é quase como um feitiço.
A cada poema eu via a imagem da poeta dias e dias a beira mar, escrevendo porque não há existência sem poesia. É isso que sinto ao ler Sophia e Pessoa, a poesia e a vida são uma só. E não é possível caminhar, ver o mar, respirar sem fazer poesia. Por isso tudo é tão simples e tão íntimo e profundo. É um cliché falar do mar ao comentar sobre a obra de Sophia, pois ele está presente em tudo. Mas creio que há uma chave para virar, não é que seja "redundante" que ela fale tanto do mar, mas que o mar é redundante por si só, mas também sempre revigorante e misterioso ao mesmo tempo, então mesmo que o mar seja o tema principal da maioria de seus poemas, há sempre algum sentimento que não finda dentro da gente, como a própria existência do mar, que não cansa de ir e vir. A poesia de Sophia é o próprio mar nesse movimento incansável de ser poesia.
Sabemos como o mar se comporta, sabemos como as ondas quebram, sabemos o horário da maré cheia e da maré baixa, mas ainda assim.. o poeta, esse que se encanta com a banalidade de tudo é capaz de escrever centenas de poemas diferentes sobre a rotina salgada das águas, sobre o encontro marcado da espuma com os grãos de areia. A ciência já pode ter desvendado todos os mistérios da natureza, mas é o poeta que os torna.. mágicos novamente.
Sugestão de música para acompanhar: 5:55 de Charlotte Gainsbourg
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