"Cada pobre que passa por ali / só pensa em construir seu lar / ... seu pedacinho de terra pra morar./ É assim que a região sofre modificação/ fica sendo chamada de nova aquarela/ é assim que o lugar então passa a se chamar favela" - canta o belo samba-épico de Padeirinho (Osvaldo Vitalino de Oliveira), o Bertold Brecht naive da Mangueira. DA ADVERSIDADE VIVEMOS (pg. 79)
Tropicália exibida em 1960 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro |
TROPICÁLIA = nascimento da imagem de uma nação "na verdade, quis eu com tropicália criar o 'mito da miscigenação' - somos negros, índios, brancos, tudo ao mesmo tempo". Quebra decisiva na ideia de "bom gosto" e a "descoberta de elementos criativos nas coisas consideradas cafonas". (pg. 69)
Assim, SEJA MARGINAL, SEJA HERÓI é auto-referente e fala da resistência heroica (ou "bandida", conforme o vértice que se veja) do artista frente ao mundinho cooptador dos marchands, curadores, galerias e museus.
HO soube metamorfosear o mundo dado em sistema significante e chumbar a ordem da vivência com a ordem da expressão.
Relevo espacial A17 |
"A pintura e a escultura, pra mim, são coisas que acabaram mesmo, não é nem dizer que eu parei de pintar... não foi isso, eu acabei coma pintura, é totalmente diferente"
Há um ditado que reza que "peixe não sabe nada de água", mas HO é um peixe esperto que vê as águas em que está metido, e escreveu "A dança na minha experiência" (12/11/65): "Antes de mais nada é preciso esclarecer que o meu interesse pela dança, elo ritmo, no meu caso particular, pelo samba, me veio de uma necessidade vital de desintelectualização, de desinibição intelectual, da necessidade de uma livre expressão, já que me sentia ameaçado na minha expressão deu ma excessiva intelectualização. A derrubada de preconceitos sociais, das barreiras de grupos, classes, etc, seria inevitável e essencial na realização dessa experiência vital"
HO em BRASIL-DIARRÉIA: "É preciso entender que uma posição crítica implica inevitavelmente ambivalências: estar apto a julgar, julgar-se, optar, criar, é estar aberto Às ambivalências, já que valores absolutos tendem a castrar quaisquer dessas liberdades; direi mesmo: pensar em termos absolutos é cair em erro constantemente - envelhecer fatalmente; conduzir-se a uma posição conservadora (conformismos, paternalismos, etc.); o que não significa que não se deva optar com firmeza; a dificuldade de uma opção forte é sempre a de assumir as ambivalências e destrinchar pedaço or pedaço cada problema. Assumir ambivalências não significa aceitar conformisticamente todo esse estado de coisas; ao contrário, aspira-se então a colocá-lo em questão. Eis a questão"
B47 Bólide Caixa 22 |
E os museus? E a arte das galerias? Prefiro das galeras, que eram lindas e percorriam os sete mares, de sul a norte... (Waly Salomão)
Escrever é gozo, escrever é deflorar. Ler é gozo, ler é deflorar. Duas modalidades escavadas da cena primal contida na página 666 de L'etre et le nèant de J.P. Sartre: "Mas, além disso, da ideia mesma de descoberta, de revelação, uma ideia de gozo apropriativo está incluído. Visão é gozo, ver é deflorar." pg. 97
"A minha posição foi sempre de que só o experimental é o que interessa, a mim não interessa nada que já tenha sido feito... a meu ver, tudo isso é prelúdio para o que eu quero fazer, um novo tipo de coisa que não tenha nada a ver com modelos, do que se chamou e se conheceu como arte... De momo que a pintura e a escultura para mim, sãu duas coisas que acabaram mesmo, não é nem dizer que eu parei de pintar... não foi isso, eu acabei com a pintura, é totalmente diferente..." Trecho da entrevista de HO a Heloisa Buarque de Hollanda
“Me sinto sentado em cima de um barril de pólvora, enrolado em bananas de dinamite”. Hélio Oiticica
"Como situar a atividade do artista? Para quem faz o artista sua obra? Vê-se, pois, que sente esse artista uma necessidade maior, não só de criar simplesmente, mas de comunicar algo que para ele é fundamental, mas essa comunicação teria de se dar em grande escala, nã numa elite reduzida a experts mas até contra essa elite, com a proposição de obras não acabadas, abertas." - Esquema Geral da Nova Objetividade, 1967
"Ganhar dinheiro não é uma coisa essencial da arte"
"Quer dizer, só a pessoa que tem que prestar contas a um patrão, que é escrava, que é dominada, essa vive na ansiedade demasiada do sucesso ou do temor do fracasso, mas quem não tem esse grilhão, esse peso, está livre para experimentar a vida - Waly Salomão
Tudo pode ser feito. Não se prenda ao "não pode". Fugir diante dos "deve-se" imperativos, como o dia diante da noite - WS.
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