29.8.15

Filhos do Frio

Você não vai passar de (mais) um cara que nunca tomou conta de mim...

Você não foi o primeiro a me dizer exatamente o que você disse. Mas de algum modo acho que você conseguiu olhar um pouco dentro de mim. De algum modo você viu que eu estava indo meio fundo. Para os outros eu precisei gritar: ei, não tá vendo o que tá acontecendo aqui? Eu fiquei aliviada depois, quando cheguei em casa, depois que eu entendi... na verdade eu não entendi, não você e o que você disse, mas o que acontece comigo... ou com os outros que se aproximam de mim... Sim, eu e você temos uma ótima química. Sim, nossos corpos se entendem muito bem. Sim, é difícil largar meu corpo, é difícil parar de te beijar. É também tão fácil começar, tão fácil que "tua mão errante adentre atrás na frente em cima em baixo, entre"... adentrar...adentrar a carne, mas "o que é a carne sozinha?". E eu tenho pensado sobre intimidade e no que me basta e não me basta e no que eu quero e não quero. Você apareceu no meio desse redemoinho e eu misturei tudo e vi que não tem como saber de nada. Que intimidade a gente (de forma geral) procura? Sua boca, suas mãos passeiam por todo meu corpo nu... mas essa nudez perpassa a superfície? Essa intimidade atravessa? Porque eu tenho essa necessidade de me conectar de verdade com os seres humanos... essa necessidade de viver significadamente e não sei até que ponto tudo isso se une ou se distancia...


Eu também não sei o que pensar. Eu não sei porque eu sinto o que eu sinto por parecer ser tudo isso que bastava, só que não bastava. E você sabe disso, e foi muito bom você ter parado logo. As pessoas me dizem: aproveita o que der. Mas eu não quero só o que der. O que me deixa mal é que começo a pensar que o problema sou eu. Igual você me disse que sentiu um tempo, lembra? Eu posso pensar só que "ok, as pessoas não estão em boas fases, é só isso". Mas o que acontece? Sabe aquela letra do Cazuza, ele diz "saia dessa vida de migalhas, desses homens que te tratam como um vento que passou". Parece meio isso, sabe? Mas eu tento afastar esse pensamento porque também foi horrível pensar que parecia que você estava meio que com pena de mim. Na verdade as pessoas se vêem em geral como ventos que passam. E eu não quero mais isso. Eu quero ser uma brisa que fica. Eu quero ter uma brisa. Ou talvez um tornado, eu não me importo. Eu não me importo com terremotos, vulcões... Nunca fui de calmaria. O que acontece é que tenho me deparado com portas semi abertas, e ao dar o primeiro passo elas se fecham. Quando na verdade os donos das casas que bateram na minha janela... e eu pergunto, por quê? Talvez fosse melhor eu ter te avisado logo no primeiro dia: cuidado - alto risco de envolvimento da minha parte. E você provavelmente teria ido logo embora... (risos) mas pensando bem, teria sido uma pena pois não teríamos tido o que tivemos e que foi bom. Acho que agora me sinto um pouco melhor... falando. Eu sou a aquariana mais furada que existe. Porque eu me envolvo, ô inferno, eu realmente me envolvo. E você não tem nada a ver de verdade com nada disso, nada ver com todo esse monte de palavras loucas, e eu espero não parecer que estou jogando nada em cima de você, eu só queria falar, você deixa, né? 


"E que ao menos uma vez não seja tudo igual
Foram vozes demais, foram erros demais, foram beijos demais
Mas mesmo assim eu fico aqui, eu fico aqui, eu sou assim
Eu não fujo"



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...