7.6.20

Reflexos num Olho Dourado - Carson Mccullers



Carson é uma escritora que infelizmente ainda tem pouca visibilidade no Brasil apesar de sua qualidade literária, contemporânea de Faulkner, Capote e Tenesse Williams, a estadunidense tem um estilo original e foi percursora em trazer temas polêmicos para a literatura. 

Neste curto romance reconhecemos o toque característico de Carson: personagens que destoam de uma normalidade social, incomunicáveis e uma tensão silenciosa entre eles prestes a quebrar a falsa calmaria de suas vidas.

Em Reflexos num Olho Dourado, temos como cenário principal um batalhão do exército e a casa de um dos capitães desse quartel, o oficial Penderteon, um homem gay reprimido, é casado com Leonora, uma mulher muio atraente, mas descrita por Carson como tendo um algum "atraso mental". Logo de cara, Carson revela que aconteceu um crime envolvendo os personagens principais, sem obviamente dizer por quem, quais as vítimas ou como se desenrolou isso. 

Aos poucos vamos conhecendo as figuras e de que maneira elas vão se relacionando e revelando seus segredos.  Todos os personagens sustentam no limite de seus nervos uma vida aparentemente comum, cada um reprimindo desejos sexuais. Essa repressão é o fio condutor da narrativa e o que liga essas estranhas criaturas, que como lemos na orelha desta edição, parecem metade humanos, metade animais, tomando atitudes extremas e violentas, desprovidos de racionalidade, sufocados pela normatividade imposta. 

Eu adoro o estilo inconfundível de Carson narrar as coisas, ela consegue ser poética e ao mesmo tempo jogar na sua cara acontecimentos chocantes sem a menor preparação, te deixando meio desnorteado: ela faz um corte e o sangue só é espirrado na sua cara sem que você possa se defender. 

Bom salientar que a história se passa num EUA sulista, nos anos 30 e os personagens são bem racistas. Mas por outras obras de Carson em que ela trouxe personagens negros ao centro da narrativa, eu vejo que nesse se trata da caracterização dos personagens, inclusive como crítica a essa sociedade com resquícios escravocratas, pois ela zomba desses personagens, ao mesmo tempo que disseca os podres de uma elite neurótica e limitada por preconceitos explodindo tudo isso em violência e autodestruição. 

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