5.1.20

O olho mais azul / the bluest eye




Li O Olho mais Azul na penúltima semana do ano e decidi procurar uma versão em inglês pela vontade de me reaproximar da língua inglesa, baixei também um áudio book narrado pela própria Toni Morrison que foi maravilhoso e deu um sentido sonoro maior do que se eu tivesse lido traduzido, na minha opinião, pois Toni Morrison faz mesmo música com as palavras. 

Já havia lido outros dois romances de Morrison e gostado muito, também já estava acostumada com sua escrita que pode ser meio esquisita a primeira lida, pela mudança de narrador que acontece ao longo das histórias. O que é algo que percebo ser característico de Toni e apresenta uma mutiplicidade de perspectivas.

O nome em inglês dá um duplo sentido ao título, como me disse @lettershome algo que não havia notado e achei fantástico. THE BLUEST EYE, o som do EYE (olho) é o mesmo de I (EU), o que pode ser interpretado como o eu mais triste. Essa dualidade tem tudo a ver com o livro, como vocês poderão observar ao lerem.

A riqueza da prosa de Toni Morrison me surpreende cada vez que a leio, com ela todo detalhe ganha um sentido metafórico e poderoso. Pelo lado técnico, The Bluest Eye é uma lição de desenvolvimento de personagem, pra mim, nada ficou a desejar.



Pelo lado temático, ela não nos poupa dos temas incômodos. Desde Voltar para Casa eu fiquei admirada com a habilidade da autora ao falar do cruzamento de racismo e machismo que passam mulheres negras. Ela não deixa de falar que sim, homens negros passam por racismo, mas também oprimem mulheres dentro da estrutura machista.

Logo de início é revelado que Peecola, uma menina de 11 anos é estuprada pelo pai. A cena em questão é narrada pelo ótica dele o que é muito incômodo de ler, sendo que temos a visão dele do ato, mas fiquei refletindo e cheguei a seguinte conclusão.

Primeiro é perceber, mesmo que seja horrível de ler, o que pode vir a se passar na cabeça de um estuprador, o quão doente e como a sociedade atua na mente de um homem desses. É difícil pensar sobre isso, mas esses homens são também construções sociais e ao escrever o background social do personagem ela complexifica o debate, sem justificar as ações.

Nos faz entender também a vulnerabilidade de meninas negras num contexto machista e racista, mesmo com homens que também passaram por racismo.

Romance de estréia da ganhadora do Nobel, este é um curto grande livro que vai ficar entre suas melhores leituras da vida.

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