15.5.19

Conheça: Alejandra Pizarnik



Ah, esses olhos. Alejandra Pizarnik se tornou minha nova obsessão em 2017 quando fui a Buenos Aires e passeando pelos sebos perto do hostel entrei em um chamado El Rufião Melancólico, depois de conversar um pouco o dono do lugar ele pega um volume da obra completa de Alejandra e me diz "isso aqui é coisa séria". Quebrando um pouco o esperado, não pude levar o volume que custava cerca de 100 reais, nessa viagem inclusive tive que escolher entre comer nos cafés mais lindos que já vi ou comprar os livros que foram escritos nos cafés mais lindos que já vi. Preferi a quasi-experiência dos poetas argentinos. Antes desse acontecimento ouvi o nome de Alejandra, pois @ninaarizzi já havia traduzido A árvore de Diana, mas não li logo. Porque outra particularidade de minhas obsessões literárias é que gosto de mantê-las em panelas de pressão. Fico cozinhando a vontade até chegar o momento "certo", que não sei definir quando é. Com Pizarnik chegou em Abril, coincidentemente mês de seu aniversário, quando pedi a uma colega para trazer da feira da Unesp o box da @relicarioedicoes que estava em promoção. Então entrei nessa noite soturna e quente que é a poesia de Pizarnik. Filha de eslavos, Alejandra é pseudônimo de Flora. Amiga de contemporâneos como Octavio Paz e Júlio Cortázar (com quem manteve uma amizade intensa até o fim da vida) Alejandra arrebatou leitores com uma poesia melancolicamente feroz, de "vocabulário restrito", mas que traz a precisão de uma cirurgiã da arte de versar a vida. Tendo passado por muitos momentos de depressão, Flora veio nos deixar ao ingerir grande quantidade de sedativos, um fim de semana após ter saído de uma clínica psiquiátrica em que ficou por 5 meses. Alejandra já com certeza uma das grandes poetas da minha vida. Que venha mais Pizarnik para nós!


Nasce em 1936, em Buenos Aires. Suicida-se em 1972.

Estes ossos brilhando na noite, 
estas palavras como pedras preciosas 
na garganta viva de um pássaro petrificado, 
este verde mui amado, lilás candente, 
este coração só misterioso. 
(Árbol de Diana, 1962).

10.5.19

Comentário: Histórias de Cronópios e de Famas



Reinventar um mundo. Reaprender a andar, respirar, viver, amar, correr, subir escadas, dar cordas num relógio, amolecer tijolos. Ser você mesmo, ser outro. Córtazar, quando eu te leio me sinto tão melancólica, e também mais forte. Ser maluca num mundo caduco, meio drummondiana. Criar. Ser tolo, ser bobo. Também precisamos em algum momento. Ficando louco para não enlouquecer. Deve ser isso que significa ser artista, ser poeta.

Esse ano eu li 3 autores latinos, Bolãno, Córtazar e Pizarnik. Ambos me trouxeram sentimentos semelhantes a esses que acabei de contar. Uma veia sonhadora que parece percorrer a América Latina, e chega no meu coração. Apenas uma garota latina-americana sem dinheiro no banco ou parentes importantes. Com Bolaño nós lemos personagens que não parecem reais, mas foram. Com Córtazar conversamos com personas surreais, mas que parecem muito como seres humanos e Pizarnik me trouxe uma poesia de quem flutua entre esse real e o que não conseguimos expressar, uma mulher entre espelhos.

Vocês já sabem, eu não falo de livros, eu falo do sentimento pelos livros. "A leitura deve ser antes de tudo um ato de amor". Mas do que se trata Histórias de Cronópios e de Famas? Quantas páginas têm? Que editora lançou? Em quantas partes é divido? Quem são cronópios, quem são famas? Bem... deixo esse serviço para os profissionais do ramo...



O que posso dizer é que esse curto livro com manuais, matérias primas e seres imaginários fez meus olhos brilharem como uma criança que se diverte só de ver uma borboleta, ou andar na grama ou na primeira vez que vê o mar, Cortázar apresenta para nós o encanto do mundo engolido pelas obrigações e burocracia. Enquanto em Kafka, os personagens sucumbem surrealisticamente ao mecanismo da engrenagem que mói qualquer sentimentalismo ou sensibilidade, em Cortázar temos a possibilidade de voar para fora da Terra ou recriá-la.

Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...