A história da minha vida não existe. Ela não existe. Nunca há um centro. Nem caminho, nem
linha. Há vastos lugares em que é de se crer que houvesse alguém, não é possível que não
houvesse ninguém.
E chorando ele faz. Primeiro vem a dor. E então, depois que essa dor é acolhida, ela é
transformada, lentamente arrancada, arrastada para o gozo, abraçada a esse gozo.
O mar, sem forma, simplesmente incomparável.
Já na balsa, de antemão, a imagem teria participado daquele instante
Acho que já
sei dizer o que ela é, tenho uma vaga vontade de morrer. Essa palavra, já não a separo mais de
minha vida. Acho que tenho uma vaga vontade de ficar sozinha, assim como percebo que não
estou mais sozinha desde que deixei a infância, a família do caçador. Vou escrever livros. É o
que vejo para além do instante, no grande deserto que se afigura como a extensão de minha vida
As partidas. Eram sempre as mesmas. Sempre as primeiras partidas pelos mares. A separação
da terra sempre se fazia em meio à dor e ao mesmo desespero, mas isso nunca havia impedido
que os homens partissem, os judeus, os pensadores e os simples viajantes da viagem marítima, e
isso nunca havia impedido que as mulheres os deixassem ir, elas que nunca partiam, que ficavam
cuidando do lar, da raça, dos bens, da razão de ser do retorno. Durante séculos, os navios fizeram
com que as viagens fossem mais lentas e mais trágicas do que são hoje em dia. A duração da
viagem recobria naturalmente a extensão da distância. As pessoas estavam habituadas a esses
lentos ritmos humanos na terra e no mar, a esses atrasos, a essa espera dos ventos, dos céus
abertos, dos naufrágios, do sol, da morte. Os paquetes que a menina branca havia conhecido
estavam entre os últimos correios do mundo. Com efeito, foi durante sua juventude que surgiram
as primeiras linhas aéreas que iriam progressivamente privar a humanidade das viagens pelos
mares.
E a jovem tinha se levantado como se estivesse indo por sua vez se matar, por sua
vez se lançar ao mar, e depois havia chorado porque tinha pensado naquele homem de Cholen e
de repente não tinha certeza se não o havia amado com um amor do qual não se apercebera
porque ele tinha se perdido na história como a água na areia e agora ela só o reencontrava nesse
instante em que a música se lançava ao mar.
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