Leandro Konder foi um filosofo marxista, médico sanitarista e líder comunista. Formado em Direito, Leandro exilou-se em 1972, após ser preso e torturado pelo regime militar, e morou na Alemanha e depois na França até seu regresso ao Brasil em 1978. Doutorou-se em Filosofia em 1987 no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Faleceu em novembro de 2014.
Neste pequeno livro, o autor tentar nortear alguns questionamentos acerca do conceito de dialética, seguindo ao longo do livro um viés marxista. O fato de o autor ter, devido a sua pesquisa, abordado o tema a luz do marxismo talvez deixe o leitor mais leio sobre o assunto um pouco perdido, como foi o meu caso. Resolvi buscar esse livro por interesse pessoal, por ser pesquisadora em arte e curiosa por temas que desconheço. A dialética é um termo chave na filosofia e ciências afins, mas que nos faz também atravessar os acontecimentos levando em consideração questões que se contrapoem, chegando a uma síntese e assim pode nos fazer ter uma visão mais ampla dos assuntos. Entendi que a dialética nos ajuda a pensar o mundo para além do que nos é passado, principalmente nos faz questionar mais a informação que recebemos.
Em contraponto à dialética temos a metafísica, concepção que prevaleceu historicamente por muito tempo, pois correspondia ao pensamento das classes dominantes, ou seja: os valores e conceitos da sociedade são imutáveis, esse pensamento impossibilitava ideia de transformação que a dialética propõe.
A partir do terceiro capítulo, "A Alienação", o autor começa a tratar mais da dialética marxista e como Marx usou o conceito para falar da luta de classes. Cada vez mais tenho certeza que ler Marx ajudaria a entendermos tudo que nós passamos, toda a questão da desigualdade social. Isso se o Brasil não fosse contaminado por um pensamento que desde a ditadura prega o socialismo como um dêmonio e faz pobre achar que um dia vai ser rico ao invés de entender sua realidade para transformá-la socialmente e coletivamente e não só individualmente. Mas essa é outra questão.
"A partir da divisão social do trabalho, a humanidade
passava a ter uma dificuldade bem maior para pensar os seus próprios problemas e para encará-los de um ângulo
mais amplamente universal: mesmo quando eram
sinceros, os indivíduos se deixavam influenciar pelo ponto
de vista dos exploradores do trabalho alheio, pela “perspectiva
parcial inevitável” das classes sociais"
"As condições criadas pela divisão do trabalho e pela propriedade privada introduziram um “estranhamento” entre o trabalhador e o trabalho, uma vez que o produto do trabalho, antes mesmo de o trabalho se realizar, pertence a outra pessoa que não o trabalhador. Por isso, em lugar de realizar-se no seu trabalho, o ser humano se aliena nele; em lugar de reconhecer-se em suas próprias criações, o ser humano se sente ameaçado por elas; em lugar de libertar-se, acaba enrolado em novas opressões"
"Marx não inventou a luta de classes: limitou-se a reconhecer que ela existia e procurou extrair as consequências da sua existência"
"As condições criadas pela divisão do trabalho e pela propriedade privada introduziram um “estranhamento” entre o trabalhador e o trabalho, uma vez que o produto do trabalho, antes mesmo de o trabalho se realizar, pertence a outra pessoa que não o trabalhador. Por isso, em lugar de realizar-se no seu trabalho, o ser humano se aliena nele; em lugar de reconhecer-se em suas próprias criações, o ser humano se sente ameaçado por elas; em lugar de libertar-se, acaba enrolado em novas opressões"
"Marx não inventou a luta de classes: limitou-se a reconhecer que ela existia e procurou extrair as consequências da sua existência"
(pg 30/31)
Para poder analizar essa realidade que o capitalismo criou, é preciso observar o todo. Assim, no capitulo 4 "A Totalidade", o autor explica que na dialética marxista, o conhecimento é totalizante,
"Se não enxergarmos o todo, podemos atribuir um valor exagerado a uma verdade limitada (transformando-a em mentira), prejudicando a nossa compreensão de uma verdade mais geral."
Desse modo, toda ação humana para por um processo de totalização, onde nunca alcança uma etapa final. Para observar o todo precisamos ter uma visão do conjunto. A síntese é a visão do conjunto que permite o homem descobrir a estrutura significativa da realidade com qual ele enfrenta. Para conseguirmos o nível da totalização mais abrangente devemos nos recorrer à filosofia da história.
"A visão de conjunto - ressalve-se - é sempre provisória e nunca pode pretender esgotar a realidade a que ele se refere. A realidade é sempre mais rica do que o conhecimento que temos dela. Há sempre algo que escapa às nossas sínteses; isso, porém, não nos dispensa do esforço de elaborar sínteses, se quisermos entender melhor a nossa realidade. A síntese é a visão de conjunto que permite ao homem descobrir a estrutura significativa da realidade com que se defronta, numa situação dada. E é essa estrutura significativa - que a visão de conjunto proporciona - que é chamada de totalidade"
Nos capítulos que se seguem autor vai tratar mais do pensamento marxista, mas que perpassam pelo conceito de dialética. Konder finaliza com o capitulo"Semente de dragões"
"Uma das características essenciais da dialética é o espírito crítico e autocrítico. Assim como examinam constantemente o mundo em que atuam, os dialéticos devem estar sempre dispostos a rever as interpretações em que se baseiam para atuar"
"A dialética não dá “boa consciência” a ninguém. Sua função não é tornar determinadas pessoas plenamente satisfeitas com elas mesmas. O método dialé tico nos incita a revermos o passado à luz do que está acontecendo no presente; ele questiona o presente em nome do futuro, o que está sendo em nome do que “ainda não é” (Ernst Bloch)."
A empolgação e esperança com que Konder fala sobre a importância revolucionária da dialética para o conhecimento humano é algo que pode nos fazer oxigenar o ar de pessimismo que vivemos hoje e ainda se agarrar a crença de que o pensamento crítico possa fazer alguma diferença no mundo, menos apenas como pequenas sementes.
Assim chego a minha vigésima terceira leitura "Drama como método de ensino". A pesquisa de Beatriz Ângela Vieira Cabral se concentra no intercâmbio do drama no eixo curricular da escola, como o drama (entende-se drama como texto dramático, ou simplificando texto para o "teatro") pode ser um método de ensino de outros conteúdos do currículo escolar.
"O Drama, uma forma essencial de comportamento em todas as culturas, permite explorar questões e problemas centrais à condição humana, e oferece ao indivíduo a oportunidade de definir e clarificar sua própria cultura. É uma atividade criativa em grupo, na qual os participantes se comportam como se estivessem em outra situação ou luar,sendo ele próprios ou outras pessoas." pg 11
Beatriz pontua que o Drama já está no cotidiano do aluno por meio da televisão, e outras interações sociais. Com isso podemos entender que o drama é um meio de transmissão de alguma mensagem ou conteúdo. A autora defende a necessidade de unir as técnicas teatrais, do ensino de artes, ao contexto dramático. Assim, Beatriz Cabral nos dá algumas características para essa atividade
contexto e circunstâncias de ficção: o contexto da ficção é a situação imaginária que é colocada no drama. Para que os alunos possam de fato vivenciar esse cruzamento entre o real e o imaginário é necessário que as situações e circunstâncias sejam convincentes e devidamente exploradas, por meio da ambientação, abordagem do tema/assunto e personagens.
processo engloba o arranjo dos elementos dramáticos, relacionando contexto e objetivos que pretende-se alcançar.
episódios são acontecimentos que estarão inseridos dentro da estrutura narrativa. Um sequência de eventos que irão construir o texto dramático permitindo o aprofundamento de detalhes e a escolha de caminhos. Sendo assim o texto final será formado a partir da negociação entre os participantes do processo. Os episódios auxiliam o professor na edificação do contexto.
pré-texto se trata do roteiro, história ou texto a ser desenvolvido, sendo este apenas um ponto de partida para o ínicio do processo. Funciona como um pano de fundo, uma orientação dos exercícios a serem explorados cenicamente. O pré-texto é a base da investigação e escavação do tema/texto a fim de torna o processo mais consistente.
"Enquanto o estímulo sugere a ideia ou ação inicial, o pré-texto indica não apenas o que existe anteriormante ao texto (contexto e circunstâncias anteriores), mas também subsidia a investigação posterior, uma vez que introduz elementos para identificar a natureza e os limites do contexto dramático e do papel dos participantes" pg 16
O drama como método de ensino permite ao professor explorar diferentes códigos linguísticos e possibilita a interação dos alunos em contextos diversificados.
Outro ponto importante é a maneira como mudamos a relação entre professor e aluno ao usar o drama como método de ensino. O professor não se torna o único sujeito das ações, nem sua função é exclusivamnte transmitir conhecimento. Na construção de cenas dramáticas, o professor não deve ser um diretor, ou seja, "não deve estar lá para definir a cena e tomar decisões, mas para entrar no jogo proposto" pelos alunos. Ele pode intervir com questões e ajudar a manter o foco nas tarefas propostas.
A autora propõe em seguida uma reflexão: por que é tão difícil manter a atenção do aluno por 50 minutos, mas os meios eletrônicos conseguem isso falcimente? Em resumo, ela chega ao ponto de que na interação virtual os alunos são agentes. Em que outro momento somos convidados a sermos agentes dos acontecimentos em um ambiente de narração? Os meio eletrônicos tornam ilimitadas as possibilidades de sermos agentes, outro ponto é a capacidade de transformação que o munto virtual proporciona.
"Ser agente e traformar são centrais às linguagens artísticas. Em Teatro Educação o aluno é criador e ator, ele faz e apresenta. Mais ainda, ele o faz e/ou transforma através do próprio corpo" pg 29
Assim, cabe ao professor em face das dificuldades em sala de aula rever suas práticas metodolóficas também, refletindo sobre a qualidade e quantidade do material levado ao aluno.
A autora propõe em seguida uma reflexão: por que é tão difícil manter a atenção do aluno por 50 minutos, mas os meios eletrônicos conseguem isso falcimente? Em resumo, ela chega ao ponto de que na interação virtual os alunos são agentes. Em que outro momento somos convidados a sermos agentes dos acontecimentos em um ambiente de narração? Os meio eletrônicos tornam ilimitadas as possibilidades de sermos agentes, outro ponto é a capacidade de transformação que o munto virtual proporciona.
"Ser agente e traformar são centrais às linguagens artísticas. Em Teatro Educação o aluno é criador e ator, ele faz e apresenta. Mais ainda, ele o faz e/ou transforma através do próprio corpo" pg 29
Assim, cabe ao professor em face das dificuldades em sala de aula rever suas práticas metodolóficas também, refletindo sobre a qualidade e quantidade do material levado ao aluno.