30.12.16

Resumão de Leituras 2016



Esse foi o ano que mais li em termos de quantidade e o que mais li mulheres também. Foram 58 leituras, mas minha meta era 60, faltou pouco. Ainda houveram poucos livros teóricos, que eu preciso demais!!

Os melhores: 
  1. Vermelho Amargo - Bartolomeu Campos de Queirós (Trechos)
  2. O Sol e o Peixe - Virginia Woolf 
  3. Poemas - Wislawa Szymborska (trechos aqui e aqui)
  4. É Claro que Você Sabe do Que Estou Falando - Miranda July  (resenha)
  5. Persépolis - Marjane Satrapi 
  6. Jóquei - Matilde Campilho 
  7. Cartas para a Minha Mãe, Teresa Cárdenas (impressão)
  8. Azul É a Cor Mais Quente, Julie Maroh (impressão)
A melhor descoberta:
Poemas - Wislawa Szymborska 


A maior decepção:

A Garota da Banda, Kim Gordon (resenha)

O pior livro: 

Os Subterrâneos, Jack Kerouac (observação pessoal)

O que eu mais recomendaria:
É Claro que Você Sabe do Que Estou Falando - Miranda July 

Por que: 


Primeiro, por Miranda ainda ser um autoria pouco falada e que merece maior destaque. As histórias dela são criativas, poéticas, engraçadas e tristes ao mesmo tempo. São contos sobre gente esquisitamente comum, que pouco figuram o mundo literário, não são heróis nem heroínas, não são dotados de grande inteligência ou grande beleza, são pessoas que passam por nós todos os dias, ou nós mesmo até.



Todos os livros:

Poesia:

  • Casa devastada, Thiago Mattos 
  • As iluminações ou o aturdimento da poesia, Uirá dos Reis 
  • Inéditos e Dispersos, Ana Cristina Cesar  (releitura) 
  • Noor em nós, Bartira Dias de Albuquerque 
  • Compêndio Para o Uso dos Pássaros, Manoel de Barros 
  • Do Desejo, Hilda Hilst 
  • Poemas [1968 - 2000], Francisco Alvim 
  • Jóquei, Matilde Campilho 
  • Ode Sobre a Melancolia e Outros Poemas, John Keats 
  • Primeira Poesia, Jorge Luis Borges
  • Bufólicas, Hilda Hilst
  • Baladas, Hilda Hilst (trechos/leitura)
  • Poemas, Wislawa Szymborska 
  • O Iceberg Imaginário e Outros Poemas, Elizabeth Bishop (impressões/trechos)

Contos:


  • Laços de Família, Clarice Lispector  (impressões/trechos)
  • Antologia de contos LiteraturaBr 
  • Alguém que anda por aí, Julio Cortázar  (crônica que fiz sobre)
  • É Claro que Você Sabe do Que Estou Falando, Miranda July 
  • A Casa de Carlyle e Outros Esboços, Virginia Woolf
  • Branca - Flor e Outros Contos, Ana de Castro Osório 





Teatro:

  • Casa de Bonecas, Henrik Ibsen 

  • Amores Surdos, Grace Passô 

  • A lista, Jennifer Tremblay




Romance/Novelas:


  • A Vida Privada das Árvores, Alejandro Zambra 
  • Vermelho Amargo, Bartolomeu Campos de Queirós 
  • A Cabeça do Santo, Socorro Acioli 
  • Um Beijo de Colombina, Adriana Lisboa 
  • A Casa, Natércia Campos
  • Azul Corvo, Adriana Lisboa 
  • Quarenta dias, Maria Valéria Rezende 
  • Cartas para a Minha Mãe, Teresa Cárdenas
  • As Lendas de Dandara, Jarid Arraes
  • Os Subterrâneos, Jack Kerouac 
  • Preciosa, Sapphire 
  • Quarto, Emma Donoghue 
  • A Mulher Desiludida, Simone de Beauvoir (não-resenha aqui)


Não-ficção
  • As pequenas virtudes, Natalia Ginzburg 
  • Vozes Literárias de Escritoras Negras, Ana Rita Santiago 
  • Esculpir o tempo, Andrei Tarkovski 
  • Indústria cultural e Sociedade, Theodor Adorno
  • Sejamos Todos Feministas, Chimamanda Ngozi Adichie 
  • O Sol e o Peixe - Prosas Poéticas, Virginia Woolf 
  • Pagu - A luta de cada um, Lia Zatz 
  • Profissões Para Mulheres e Outros Artigos Feministas, Virginia Woolf 
  • Zé Celso Martinez Corrêa Primeiro Ato: cadernos, depoimentos, entrevistas (1958-1974) , Ana Helena Camargo de Staal (trechos)
  • Hélio Oiticica Qual é o parangolé?, Waly Salomão
  • O Discurso “Faça Boa Arte”, Neil Gaiman, Chip Kidd 
  • O Teatro e Seu Duplo, Antonin Artaud 


HQ/Desenho
  • Desenhos, Sylvia Plath 
  • Persépolis - Marjane Satrapi 
  • O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde, Stanislas Gros 
  • Leonilson Use, é lindo, eu garanto, Leonilson 

Infantil:
  • Andira, Rachel de Queiroz 
  • A África meu pequeno Chaka... Marie Sellier, Marion Lesage 

O desafio Lendo Mais Mulheres 2016

01 - um livro de poesia: O Iceberg Imginario e outros poemas - Elizabeth Bishop
02 - um livro de literatura infantil: A África meu pequeno Chaka - Marie Sellier
03 - um livro não-ficção (biografia, ensaio ou reportagem): Profissões de Mulheres e outro artigos feministas - virginia woolf
04 - um livro ganhador do Jabuti: 2014 - Quarenta Dias - Maria Valéria Rezende
05 - um livro ganhador do Nobel: Wisława Szymborska - Poemas (pdf)
06 - uma HQ: Azul é a cor mais quente, de Julie Maroh (pdf)
07 - um livro de autora independente: As Lendas de Dandara, Jarid Arraes (pdf)
08 - um livro de autoria A. L. M. E. (latinas, asiáticas e minorias étnicas): Persepólis - Marjane Satrapi
09 - uma autora negra: Vozes Literárias de Escritoras Negras, Ana Rita Santiago 
10 - uma autora contemporânea: é claro que você sabe do que estou falando - miranda july
11 - uma autora conterrânea: Andira - Raquel de Queiroz
12 - uma autora estreante: A garota da banda, Kim Gordon

26.12.16

A Garota da Banda, um livro não tão feminista assim




Na orelha detrás do livro "A Garota da Banda", o jornalista Alexandre Matias afirma que o livro "é um libelo feminista em forma de relato, que mostra que, mesmo que tenhamos evoluído nesses termos, ainda há muito caminho ela frente. E Kim Gordon sabe o quanto isso é recompensador." Será que sabe, Kim?

O intuito aqui não é atacar nem defender Kim Gordon, ela não está num julgamento, mas sim pontuar alguns incômodos pessoais que tive durante a leitura com algumas declarações da artista e observar uma certa contradição por o livro estar sendo vendido como um "libelo feminista", enquanto Kim escorrega em várias partes com relação a isso.

Antes de realmente chegar ao que quero falar, quero deixar claro que óbvio que todos estamos sujeitos a falhas, errar é humano e tudo mais, nem por isso devemos deixar de nos analisar, principalmente quando se trata de discursos feministas (entre outras lutas) a questão é mais delicada.

Sabemos (ou acho que sabemos) que a luta feminista vai contra uma construção da ideologia machista que perdura por séculos e séculos. São frases, piadas e pensamentos que crescemos, homens e mulheres acostumados a ouvir e achar normal, a pensar ser "assim mesmo" e a reproduzir constantemente. Kim não ficou imune a isso.

Na sua auto-biografia, Kim fala que cresceu na sombra do irmão e como mulher sempre se viu muito submissa à figura masculina. Mesmo sendo líder de uma banda de rock e tendo que enfrentar todo o machismo silencioso - e sobre isso ela fala muito bem - do meio, em suas lembranças notamos que essa convivência com o irmão e o fato de ter crescido sob constante constrangimento dessa figura masculina - sem maior apoio feminino - parece ter ajudado a Kim se tornar tão antipática a algumas figuras femininas que ela relata ao longo do livro

Kim fala muito abertamente o quanto detesta Courtney Love, viúva de Kurt, acusada por uma legião de fãs de ter "matado" o ídolo grunge dos anos 90. Na visão de Kim, Courtney entrou na vida do Kurt para acabar com ele, etc etc, em outros momentos ela sempre está relatando com maus olhos o fato de Courtney ter corrido atrás de alavancar sua carreira, para Kim, o fato de Love ser uma mulher atraente e de iniciativa, aquelas que chegam e todos olham, sabe? não parece uma combinação interessante e ela leva isso tudo de forma negativa.

Interpretei ao longo do livro que as mulheres "legais" para Kim, são as submissas, as que sofrem, as coitadas e que passam mais despercebidas. As que tentam se impor não parecem tão legais.

Quem se interessa por Courtney, como eu, sabe que ela é conhecida por ser uma figura polêmica, dizer o que quer, fazer barraco além de não ter a menor vergonha de mostrar sua sensualidade juntamente com o ar rockstar. Kim fala disso como se fosse uma forma de Courtney querer sempre se aproveitar das pessoas e em nenhum momento parece considerar que Kurt já tinha uma personalidade depressiva antes de Courtney. Ela reproduz a ideia de uma mulher ter que salvar um homem, ou a mulher que destruiu a vida do homem pobre coitado, sem considerar também qual a condição mental dos dois antes disso ou se Kurt também não destruiu Courtney igualmente... ela parece estar sempre sendo compreensiva com os homens e somente com eles.

Sobre seu próprio relato do fim de seu casamento com Thurston Moore, também foi pra mim uma grande decepção. Thurston traiu Kim, ela rasga o véu do segredo quanto a isso e vai contando como se deteriorou o casamento que era exemplo de amor e companheirismo para os fãs da banda. Porém Kim fala de uma visãoo novamente compassiva com Thurston; ela se refere a amante como "a mulher" o tempo todo e simplesmente "faz a caveira" dela. Pra não virar muito comentarista de programa sobre vida de famoso, não quero me ater a falar o que é culpa de quem em traição. Mas esse detalhe me incomodou bastante, Kim chega a dizer que "a mulher" transformou Thurston em um mentiroso e mais a frente fala ter compaixão dele por ele ter pedido a família.



O feminismo está ai pra gente lutar contra esses pensamentos de senso comum que são passados de geração a geração, pra gente repensar esse lugar da mulher e esse lugar do homem, sempre protegido por essa sociedade machista de qualquer culpa que ele possa ter.

Essa não é a melhor resenha do livro que você possa esperar, nem eu queria falar do livro em si. Mas colocar esse incomodo às claras, porque tem muito marketing em cima de "livro feminista" que tá cheio desses detalhes passando despercebido.

Tento entender porque Kim escolheu essa visão pra colocar em seu livro (porque ela quis, óbvio). Meu incômodo é em resumo por essas passagens se tratarem da repetição de um padrão de pensamento que coloca a mulher vilã versus homem frágil e manipulado.

No entanto, vejo também que Kim decidiu por uma escrita brava, sem maquiagem, vindo de dentro e colocando toda sua fúria nas palavras, os sentimentos todos misturados, a angústia, a mágoa (como sua música, e a isso eu dou uma salva de palmas).



Vejo uma mulher tentando achar explicação, e talvez preferindo acreditar no que é mais fácil: na culpa de uma terceira pessoa, de fora, que ela não conhecia e então podia julgar a vontade. É muito mais difícil admitir que o homem que foi seu companheiro por décadas revelou falhas que você não imaginava. Isso eu falo também de mim, me vi em Kim Gordon, mas me vi querendo ser diferente. As histórias de traição masculina sempre beneficiaram os homens fazendo as mulheres se odiarem e competirem entre si.
É nesse ponto que devemos escolher o caminho mais difícil mesmo.

Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...