15.10.16

O Erotismo - Georges Bataille - Fichamento

Edição de 2013, Editora Autêntica

"O erotismo é um dos aspectos da vida interior do homem. Nisso nos enganamos porque ele procura constantemente fora um objeto de desejo. Mas este objeto responde à interioridade do desejo." pg. 53 

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Paralelamente, eles se impuseram restrições conhecidas como interditos. Essas interdições essencialmente — e certamente — recaíram sobre a atitude para com os mortos. É provável que elas tenham tocado ao mesmo tempo — ou pela mesma época — a atividade sexual. (pg. 54)


O erotismo, eu o disse, é aos meus olhos o desequilíbrio em que o próprio ser se põe conscientemente em questão. Em certo sentido, o ser se perde objetivamente, mas nesse momento o indivíduo identifica-se com o objeto que se perde. Se for preciso, posso dizer que, no erotismo, EU me perco. (pg. 55)

Into One-Another To P.P.P, Berlinde De Bruyckere

Quanto a mim, eu falo da religião de dentro, como um teólogo fala da teologia. (pg. 56)

Exprimo em meu livro uma experiência sem apelar ao que quer que seja de particular, tendo essencialmente a preocupação de comunicar a experiência interior — isto é, a meus olhos, a experiência religiosa — fora das religiões definidas. (pg. 58)

As imagens eróticas, ou religiosas, suscitam essencialmente em uns os comportamentos do interdito, em ou em outros, comportamentos contrários. Os primeiros são tradicionais. Os segundos são comuns, pelo menos sob a forma de uma pretensa volta à natureza, à qual se opunha o interdito. Mas a transgressão difere da "volta à natureza": ela suspende o interdito sem suprimi-lo. Aí esconde-se o
suporte do erotismo e se encontra, ao mesmo tempo , o suporte das religiões. (pg 59/60)

jeff simpson

Devemos inicialmente nos dizer de nossos sentimentos que eles tendem a dar uma feição pessoal a nossos pontos de vista. Mas essa dificuldade é geral; é relativamente simples, a meu ver, examinar em que minha experiência interior coincide com a dos outros, e por que meio ela me faz comunicar com eles. (pg. 60)

De duas coisas, uma: ou o interdito age, desde então a experiência não se realiza ou só se realiza casualmente, permanecendo fora do campo da consciência; ou não age: dos dois casos, este é o mais desfavorável. Com freqüência, para a ciência, o interdito não é justificado, é patológico, é feito da neurose. Ele é, então, conhecido de fora: se mesmo nós temos a sua experiência pessoal, na medida em que o imaginamos doentio, nele vemos um mecanismo exterior que penetra em nossa consciência. Esta maneira de ver não suprime a experiência, mas lhe dá um sentido menor. Assim, o interdito e a transgressão, se são descritos, o são como objetos, o são pelo historiador — ou pelo psiquiatra (ou pelo psicanalista). pg. 60


Death & The Maiden by Takato Yamamoto



12.10.16

o ar que entrar nunca vai ser igual ao que sair
e essa é a tragédia, você pensa
eu queria ter as mãos de Matilde, a mente de Matilde a voz de Matilde
escrever como Matilde
o tempo é aquele cigarro deixando cheiro nas mãos e sujeira nas unhas
o porta-guardanapo está lotado dos poemas de amor que escrevi, todos gastos
cansados
Matilde Capilho
Maltrapilho intento este
te reter na retina e numa transfusão mística te fundir em minha alma
inspiração é um problema
Ar-spiração
aspira tanto que
... não expira
prende o ar mergulha três metros
ar que fica preso no pulmão enevoado
eu sufocava nos concretos da cidade recebendo sol
recebendo sol e queimando estática no mesmo lugar
eu não conseguia me mexer
eu era um dos tijolos cinzas e apodrecia
entre minhas veias corria cimento
eu não precisava respirar
eu só estava ali, existindo
tosse seca que não sai
é só a ensurdecedora agonia de quem não expele a massa translúcida da poesia que engole
a voz embargada agora,
os órgãos esqueceram a coreografia que faz meu corpo funcionar
e sapateiam
os hormônios dos suores como buzinas de alerta
o cor de rosa desconhecido da cara pálida, que cínica.
ela ri, aquele risinho, agora, pós-modernista
Na garganta rouca
fingia ser sexy
é do pulmão que saem meus versos
é meu pulmão que grita e lambe teus dedos sujos de nicotina e outros venenos
eu não morro
é meu pulmão que se espreme todo tentando dizer,
é meu pulmão marítimo que balança ao som do mar de Iracema
é meu pulmão que chora

é meu pulmão que tenta tenta tenta 


Artist: Alyssa Monks - “Vaseline II” - Oil on Linen - 64” x 86” - 2007

Resenha: Seja homem (JJ Bola - Editora Dublinense)

Seja Homem é um livro que busca analisar a construção da masculinidade no patriarcado, discutindo como as práticas do que seria “ser um home...