Exige-se longo tempo e paciência para enterrar uma ausência. Aquele que se foi ocupa todos os vazios. Como água, também a ausência não permite o vácuo. Ela se instala mesmo entre as pausas das palavras.
Sempre via-me como uma promessa em vias de cumpri-se
O amor sobressaltava em mim. Prosperava sem medo e veio sair pelos olhos, nariz, ouvidos, jamais pelas palavras. Investi, sem medida, no verbo amar e me vi mudo. Pela boa o amor me devorava. não projetava outro céu. O amor apaziguava as minhas águas.
a lucidez da solidão enforcava-me, impedindo-me de gritar por ele.
Ao transbordar a vida se faz lágrima e rola salgando o passado morto, mudo, que dorme no canto na boca. Não condimento capaz de temperar o futuro. Só se salga a carne morta. O pranto acontecia pela intensidade dos porquês.
Chorava como se o mar morasse dentro dela. Como marinheiro me senti afogado sob tanto pranto.
Desanuviou em mim a ideia de que as coias existiam alheias a meu desejo. Viver exigia legendar o mundo. Cabia-me o trabalho exaustivo de atribuir sentidos a tudo. Dar sentido é tomar posse dos predicados.
Eu pedalava pelas ruas buscando encontrar-me em cada fim de estrada, no depois da última saudade. Mas também lá eu não estava. A velocidade fortificava a força do vento que varria meus pensamentos, provisoriamente.
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