"Amor nos Tempos de Fúria" - Lawrence Ferlinghetti
Lawrence Ferlinghetti não gosta de ser denominado o último beat, em uma entrevista o fundador da City Lights, poeta e amigo dos famosos beats como Kerouac, Ginsberg e Burroughs explica que sua escrita é diferente de seus companheiros e o que os aproximava era o fato de ele ter ajudado sendo editor deles. Realmente ao ler a prosa de Ferlinghetti é perceptível certa diferente do jeito mais livre de escrever característico da beat generation, principalmente em Amor nos Tempos de Fúria. Apesar de uma pequena diferença de estilo me senti levada pelo romance, tanto que li em uma velocidade não costumeira para mim, gosto de demorar nas leituras e ir sentido tudo aos poucos, mas Lawrence me deu uma "sede pela página seguinte".
O amor entre uma pintora de espírito livre e um burguês idealista que se diz anarquista tem como pano de fundo a época de 68 em Paris, a revolução, as ideologias, os conflitos. Há extensas passagens em que os dois conversam e discutem sobre o que está acontecendo ao redor deles, todas as dúvidas, a inquietação e as divergências políticas em alta na balbúrdia da Paris de 68. Lançado em 1988, "Amor nos tempos de fúria" é um excelente documento sobre esse período e uma instigante leitura sobre um romance nada convencional.
"[...] e ela sem dúvida estava fascinada por ele, mas mantinha certa cautela porque havia algo nele, uma expressão no olhar, uma curiosa circunspecção ou distância, algo insondável e introvertido. De modo que ela não se aproximava muito quando lhe ocorria vê-lo"
"[...] e os dois se sentaram juntos no terraço do Café Mabillon ali perto e pediram café e beberam e ficaram conversando sobre qualquer coisa, como se estivessem juntos desde sempre. Ela sentiu uma afinidade instantânea com ele, quase como se o conhecesse há tempo, em outra vida em outro país [...]"
"No entanto, Julian Mendes disse, foi Albert Camus quem realmente teve um significado importante para ele. Albert Camus quem Julian admirava acima de tudo, em especial seu L'homme Revolté.
- Sim - disse Julian -, acho que eu não seria o que eu sou sem esse livro!"
"Porque há o direito ao grito
"Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?"
"E quero aceitar minha liberdade sem pensar o que muitos acham: que existir é coisas de doido, caso de loucura. Existir não é lógico."
"Por que ela não reage? Cadê um pouco de fibra? Não, ela é doce e obediente."
"Por Deus! Eu me dou melhor com bichos do que com gente."
"Já que sou, o jeito é ser"
"Quanto a mim, autor de uma vida, me dou mal com a repetição: a rotina me afasta de minhas possíveis novidades"
"O cotidiano me aniquila"
"Macabéia nunca tinha tido coragem de ter esperança."
Amor 77
"No entanto, Julian Mendes disse, foi Albert Camus quem realmente teve um significado importante para ele. Albert Camus quem Julian admirava acima de tudo, em especial seu L'homme Revolté.
- Sim - disse Julian -, acho que eu não seria o que eu sou sem esse livro!"
A Hora da Estrela - Clarice Lispector
as fracas aventuras de uma moça numa cidade toda feita contra ela
"É a minha própria dor, eu que carrego o mundo e há falta de felicidade"
"Porque há o direito ao grito
Então eu grito"
"Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa?"
"E quero aceitar minha liberdade sem pensar o que muitos acham: que existir é coisas de doido, caso de loucura. Existir não é lógico."
"Por que ela não reage? Cadê um pouco de fibra? Não, ela é doce e obediente."
"Por Deus! Eu me dou melhor com bichos do que com gente."
"Já que sou, o jeito é ser"
"Quanto a mim, autor de uma vida, me dou mal com a repetição: a rotina me afasta de minhas possíveis novidades"
"O cotidiano me aniquila"
"Macabéia nunca tinha tido coragem de ter esperança."
Um tal Lucas - Júlio Cortázar
Esse é o meu primeiro contado com Cortázar e não teve como escapar não me apaixonar. O realismo fantástico do argentino nos leva a realmente transcender o cotidiano comum, somos apresentados a histórias repletas de absurdo, mas descritas como se fossem corriqueiras, e quando chegamos ao final dos contos já nos vemos dentro de toda aquela névoa surreal acreditando ser a realidade mais plausível de se acontecer. O talento de Cortázar vai em mostrar metaforicamente que esse casos abusurdos estão mais próximos da nossa vida do que pensamos.
Com muita irônica e bom humor os contos cortazarianos são levados por vezes como se fossem matérias jornalísticas, outras como artigos científicos justamente para causa o tom sarcástico falando com seriedade formal que a sociedade usa para disfarçar uma comicidade trágica.
Amor 77
E depois de fazer tudo o que fizeram, levantam-se, tomam banho, cobrem-se de talco, perfumam-se, penteiam-se, vestem-se, e assim progressivamente vão voltando a ser o que não são.
...
Lucas e suas comunicações
Não se trata de escrever para os outros e sim para si mesmo, mas a gente mesmo tem que ser também dos outros; [...]
...
Lucas e seus solilóquios
[...] mas você, você não me dá mais que este vazio de ficar em casa, de saber que tudo se ressuma hostilidade [...]
Aqui um vídeo do próprio Cortázar lendo um trecho do livro