10.11.20

Raízes do Meu Ser - Telma Pacheco Tãmba Tremembé





        A nossa história de vida não começa com a gente, começa antes, é essa a primeira lição que aprendo com Raízes do Meu Ser - de Telma Pacheco Tãmba Tremembé.

Existem infinitas formas de definir a importância de um livro. E eu posso dizer, sem pestanejar, que esse é um dos livros mais importantes da minha estante tamanho é seu poder de resgate histórico, ao confrontar séculos de apagamento dos povos originários do nosso país. 

Telma é cearense, artesã e militante pela causa indígena. Esse é seu livro de estreia, "resultado de dois anos e meio de busca por minhas raízes" ela afirma na quarta capa do livro. Aqui, ela conta sua história começando em 1800 com sua escancha-avó e continua com sua avó materna, sua mãe, seu encontro como pertencente ao povo Tremembé e termina falando de sua filha. É partir de sua história que Telma quer chegar a verdadeira História e ainda faz o pedido: 


"seja indígena a partir de agora, até pelo menos terminar esse livro.". 


A escolha por escrever uma autobiografia como um coletivo é algo emocionante neste livro. Logo no primeiro capítulo ela anuncia contar "a verdadeira história do Brasil", desmontando as imagens que temos da chegada dos portugueses tão enraizadas em nossa memória pelos livros de História da infância. 

"Éramos nômades, andarilhos, para não sugar aquele espaço íamos para os arredores, até a natureza se refazer".

Pensar que essa liberdade foi transformada em exploração pelos colonizadores, pensar que os povos originários não se viam como donos da terra, mas cohabitantes dela, e hoje precisam lutar por um espaço no qual eles cuidavam e cuidam muito melhor que, nós, brancos.

Ao longo do livro, Telma conta diversas estórias de seus familiares e seus costumes com a consciência de que com isso possibilita a identificação pessoal com tantas outras que continuam resistindo e dando continuidade à cultural original.

Telma também denúncia os preconceitos que sofreu na infância e como ela não conseguiu ser registrada na infância com seu nome indígena, ela relembra uma frase do Pajé Luiz Caboco:

"cortaram nossos galhos, mas esqueceram de cortar nossas raízes".

É assim que Telma nos faz pensar nas nossas raízes e esse resgate parte de uma consciência pessoal e social. Telma teve amnésia e as vezes tem lapsos de memória, que ela pensa estar relacionado ao próprio apagamento de seu povo, mas que encontrou na escrita desse livro uma forma de lutar contra isso. 


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