16.11.20

Os poemas-canções de Prelúdio in Blue, de Rafaella Britto




Sendo esse um livro de poemas, talvez eu não pudesse imaginar personagens, cheiros, cenários e sons, elementos fundamentais das narrativas. Prelúdio in Blue, por outro lado, rompe essa dicotomia e explode de suas páginas uma diversidade de personas, aromas, e ambientações, todos envoltos por uma névoa em azul, azul que não é frio, mas morno, como um abrigo. 

O livro de estréia da paulistana Rafaella Britto, publicado em 2020 pela Editora Penalux, é a uma das mais belas homenagens que já vi ao casamento de séculos da música com a poesia, nesse caso, mais precisamente à música de raízes negras. Os versos de Rafaella irrompem em ritmo de samba, blues & jazz, saindo rodopiante das mãoas da poeta, prontos para invadirem à noite. 

Because the night belongs to lovers, diz a música de Patti Smith, e é assim que sinto também os poemas de Prelúdio in Blue, seres pertencentes à noite, e nascidos de um profundo amor. 

"Blue, songs are like tattoo" são os primeiros versos da famosa música Blue da cantora Joni Mitchel, que está na epígrafe do livro. É assim que Rafaella leva essa música e tantas outras que a inspiraram na criação de seus poemas como tatuagem, como parte de sua pele. 

Inclusive, ela afirma em uma entrevista que o livro é uma busca por sua própria identidade como mulher negra, e nesse movimento de elevar grandes artistas negros da música, a escritora constrói em seus poemas-canções um percurso de memória e descoberta. 

Além da música, o cinema é também uma arte bastante referenciada no livro. Rafaella é cofundadora e editora da revista digital Cine Suffragette, dedicada às mulheres e minorias no cinema e constrói cenas que revisitam atmosferas cinematográficas como em Amado Mío: 

"Ama-me para sempre

na ilusão de um velho cinema"

Prelúdio in Blue é um mosaíco poético que chega para o leitor como a descoberta de uma caixa de fotografias antigas, revelando a contrução de uma vida que emana Arte, uma leitura inspiradora que nos faz pensar quanto de nós é constitúido por belos momentos em que alguém decidiu criar algo e colocar no mundo


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