18.2.21

Um útero é do tamanho de um punho - Angélica Freitas



Esse é o segundo livro da gaúcha Angélica Freitas, publicado em 2012 e considerado um clássico da poesia contemporânea. 

Eu conhecia o livro há um tempo, e tinha lido alguns poemas soltos, mas faltava tomar a decisão de comprar o livro e ler do começo ao fim. Sem um motivo muito específico, a não ser um amigo que perguntou se eu conhecia e eu respondi a famosa frase "conheço, mas não li", resolvi comprar no final do ano passado. 

A poesia, para Angélia é uma investigação, os poemas não causa o sentimento que geralmente se procura quando lê-se poesia: identificação, emoção profunda. 

A conexão gerada entre o leitor e a poesia de Freitas é da ordem do humor, mesmo vinda a partir da opressão. Alguns poemas terminam com uma picada de agulha, mas nenhum deles é uma punhalada e isso não significa ser um livro menor. 

"Um útero" vai investigar várias questões da condição da mulher na sociedade, com muito sarcásmo e sagacidade.

Os versos seguem uma estrutura que busca enfileirar os padrões sufocantes do universo feminino. 

Essa repetição tanto marca a sonoridade como dá uma sensação também de cansaço no eu-lírico-mulher. Os poemas surgem em séries, como bonecas-russas, um a partir do outro. 

A poeta, assim, revela com ironia os modelos rídiculos os quais mulheres são ensinadas a existir para sermos "boas", "limpas", "sóbrias". 

No entanto, o livro não traz um tom taciturno de denúncia, e sim humorístico. Cansada de berrar e chorar, uma mulher gargalha, debocha, faz poesia e incomoda. 

Os poemas podem "enganar" e "brincar" com o leitor pela aparência de simplicidade, mas inclusive em entrevista, Angélica fala da importância da prática, do erro, do estudo, da leitura e do treino na escrita. Até para dar esse aspecto de ser à toa é preciso bastante lapidação.

Um útero pode ser do tamanho de um punho, ou de um poema, e um poema pode ser do tamanho da nossa imaginação. 

Um útero é do tamanho de um punho sugere no título encontrar esse lugar de força, de luta do punho cerrado como um símbolo masculino, para se transformar nesse órgão que sangra rindo e esmurrando o mundo ao mesmo tempo. 



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