2.10.20

Chapeuzinho Esfarrapado e outros contos feministas do folclore mundial (Org. Ethel Johnston Phelps)




E se os contos de fadas mais famosos do mundo fossem contos feministas? Como as coisas seriam?

Outubro chegando, mês das crianças e eu vim dar uma dica de um livro infanto-juvenil sensacional.

Comprei esse livro porque estava (e estou) com a ideia de criar uma peça infantil voltada pra discussões feministas e o livro caiu como uma luva! 

Como o título já diz,esta é uma coletânea de contos folclóricos de toda parte do mundo, que fogem de esteriótipos de gênero perpetuados nos contos tradicionais que ouvimos quando criança, e ainda contamos até hoje. 

Em nenhum momento a intenção é cancelar os Irmãos Grimm ou Charles Perrault (rsrs, tem que avisar né); mas sim, trazer histórias que despertem sentimentos de valentia, esperteza, coragem, humor nas meninas e adolescentes. Que façam meninos e rapazes também entenderem o que é respeito e amor, de verdade!

As personagens femininas do livro não estão à espera do príncipe encantado, não são marcantes pela sua extraordinária beleza e não se submetem as regras impostas. São meninas e mulheres que desbravam o mundo, vão em busca de aventuras e lutam em nome de seus próprios ideais e valores. 

Destaco alguns pontos mais legais do livro:

1. São contos do mundo todo: aqui podemos conhecer histórias tradicionais sudanezas, de povos nativos da América, orientais, africanas, entre outros. O que nos coloca em contato com uma diversidade de saberes. E são contos tradicionais, o que nos faz pensar do que porquê não terem ganhado tanta fama como A Bela Adormecidade, entre outros.

2. As mulheres idosas não são bruxas más e recalcadas pela juventude das mais novas: a expressão "conto da carochinha" (sinônimo de mulher mais velha), ganha um novo significado. Aqui, a experiência de mulheres mais velhas são muitas vezes a grande chave para o final feliz, são personagens dotadas de humor, esperteza e sabedoria ancestral. Seus saberes naturais e místicos salvam outros personagens de enrascadas ao invés de serem colocados como algo para fazer o mal.

3. O casamento não é um fim em si mesmo: muitos dos contos terminam sim em casamento, mas nunca é sobre uma princesa que espera passiva o príncipe; ocorre por que ambas partes foram ativas em seus destinos e decidem se unir. Em muitas histórias são as princesas ou camponesas que salvam os homens. E algumas em que eles já são casados e é pela esperteza da mulher que o casal sai de algum conflito. Mas não no sentido de que a mulher fica lá sempre pra salvar o homem, e sim no sentido de união do casal. Em um conto, as mulheres até deixam os seus maridos para viverem sozinhas em outro lugar sem eles!

4. O livro dessacraliza a tradição: na introdução a organizadora afirma que alterou dos contos elementos de violência ou crueldade, assim como ela retirou uma ênfase desnecessária à beleza que não serviam essencialmente para a história. Achei isso muito interessante, até porque todos esses contos de fadas que conhecemos hoje são também adaptações. Nenhum é totalmente "autêntico". Então porque manter para crianças valores que vão perpetuar machismo, violência e preconceitos? 

Por fim, apesar de serem contos de fadas, o livro não quer ser uma fada sensata (rs) e a leitura é sempre aberta para discordâncias. Mas dentro do que se propõe, achei uma iniciativa inovadora e que merece muito destaque! Histórias importam e precisamos pra ontem contar histórias para nossas crianças que revolucionem a visão de mundo estabelecida hoje. 

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